Oito sinais de que os nossos filhos estão a pedir ajuda

Como psicóloga clínica, converso com muitos pais que estão preocupados com o desenvolvimento ou o comportamento dos seus filhos.

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"As crianças passam por períodos difíceis ao longo do seu desenvolvimento e têm de lidar com stress, com perdas ou com mudanças na sua vida às quais têm de se adaptar" Fermin Rodriguez Penelas/Unsplash

Enquanto pais queremos sempre o melhor para os nossos filhos. Se se magoar no recreio e partir um braço, provavelmente vamos directos para as urgências. No entanto, se o nosso filho começar a mostrar-se ansioso ou triste, pode não ser fácil admitir que precisamos de pedir ajuda ou até mesmo saber a quem recorrer.

Como psicóloga clínica, converso com muitos pais que estão preocupados com o desenvolvimento ou o comportamento dos seus filhos. E muitos revelam a mesma questão: o que valorizar, quando me devo preocupar, como saber se é só uma fase? Nem sempre é fácil distinguir os comportamentos que devem ser motivo de preocupação dos que não o são.

Assim como nós, adultos, as crianças passam por períodos difíceis ao longo do seu desenvolvimento e têm de lidar com stress, com perdas ou com mudanças na sua vida às quais têm de se adaptar. Nesses momentos podem precisar de ajuda, orientação ou apenas alguém que seja capaz de se conectar com eles e os consiga escutar. Esses pedidos de ajuda raramente vêm sob a forma de uma verbalização do tipo “mãe, preciso de ajuda”. Regra geral aparecem “disfarçados” de comportamentos que podem até suscitar algum desconcerto nos pais. Se não escutados, estes pedidos de ajuda vão normalmente escalando até situações dramáticas.

Aqui ficam alguns comportamentos a que devemos dar atenção:

Mudanças nos hábitos alimentares ou padrão de sono

Se os hábitos alimentares ou de sono do seu filho se alteraram drasticamente, não ignore essas mudanças. Dormir demais ou não dormir, deixar repentinamente de comer ou criar novos hábitos alimentares repentinos pode sinalizar depressão, ansiedade ou até mesmo distúrbios de sono ou alimentares.

Regressão no desenvolvimento

Dos mais pequeninos aos mais crescidos observamos regressões (birras, medo excessivo, maior dependência, xixi na cama, etc.) nos seus comportamentos como reacção normal face a grandes mudanças na vida (nascimento de um novo irmão, perda de um familiar ou de um animal de estimação, divórcio dos pais, entre outros). No entanto, se estas regressões não estiverem aparentemente ligadas com nenhum destes factores podem ser um sinal de alerta.

Comportamento disruptivo ou mau comportamento

Muitas crianças “mostram” o seu pedido de ajuda tornando-se desafiantes ou “mal comportadas” na escola ou na família. Podem também envolver-se em conflitos com os amigos. De forma geral estes comportamentos negativos nada têm a ver com disciplina, sendo efectivamente uma forma “estranha” de a criança pedir ajuda.

Sentimentos de extrema tristeza ou ansiedade

Se uma criança parecer estranhamente ansiosa, triste ou irritada por um longo período de tempo e isso a estiver a impedir de realizar as suas tarefas do dia-a-dia (ou se ela as realizar com sofrimento), isso é um sinal de que precisa de ajuda.

Isolamento social

Afastar-se dos seus colegas, ter dificuldade em manter relações com eles ou timidez extrema pode ser sinal de que se está a passar algo mais. Em particular, se este comportamento representar uma grande alteração na sua personalidade habitual pode ser um sinal de ansiedade ou depressão.

Comportamentos auto-agressivos

A auto-agressão pode apresentar-se de várias formas, variando também com a idade. Os mais pequenos tendem a beliscar-se, a arranhar-se ou a magoar-se indo contras as coisas ou caindo. Pré-adolescentes e adolescentes têm mais tendência a adoptarem comportamentos de pequenos cortes, cravar as unhas na pele ou fazer queimaduras. Provocar dor a si mesmo mascara uma dor e sofrimentos internos maiores e difíceis de verbalizar. A ajuda de um psicólogo clínico pode fazer muita diferença nessas situações.

Falar sobre a morte com frequência

É normal que as crianças explorem o conceito de morte e falem sobre isso com curiosidade, principalmente após a perda de um animal de estimação ou membro da família. Quando este tema se torna demasiado recorrente (falar acerca da sua própria morte ou de matar alguém), mesmo que seja em tom de piada, merece procurar ajuda de imediato. Até porque mesmo que esses comentários não signifiquem necessariamente que eles querem morrer, são uma indicação de sofrimento emocional.

Aumento das queixas físicas

Muitas vezes as crianças demonstram o seu sofrimento psíquico sob forma de sintomas físicos, sendo os mais comuns a dor de estômago, a dor de cabeça e os estados febris. Se estes sintomas continuam após se ter descartado alguma causa física, o seu filho está a pedir a sua ajuda.

Estar atento aos comportamentos dos nossos filhos é importante, mas ainda mais importante é prevenir estas situações através da nossa relação com eles, permitindo que desde pequeninos nos procurem para falar de si e das suas preocupações, sem receio de serem julgados. É também importante dar-lhes ao longo do desenvolvimento ferramentas para lidarem de forma saudável com situações mais desafiadoras e stressantes que a vida inevitavelmente lhes trará.

A orientação de um psicólogo clínico pediátrico pode ser fundamental e incrivelmente útil, já que as sessões de psicoterapia oferecem às crianças e adolescentes, bem como aos pais, um espaço seguro onde podem ventilar as suas angústias, partilhar os seus receios e encontrar um guia para os ajudar a ultrapassar estes desafios.

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