Acesso à medicação que previne VIH alargado aos cuidados primários e farmácias

Portaria publicada esta-segunda-feira estabelece um regime excepcional de comparticipação de 69% em medicamentos cujo preço de venda seja igual ou inferior a 40 euros por embalagem.

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O acesso à medicação poderá passar a ser garantido também por algumas organizações comunitárias Daniel Rocha (arquivo)
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A prescrição do medicamento usado para prevenir a infecção por VIH vai ser alargada aos cuidados primários, organizações comunitárias, consultas realizadas nos sectores social e privado, e podem ser dispensados em farmácias comunitárias. A medida, que já tinha sido anunciada pelo Ministério da Saúde, foi publicada esta segunda-feira em Diário da República, através da portaria que "define os procedimentos a adoptar com vista ao alargamento do acesso à Profilaxia Pré-Exposição ao VIH (PrEP) e estabelece um regime excepcional de comparticipação para os medicamentos destinados à PrEP".

O Ministério da Saúde (MS) adianta em comunicado que o diploma vem alterar a forma de prescrição e dispensa dos medicamentos destinados a prevenir a infecção por VIH e estabelecer um regime excepcional de comparticipação de 69% do preço de venda ao público praticado no Serviço Nacional de Saúde (SNS), sendo que um dos critérios de inclusão é que o preço de venda ao público praticado no SNS seja igual ou inferior a 40 euros por embalagem de 30 comprimidos.

Até aqui, a prescrição de PrEP era realizada apenas em consulta de especialidade hospitalar, com dispensa nos serviços farmacêuticos dos hospitais do Serviço Nacional de Saúde.

Segundo a portaria, vai continuar a ser possível ter acesso à PrEP, de forma gratuita, nas farmácias dos hospitais do SNS, através da prescrição nas consultas de especialidade da rede hospitalar, tal como acontecia até agora, e em iniciativas dirigidas a populações chave, nos cuidados de saúde primários e associações comunitárias.

"Este novo regime introduz como novidade, a possibilidade de estes medicamentos serem prescritos por um conjunto de especialidades médicas - dermatovenereologia, doenças infecciosas, medicina geral e familiar, medicina interna, pediatria e saúde pública -, quer no âmbito dos cuidados de saúde primários do SNS, quer em consultórios, unidades de saúde e organizações de base comunitária não integradas no SNS", realça o MS.

Os medicamentos passam também a poder ser levantados em farmácias comunitárias, permitindo ao utente um acesso mais simplificado e uma maior comodidade de horários.

De acordo com a portaria, as farmácias apenas poderão dispensar, por acto, um máximo de duas embalagens, e um máximo de sete embalagens a cada seis meses.

Os medicamentos com indicação para a PrEP oral que beneficiam do regime excepcional de comparticipação correspondem à denominação comum internacional (DCI) Emtricitabina + Tenofovir.

"A PrEP constitui hoje, indiscutivelmente, uma das abordagens a disponibilizar no contexto de uma estratégia de prevenção abrangente, de forma a contribuir para a redução do número de novas infecções por VIH em Portugal, o que justifica, per si, a eliminação das barreiras e o alargamento do acesso à PrEP às pessoas em maior risco de infecção por VIH", salienta o MS, para sublinhar que a definição dos novos procedimentos será adoptada no âmbito do Programa Nacional para as Infecções Sexualmente Transmissíveis e Infecção pelo VIH da Direcção-Geral da Saúde.

O Ministério da Saúde salienta ainda que, "embora Portugal tenha assistido a uma diminuição considerável da incidência da infecção por VIH, continua a apresentar indicadores que evidenciam a necessidade de reforçar a aposta em estratégias de prevenção que acelerem a redução do número de novas infecções".

Segundo o Relatório Infecção por VIH em Portugal 2023, a PrEP registou um aumento significativo, em 2022, no número de pessoas abrangidas por "esta importante estratégia de prevenção", atingindo-se um total de cerca de 4500 pessoas, maioritariamente homens e que referem práticas sexuais com outros homens.

Portugal registou 804 novos casos de infecção por VIH no ano passado, confirmando uma tendência decrescente que se verifica desde 2000, segundo o relatório.

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