Guterres avisa as indústrias fósseis: “O vosso papel está a tornar-se obsoleto”

António Guterres e o rei Carlos III discursaram esta manhã no Dubai, no segundo dia da cimeira do clima da ONU que decorre até dia 12 de Dezembro. O mote foi o mesmo: é preciso agir.

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O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, e o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, participam esta sexta-feira na Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP28) no Dubai, Emirados Árabes Unidos Reuters/AMR ALFIKY
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O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, afirmou esta sexta-feira, na cimeira COP28, no Dubai, que a queima de combustíveis fósseis tem de ser totalmente suspensa e que uma mera redução da sua utilização ou “abatimento” das emissões não serão suficientes para travar o aquecimento global.

“Não podemos salvar um planeta em chamas com uma mangueira de incêndio de combustíveis fósseis”, afirmou António Guterres perante os líderes mundiais. “O caos climático está a aumentar as chamas da injustiça.

“Precisamos de liderança, cooperação e acção política. E precisamos disso agora”, sublinhou Guterres, apelando a uma decisão final que preveja, finalmente, o fim dos combustíveis fósseis: “O limite de 1,5 graus só é possível se deixarmos de queimar todos os combustíveis fósseis. Não [apenas] reduzir, não [apenas] abater”.

O secretário-geral da ONU apelou ainda às empresas de combustíveis fósseis para investirem numa transição para as fontes de energia renováveis. “Líderes das empresas de combustíveis fósseis, o vosso papel está a tornar-se obsoleto. O caminho para a sustentabilidade é também o único viável economicamente”, afirmou.

Guterres chamou a atenção em particular dos governos do G20, “que representa 80% das emissões globais”: “Apelo os governos a ajudarem a indústria a fazer a escolha certa — regulamentando, legislando, colocando um preço justo no carbono, acabando com os subsídios aos combustíveis fósseis e adoptando um imposto sobre lucros inesperados”, afirmou, ecoando os apelos de várias associações ambientalistas.

“A Terra não nos pertence"

Na cerimónia que iniciou a Cimeira da Acção Climática, que decorre esta sexta-feira e sábado durante a COP28, o Presidente dos Emirados Árabes Unidos, Mohammed Bin Zayed, anunciou a criação de um fundo de 30 mil milhões de dólares para colmatar o défice de financiamento climático.

O fundo tem como objectivo estimular 250 mil milhões de dólares de investimento até 2030, afirmou o chefe de Estado. Na quinta-feira, os EAU também anunciaram que iriam investir 100 milhões de dólares no fundo de perdas e danos, que pretende apoiar países a recuperar de catástrofes naturais causadas pelas alterações climáticas.

Também o rei Carlos III tomou a palavra na cerimónia que abriu o segmento da COP28 que conta com a presença de líderes mundiais. Há muitos anos conhecido também pela sua acção ambientalista, foi este o seu primeiro grande discurso sobre o clima como monarca britânico.

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O rei Carlos III posa para uma fotografia de família durante a Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP28) no Dubai, Emirados Árabes Unidos, a 1 de dezembro de 2023 REUTERS/Amr Alfiky

Carlos III começou por recordar que também falou na abertura da COP21, em Paris, ainda enquanto príncipe herdeiro do Reino Unido, manifestando agora o desejo de que a COP28 tenha uma conclusão igualmente auspiciosa. Contudo, alertou, “estamos a levar a cabo uma experiência perigosa”, ao alterar de forma drástica o ambiente no nosso planeta. “A menos que reparemos e restauremos rapidamente a economia única da natureza, baseada na harmonia e no equilíbrio, a nossa própria economia e a nossa capacidade de sobrevivência estarão em perigo”, afirmou.

“A mudança chegará ao trabalharmos juntos”, insistiu ainda, ecoando uma das ideias mais ouvidas nos palcos da COP28. “A Terra não nos pertence. Nós pertencemos à Terra”, concluiu o monarca.

O PÚBLICO viajou a convite da Fundação Oceano Azul.

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