25 de Novembro Sempre

Hoje – há sempre um hoje – muitos tentam negar a importância do 25 de Novembro. Curiosamente, alguns desses estiveram do lado democrático da barricada, mas comportam-se como “vencidos da vida”.

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O 25 de Novembro de 1975 foi um travão acionado num momento em que Portugal corria o risco de transitar de uma ditadura salazarista para uma castrista.

Tínhamos saído do longo período ditatorial, conhecido por Estado Novo, e todos os que saudaram a queda do regime queriam transitar dali para outro tipo de regime. O problema é que não havia um consenso sobre o ponto de chegada.

Em praticamente todas as revoluções, quem as faz acaba por querer ser dono da situação. Serão raríssimos os casos em que quem faz a revolução sai imediatamente de cena e entrega o poder àqueles em nome de quem afirmou ter feito a revolução.

O 25 de Abril, exceção feita a militares como Salgueiro Maia, não fugiu à regra. O Movimento das Forças Armadas – a cuja determinação Portugal muito deve – demorava em entregar aos cidadãos a condução do seu destino. Quis tutelar a situação, mesmo quando já havia partidos, Parlamento eleito, Governo em funções.

Os militares não só não regressaram logo aos quartéis, como muitos eram adeptos das “democracias” comunistas de tipo cubano. Essa aspiração totalitarista de vários militares levou Portugal a viver um “Verão Quente”: ocupações e nacionalizações; domínio das ruas por uma violenta extrema-esquerda; brutalidade do Copcon [Comando Operacional do Continente]; sedes de todos os espectros partidários vandalizadas de norte a sul. O CDS-PP que o diga: basta lembrar os mais célebres momentos do I Congresso interrompido no Palácio de Cristal ou do Comício da Juventude Centrista no São Luiz (seguido de uma invasão à sede).

Muitos dos que derrubaram o anterior regime, porque este era autoritário, eram agora agentes ou autores morais de cercos à Assembleia da República, mandados de detenção em branco, censura na imprensa, entre outros avanços para uma “sovietização” do país.

E tudo isto foi o “antes” do 25 de Novembro. O “durante” começa com a sublevação das forças pára-quedistas. Foram horas tensas e cerradas. Não é possível falar delas sem recordar e enaltecer a coragem de todos os militares que agiram para neutralizar essa intentona de uma parte dos militares.

O país deve a democracia aos comandos liderados pelo então tenente-coronel Ramalho Eanes e conduzidos pelo major Jaime Neves. Foram estes os homens que neutralizaram os sublevados em Monsanto. O país deve também muito à frieza do Grupo dos Nove. Foi esse sangue-frio que permitiu gerir a instável situação e negociar com as várias partes envolvidas no golpe em curso.

Apesar da gestão deste “durante” ter sido bem-sucedida, com ponderação e sem violência, não foi infelizmente isenta de dor. Importa não esquecer e prestar homenagem aos dois comandos (tenente José Coimbra e furriel Joaquim Pires) que perderam a vida no cerco às instalações da Polícia Militar, no dia seguinte à sublevação.

A seguir ao tal “durante” muito tenso, o “depois do 25 de Novembro” foi marcado pela pacificação da sociedade portuguesa. Percebeu-se que o caminho para uma plena democratização não tinha possibilidade de recuos.

Se não fosse essa pacificação concretizada pelo 25 de Novembro, o país corria seriamente o risco de ser levado para uma guerra civil. Assim, em vez de um conflito agudo, esta importante efeméride simboliza o ponto final na transição de regime, que teve jamais se pode negar início com o grito de Salgueiro Maia em Santarém.

A pacificação permitiu acabar com o clima de turbulência política e social e com a agitação generalizada nas ruas – normais em qualquer momento de transição de regime.

E se Abril foi o nosso amanhecer democrático a «madrugada» da nossa democracia então Novembro foi efetivamente o «dia inteiro e limpo» do novo regime, recordando palavras de Sophia de Mello Breyner, que o tempo nunca apagará.

Todos viemos a lucrar com a bem-sucedida transição de regime que o 25 de Novembro significa. Uma transição que abriu caminho para o desenvolvimento a sério da democracia portuguesa. Foi depois do 25 de Novembro que se concretizaram em Portugal as primeiras eleições legislativas (pós-Constituinte), autárquicas e presidenciais. Daí em diante, o regime democrático consolidar-se-ia com o fim do Conselho da Revolução pela mão também do CDS e com as decisivas revisões constitucionais que o liberalizaram, aproximando dos seus pares ocidentais.

Hoje há sempre um hoje muitos tentam negar a importância do 25 de Novembro. Curiosamente, alguns desses estiveram do lado democrático da barricada, outros com especiais responsabilidades no Parlamento não, mas comportam-se como “vencidos da vida”.

Porém, cá estará sempre o CDS-PP para recordar e as novas gerações da Juventude Popular para avivar ainda que alguns socialistas as queiram agora esquecer as relevantes palavras de Mário Soares: “O 25 de Novembro aconteceu para que Portugal não fosse uma Cuba do Ocidente”.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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