O que é o hidrogénio verde? Para que precisamos dele?

O hidrogénio verde é uma peça importante no mix da energia limpa e Portugal quer produzir hidrogénio em grande escala recorrendo à energia renovável solar e eólica. Mas também há obstáculos.

Foto
A ambição dos governos de Portugal e Espanha é que a Península Ibérica possa vir a tornar-se o líder europeu de produção de hidrogénio verde a longo prazo
Ouça este artigo
00:00
05:35

O hidrogénio (H) verde tem sido muito referido como uma prometedora fonte de energia limpa tanto para gerar calor, como para produzir electricidade. Com a guerra na Ucrânia e a necessidade de a Europa se tornar independente a nível energético, a aposta no hidrogénio verde aumentou.

Actualmente, a ambição dos governos de Portugal e Espanha é que a Península Ibérica possa vir a tornar-se o líder europeu de produção de hidrogénio verde a longo prazo, esperando-se que seja possível produzir hidrogénio em grande escala e a preços mais baixos graças à utilização de energia renovável no processo.

Contudo, o processo Operação Influencer veio mostrar que ainda é preciso limar arestas para permitir que os processos de autorização e desenvolvimento destes projectos sejam feitos de forma célere - mas respeitando precauções ambientais - e, acima de tudo, transparente.

O que é o hidrogénio verde?

O hidrogénio é “verde” quando a sua produção industrial utiliza electricidade proveniente de fontes de energia renováveis, como a solar ou a eólica, tendo assim emissões de carbono e de outros gases com efeito de estufa reduzidas ou mesmo inexistentes na sua produção. Há outros tipos de hidrogénio: turquesa, azul, rosa cinzento e branco. As cores associadas a tipos diferentes de hidrogénio sinalizam a sua origem, a energia usada para ser produzido e se provoca poluição, como a emissão de CO2.

Em 2021, apenas 0,04% das 94 milhões de toneladas de hidrogénio (Mt de H2) produzido em todo o mundo era hidrogénio verde. A maioria do hidrogénio (62%) foi produzida a partir de gás natural sem haver captura do CO2. De acordo com o relatório de 2022 sobre hidrogénio da Agência Internacional de Energia, os países comprometeram-se que em 2030 iriam produzir a nível mundial cerca de 14Mt de H2 a partir da electrólise, o que equivale a quase 15% da produção de hidrogénio de 2021.

Precisamos mesmo de hidrogénio verde?

A transição energética terá que passar por apostas em diferentes soluções, e não apenas uma, mas o hidrogénio verde está entre as possibilidades promissoras no mix de energias limpas. Na audiência desta segunda-feira na Assembleia da República, o ministro do Ambiente e Acção Climática, Duarte Cordeiro, recordou que projectos estratégicos como o leilão do hidrogénio e do biometano são fundamentais na transição, já que “nem tudo é electrificável e continua a haver uma dependência da utilização de gases na nossa economia”. “É importante que os projectos em curso não parem”, notou o governante, referindo-se ainda a planos como o leilão de energia eólica offshore e insistindo na necessidade de “criar confiança para a descarbonização da economia”.

Como pode ser usado o hidrogénio?

Espera-se que o hidrogénio venha substituir fontes de energia como o gás natural ou outros combustíveis fósseis em actividades que precisem de fontes mais intensivas de energia. O hidrogénio é uma das soluções a serem ponderadas, por exemplo, para o sector dos transportes pesados e de longa distância, como camiões, barcos e aviões; para o sector industrial, como fonte de energia de indústrias de alta temperatura (vidro, cerâmica, ferro e aço) e indústria química associada aos fertilizantes, e também como armazenamento de energia de longa duração.

Será ainda necessário fazer alterações na rede de gasodutos para permitir o seu transporte.

E não há riscos para o ambiente?

É uma preocupação sempre presente. A ocupação do solo com painéis fotovoltaicos, além de alterar por completo a paisagem circundante, tem impactos a nível da biodiversidade. O impacto desta nova indústria ainda está por avaliar do ponto de vista social, histórico e económico.

Como é que Portugal quer entrar nisto?

Recentemente, o secretário de Estado dos Assuntos Europeus, Tiago Antunes, adiantou que “não há apenas um projecto de hidrogénio verde, há vários projectos”, inseridos numa “aposta estratégica do Governo no desenvolvimento do hidrogénio verde”.

Em Sines, epicentro da polémica Operação Influencer, tem havido uma aposta para se criar um centro de produção de hidrogénio verde, mas tem havido também projectos a avançar em localizações como Póvoa de Santa Iria, no concelho de Vila Franca de Xira, que já tem pronto um parque fotovoltaico para a produção de hidrogénio verde.

De acordo com o ministro do Ambiente e da Acção Climática, Duarte Cordeiro, existem 25 contratos assinados no âmbito do apoio à produção de hidrogénio renovável e outros gases renováveis (como o biometano), atribuído pelo Fundo Ambiental.

Que projecto está a ser investigado?

O projecto para criar um consórcio nacional para a produção de hidrogénio verde que foi um dos catalisadores da investigação por alegados crimes de corrupção e tráfico de influências que levou ao pedido de demissão do primeiro-ministro não chegou a sair do papel. O H2Sines começou por ser um acordo entre várias empresas, como a EDP, a Galp, a REN, a Martifer e a Vestas, para avaliar a produção de hidrogénio verde em larga escala em Sines, em terrenos da AICEP, mas quase um ano depois, as empresas continuavam sem uma decisão que marcasse o fim do acordo ou o avanço para a fase seguinte de concretização do consórcio.

O objectivo era o desenvolvimento de um gigawatt de potência de produção de hidrogénio através de electrólise da água com recurso à energia solar, servindo como combustível para a refinaria da Galp e outras indústrias e, eventualmente, gerando um excedente para exportação. Mas o empreendimento acabou por se revelar demasiado ambicioso e com pouca viabilidade económica.

Agora, conhecem-se as suspeitas do Ministério Público de que o então secretário de Estado da Energia João Galamba e o ex-ministro do Ambiente João Pedro Matos Fernandes impuseram ao Resilient Group, do empresário holandês Marc Rechter, a participação da REN, EDP e Galp nesse projecto de produção de hidrogénio verde, que Rechter havia baptizado como “Green Flamingo”. Com Ana Brito, Nicolau Ferreira e Ruben Martins