É possível tornar a relojoaria mais acessível, acredita a Frederique Constant há 35 anos

A premissa da manufactura suíça é produzir relógios de alta qualidade, mas em maior quantidade do que os concorrentes, para reduzir o custo das peças. Este ano, apresentaram o primeiro turbilhão.

impar,joalharia,consumo,moda,design,suica,
Fotogaleria
A manufactura da Frederique Constant fica em Genebra ERIC ROSSIER
impar,joalharia,consumo,moda,design,suica,
Fotogaleria
Os mecanismos são desenvolvidos dentro de portas DR
impar,joalharia,consumo,moda,design,suica,
Fotogaleria
Frederique Constant DR

Aletta e Peter Stas foram ambiciosos quando, em 1988, se propuseram a criar uma marca acessível de relojoaria. A ideia para a Frederique Constant era competir em qualidade com as grandes marcas de luxo, como a Rolex ou a Patek Philip, mas noutra gama de preço. “Há muita pressão”, reconhece o CEO, Niels Eggerding, que esteve em Lisboa, a propósito do 35.º aniversário da relojoeira.

A Suíça é a meca da relojoaria, mas nem foi lá que nasceu a marca baptizada a partir dos avós dos neerlandeses Aletta e Peter. Em 1988, o casal vivia em Hong Kong e, confrontados com o preço alto das marcas relojoeiras, decidiram criar os seus primeiros relógios. O primeiro modelo só havia de ser lançado cinco anos depois, montado com um mecanismo suíço, mas comprado a outra manufactura.

É um mercado altamente competitivo e, em 1997, os empresários acabaram por ter de se mudar para a Suíça, para estar mais perto de onde tudo acontece e onde estão as manufacturas centenárias. Claro que a idade os põe em desvantagem, admite Niels Eggerding, ao PÚBLICO, mas assegura que também lhe dá “muita liberdade”. Esclarece: “Dá-nos vantagem de ir mais rápido e fazer as coisas de forma diferente.”

Fizeram de tal maneira “diferente” que acreditam ter criado uma nova categoria na relojoaria, com poucos concorrentes” na Suíça. “É o chamado ‘luxo acessível’, entre os mil e cinco mil euros”, adianta. Só conseguem fazê-lo graças à quantidade da produção ─ número que se recusam a revelar ─, “com menos margem, mas grande qualidade”. São milhares de relógios produzidos todos os anos, confirma Eggerding, e isso permite orientar o negócio para o volume – ou seja, comprando em maior quantidade, os componentes tornam-se mais económicos.

Além disso, isto vem de outra “filosofia” da marca. “Não temos o Leonardo DiCaprio ou a Cameron Diaz como embaixadores. Adoraria, mas isso custaria milhões”, argumenta o CEO, à frente dos destinos da marca há cinco anos. Os “milhões” são gastos “para manter um preço justo pelos relógios”. E assevera: “Todo o modelo de negócio, entre os custos e receitas, está orientado para este propósito. Isso torna-nos únicos.”

Em 2004, a marca sofreu as dores de crescimento e as manufacturas as quais compravam os movimentos deixaram de conseguir dar resposta. “Se continuássemos assim, eram elas a decidir o quanto vendíamos”, observa. Como resultado, foram “forçados” a começar a criar movimentos próprios. “Foi isso que nos ajudou a crescer”, defende, lembrando também a importância da compra da marca pelo grupo japonês Citizen.

Foto
DR
Foto
Niels Eggerding DR

Mais mecânicos

Não que os movimentos, apesar de competentes, sejam o segredo do negócio, revela. “É o mesmo movimento que muitos outros, mas fazemo-lo à nossa maneira, de forma simples. Quantos mais componentes tiver, mais frágil é.” O investimento foi, sim, canalizado para outras complicações feitas também na manufactura, nos arredores de Genebra, por 25 relojoeiros. De destacar, o calendário perpétuo ou o turbilhão apresentado na feira Watches&Wonders deste ano. O sucesso foi tal que já há lista de espera para ter um destes relógios.

Foi um marcar de posição, admite Niels Eggerding. “Foi como mostrar ao mundo: nós conseguimos fazê-los. Vocês fazem um turbilhão por 50 ou 100 mil euros e nós também o fazemos, mas, de maneira mais inteligente, por 15 mil euros ─ uma fracção do preço”, declara. Foi também uma estratégia para “elevar” a Frederique Constant a outro estatuto.

A ideia, explica, é ter peças de dois níveis diferentes, jogando com volume de produção e o segmento premium: relógios de nível de entrada, de quartzo ou automáticos com poucas complicações; e peças mais requintadas, como o turbilhão ou alguns relógios da linha High Life. “No próximo ano, vamos começar uma mudança em todos os calibres com mais tempo de reserva de marcha”, avança, adiantando que isso também se vai reflectir nos preços, que vão subir, mas mantendo-se na linha acessível.

E o futuro, acredita, está na aposta dos relógios mecânicos, em prol dos movimentos em quartzo ─ actualmente só correspondem a 30% dos modelos da marca. Chegaram a lançar um modelo híbrido, entre o relógio inteligente e a relojoaria de manufactura, mas não funcionou. “Não acredito nos relógios conectados. Não conseguimos conquistar o vendedor”, lamenta.

Foto
DR

Quem prefere um relógio conectado, lembra, não precisa de o comprar uma marca de relojoaria, porque pode fazê-lo, por menos dinheiro, a quem se especializa nesse mercado. Como tal, é na relojoaria tradicional que as marcas suíças se podem diferenciar, incluindo a Frederique Constant. “Usar um relógio actualmente é um marcar de posição, uma atitude. É mostrar que atingimos alguma coisa”, declara.

Os clientes, observa, compram os relógios com o seu próprio dinheiro, para mostrar que são independentes. É também o perfil do consumidor da marca em Portugal. Não é um dos mercados líderes ─ com apenas 16 pontos de venda entre os mais de dois mil mundiais ─, mas tem uma importância estratégica, “para chegar ao Brasil” e como ponto de compra para outras nacionalidades, “franceses, ingleses e holandeses”.

É “um mercado de transição” para mais altos voos, com vista a uma internacionalização mais consolidada e à inovação, sem descurar na tradição. “Queremos expandir mais e duplicar a manufactura, bem como a produção, nos próximos dois ou três anos. Estou cheio de energia, ainda não acabei”,diz, optimista, Niels Eggerding.

Sugerir correcção
Ler 2 comentários