António Chainho encerra ano de celebrações com um livro e um concerto no CCB

Depois de percorrer vários palcos, O Abraço da Guitarra chega esta sexta-feira ao CCB, em Lisboa. Com António Chainho, na guitarra portuguesa, estarão vários convidados.

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Antonio Chainho em 2023 Nuno Ferreira Santos
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Para o mestre da guitarra portuguesa António Chainho, 2023 tem sido um ano em cheio: completou 85 anos em Janeiro, lançou em Março um novo disco, O Abraço da Guitarra, e percorreu com ele vários palcos (Museu do Fado, Arcos de Valdevez, Setúbal, Oeiras, Ponte de Lima, Santiago do Cacém), numa digressão que termina esta sexta-feira.

O concerto será em Lisboa, no Grande Auditório do CCB, às 21h, na companhia de vários músicos que com ele têm trabalhado: Ciro Bertini (baixo acústico e acordeão), Tiago Oliveira (viola de fado), o quarteto de cordas Naked Lunch (Francisco Ramos, violino; Fernando Sá, violino; João Paulo Gaspar, viola; e Tiago Rosa, violoncelo) e, como convidados especiais, Marta Pereira da Costa, José Manuel Neto e Francisco Vaz (todos na guitarra portuguesa), Marco Oliveira (viola de fado) e Pedro Jóia (guitarra clássica).

No mesmo dia, e em exclusivo para os espectadores do concerto no CCB, será feito o pré-lançamento do livro biográfico O Abraço da Guitarra, Histórias e Memórias de António Chainho, da autoria da jornalista Moema Silva. O lançamento oficial desde livro deverá ocorrer no primeiro trimestre de 2024. Inserido nas comemorações dos 85 anos de Chainho, está ainda programado um outro livro, um romance inspirado em António Chainho, pelo escritor Afonso Cruz, e ainda um documentário cinematográfico sobre a vida e obra do mestre guitarrista, a cargo do realizador Tiago Figueiredo, que tem vindo a ilustrar em vídeo, nos concertos, esta “viagem” musical de António Chainho em 2023.

O disco O Abraço da Guitarra, que tem servido de base aos concertos de António Chainho (embora estes sejam também uma viagem pela sua carreira e obra), é, como o próprio já o disse, uma homenagem aos guitarristas que o inspiraram e também a vários acompanhantes, abrangendo nomes que vão de José Nunes, Carvalhinho, Armandinho e Raul Nery, até “violas” com os quais partilhou ou partilha o palco, como José Elmiro, Carlos Silva, Carlos Manuel Proença ou Tiago Oliveira. “Sempre pensei que um dia gostava de fazer um trabalho a homenagear aqueles que foram os meus professores através da rádio”, disse ele ao PÚBLICO em Janeiro, justificando assim este seu novo trabalho: “É um agradecimento que faço a esses grandes guitarristas da época.”

À laia de intróito, António Chainho publicou logo no início do libreto do disco um texto em que explica o sentido que lhe quis dar: “Este disco é um sentido tributo a todos os que sonham e acreditam, ao imenso talento de cada um dos artistas com que tive a honra de partilhar o palco, à entrega e paixão pela vida e às viagens e paisagens musicais que me fizeram homem, sempre movido pelo eterno fascínio e constante desassossego que este instrumento o – tão parte de mim – me desperta em cada reencontro.” E, a terminar, deixa este elogio ao instrumento pelo qual se apaixonou: “Tornou-se a minha voz, a minha língua, a minha mais pura e sincera forma de expressão. É entre as suas cordas, acordes, harmonias e desafios que digo saudade, felicidade, serenidade e acima de tudo, gratidão. Esta imensa gratidão que aqui vos deixo num abraço dito à guitarra.”

Dividido meio por meio, entre temas de Chainho e outros dos guitarristas que ele quis homenagear, destes gravou Meditando, Ciganita (ambos de Armandinho), Confidências (Raul Nery, Fontes Rocha), Variações em Sol (José Nunes), Dona Filipa (José Nunes) e Quando o meu filho nasceu (Jaime Santos), dedicando-o também aos seus filhos. Isto a par de um tema tradicional, Variações sobre Fado Menor em Sol. De sua autoria, além do tema que abre o disco, Esta saudade (composto em parceria com dois dos músicos com quem tem trabalhado, Ciro Bertino e Tiago Oliveira), o disco inclui Chão do destino, Chuva no portal (inspirado num poema de Lídia Jorge), Adoração (aos meus netos), Uma pequenina luz, Fado moderno XXI (recriação de um tema originalmente gravado no disco Lisboa-Rio, de 2000, escrito em parceria com o compositor brasileiro Celso Fonseca, que também co-produziu esse disco) e Rotas marítimas 2023, que Chainho explica assim no disco: “De um grande número de composições anteriormente gravadas, decidi revisitar para este novo trabalho as minhas rotas marítimas. Porque a viagem e descoberta continuam, mesmo por ‘mares’ já antes ‘navegados’.”

Alentejano, nascido em São Francisco da Serra, Santiago do Cacém, em 27 de Janeiro de 1938, António Chainho deu a volta ao mundo a acompanhar fadistas (Ada de Castro, Tereza Tarouca, Carlos do Carmo, Frei Hermano da Câmara, Hermínia Silva, Maria Teresa de Noronha, António Mourão, entre outros), cantoras como as brasileiras Gal Costa e Fafá de Belém, a espanhola Maria Dolores Pradera, a japonesa Sakui Kubota ou com os seus próprios projectos. Em disco, estreou-se com o álbum Guitarradas (1975), seguido de Guitarra Portuguesa (1977), António Chainho – The London Philharmonic Orchestra (1995), A Guitarra e Outras Mulheres (1998), Lisboa-Rio (2000), António Chainho e Marta Dias Ao Vivo no CCB (2003), LisGoa (2010), Entre Amigos (2012) e Cumplicidades (2015). A par deles, participou em álbuns de José Cid, Carlos do Carmo, José Afonso, Rão Kyao, António Pinto Basto, Adriana Calcanhotto, Blasted Mechanism ou colectâneas como Onda Sonora: Red Hot + Lisbon ou Biografia da Guitarra.

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Antonio Chainho com a sua guitarra Nuno Ferreira Santos

No álbum O Abraço da Guitarra, António Chainho contou com a cumplicidade de um lote considerável de músicos: Ciro Bertini (baixo e produção), Tiago Oliveira (guitarra clássica), Carlos Manuel Proença, Marco Oliveira e Carlos Silva (violas de fado), José Manuel Neto, Marta Pereira da Costa e Francisco Vaz (guitarras portuguesas), Pedro Jóia (guitarra clássica) e o quarteto de cordas Naked Lunch (Francisco Ramos, violino e arranjo de cordas; Fernando Sá, violino; João Paulo Gaspar, viola; e Tiago Rosa, violoncelo). O disco tem o selo Ghude/Museu do Fado e foi editado com o apoio da SPA e da GDA.

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