Livro Branco propõe criar “farmacêutico de família” para melhores cuidados à população

Documento defende que as farmácias apoiem o sistema de Saúde, em áreas como a prevenção e rastreio de hepatites virais, VIH e outras infecções e a referenciação para outros níveis de cuidados.

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Associação Nacional das Farmácias defende trabalho conjunto entre farmacêuticos e outros profissionais de saúde Miguel Manso

O Livro Branco das Farmácias Portuguesas, divulgado esta segunda-feira, lança um repto aos decisores políticos, reguladores e parceiros para alterações e propostas concretas que melhorem a sustentabilidade do sistema de Saúde, através de modelos colaborativos com as farmácias.

Lançado na conferência "As Farmácias na Jornada da Saúde das pessoas", sessão promovida pela Associação Nacional das Farmácias (ANF), a decorrer na Assembleia da República, o Livro Branco reflecte "a relação da farmácia e dos seus profissionais de saúde com as pessoas e materializa a sua intervenção na sociedade".

Na apresentação do documento, com 154 páginas, a presidente da ANF, Ema Paulino, afirmou que "este Livro Branco não partiu de uma folha em branco".

Entre as propostas presentes no documento, na perspectiva de que estas podem apoiar o sistema de Saúde, está a concretização do conceito de "farmacêutico de família", uma medida que Ema Paulino disse ter "um enorme potencial", numa perspectiva de haver esta figura com quem o médico de família e o enfermeiro de família podem interagir e dessa forma potenciar, enquanto equipa multidisciplinar de saúde, os cuidados que são prestados à população.

Além disso, a presidente da ANF destacou outras formas em que as farmácias podem apoiar o sistema de Saúde, como a prevenção e rastreio de hepatites virais, VIH e outras infecções, a integração nos rastreios nacionais, a referenciação para outros níveis de cuidados e uma intervenção activa na saúde mental e prescrição social, sinalizando e encaminhando pessoas para as instituições adequadas, se necessário.

A responsável sublinhou que o desenvolvimento farmacêutico ao longo de décadas, onde as farmácias se foram adaptando às necessidades da população e da sociedade, resultou numa missão de "optimizar a efectividade das terapêuticas e contribuir para melhor qualidade de vida das populações".

"O tempo de fazer acontecer"

Presente na conferência, o director executivo do SNS, Fernando Araújo, afirmou que o Livro Branco está "muito bem estruturado e abre um conjunto de dimensões que podem e devem ser exploradas".

"Importa agora que este livro branco não fique numa prateleira qualquer de uma biblioteca ou numa 'cloud' [nuvem] algures no sistema", comentou, considerando que o documento contém "propostas inovadoras e medidas que são motivo de reflexão há alguns anos, mas por várias razões, nunca foram implementadas".

Para Fernando Araújo, este "é o tempo de fazer acontecer": "Temos uma janela de oportunidade. Eu diria que politicamente a situação é mais complexa, mas não é isso que nos deve demover de tecnicamente atingirmos resultados, defendendo os cuidados de saúde aos portugueses".

Para isso, defendeu, "é necessário algo, como o que foi feito na construção deste Livro Branco, que é uma parceria e um envolvimento de todos os agentes do sistema de saúde", para permitir acesso e equidade aos cuidados de saúde, "olhando sempre numa perspectiva de futuro".

Dez mil altamente qualificados

Fernando Araújo realçou o papel das mais de 3000 farmácias e postos farmacêuticos em todo o país, com mais de 10 mil farmacêuticos "altamente qualificados, em quem os portugueses confiam e por isso é tempo de os integrar uma política activa de saúde pública".

Segundo a ANF, o Livro Branco das Farmácias Portuguesas é "uma ferramenta orientadora do desenvolvimento das farmácias na próxima década, que tem como objectivo ser uma peça essencial para projectar o futuro do sector e da sua acção no contexto da Saúde".

O livro materializa a ambição das farmácias em continuar a transformar os cuidados de saúde e propõe áreas prioritárias de actuação numa jornada tridimensional para a farmácia: "Transformação da jornada da saúde das pessoas", "Capacitação profissional e tecnológica catalisadora da mudança" e "Conhecimento e regulação ao serviço da sociedade".

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