Start Campus colocou as plantas Erica num viveiro e diz que lamenta “equívocos”

Empresa responsável pela construção de datacenter em Sines “garante que espécies protegidas não estão em risco”. Este é um dos negócios no centro da investigação da Operação Influencer.

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O trabalho de construção no primeiro edifício do projecto de 3,5 mil milhões de euros está perto de ser concluído Nuno Ferreira Santos
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A Start Campus, empresa arguida na Operação Influencer, defende num comunicado divulgado esta segunda-feira que existem alguns "equívocos sobre o impacto ambiental do centro de dados" da empresa que ameaçam a continuidade de um "projecto-chave". Numa nota de imprensa, na sequência de notícias sobre a destruição de habitats prioritários no terreno onde foi construído o primeiro edifício do enorme data center em Sines, a Start Campus "garante que espécies protegidas não estão em risco". Contudo, apesar de ter sido possível salvar espécies características do habitat, ficou por cumprir o plano original, que era transplantar por inteiro os habitats prioritários que havia no terreno, localizado na fronteira com uma zona protegida.

A empresa, agora liderada por Robert Dunn, na sequência da renúncia de Afonso Salema e Rui Oliveira Neves (constituídos arguidos no âmbito da Operação Influencer), dá nota de que "o trabalho de construção no primeiro edifício do projecto de 3,5 mil milhões de euros está perto de ser concluído".

A Start Campus recorda que a construção desse primeiro edifício, conhecido como "NEST", não foi sujeita a uma avaliação de impacte ambiental (AIA) pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA), mas a entidade colocou condições ao projecto, "exigindo que a Start Campus protegesse as plantas Erica ciliaris e Erica erigena ao redor do local".

A empresa garante que cumpriu com esta exigência, "em estreita colaboração com especialistas no habitat local sobre como proteger as plantas". Para preservar as Ericas, lê-se no comunicado, estas foram removidas do local de construção e "colocadas num viveiro, juntamente com 200 toneladas de solo que as sustentam". As plantas estão a crescer "na sua casa temporária" e serão mais tarde devolvidas ao local do NEST, conclui a Start Campus.

Salvar o que restava

Mais abaixo, num conjunto de notas, a empresa indica que "o próximo passo é reintroduzir as Ericas num local adequado para que as espécies possam sobreviver e prosperar, em coordenação com as autoridades competentes".

O plano proposto pela equipa de especialistas da Universidade de Évora é precisamente que os exemplares das espécies de Erica sejam transplantados "para um local com a ecologia adequada para a boa manutenção da espécie e posterior restauro" do habitat - ou seja, não devem ser transplantados de volta para os terrenos do NEST, onde já não restam zonas naturais.

Recorde-se que a proposta inicial da Universidade de Évora, em Março de 2022, tinha sido uma "translocação parcial" dos matos de urze e um "restauro" de charcos temporários mediterrânicos, habitat que já se encontrava bastante degradado no local. No entanto, a construção do NEST começou a ser feita antes que essa translocação - ou seja, o transporte directamente para o novo local definitivo - fosse possível.

A Start Campus sublinha que, além do edifício NEST, que se prevê que esteja "totalmente operacional" em Março de 2024, "nenhuma outra construção foi feita": "As subsequentes fases planeadas estão dentro da Rede Natura e encontram-se em fase de desenho e licenciamento", refere o comunicado. "A Start Campus está a trabalhar em estreita colaboração com as autoridades relevantes para garantir que cumpre todos os requisitos para o respeito da Rede Natura antes que qualquer trabalho seja iniciado."

"Entendemos as preocupações em torno do desenvolvimento do nosso primeiro edifício; estamos a fazer tudo o que podemos para provar que a Start Campus está a fazer o que está certo, em todos os momentos", afirma o agora CEO Robert Dunn, citado no comunicado.

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