Custo do combate à diabetes aumentou quase 50% em quatro anos

Preços dos medicamentos contra a diabetes disparou em quatro anos: custos aumentaram de 367 milhões para mais de 532 milhões em 2021. Cerca de 40% dos portugueses desconhecem ter diabetes.

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A realização anual de análises é a forma mais eficaz de monitorizar os níveis de açúcar no sangue Kopano Tlape

O preço dos medicamentos para a diabetes aumentou quase 50% em quatro anos, devido ao maior número de casos diagnosticados e ao preço dos fármacos mais recentes, segundo a Direcção-Geral de Saúde (DGS).

De acordo com o "Programa Nacional para a Diabetes: Desafios e Estratégias 2023",divulgado esta terça-feira, o "crescimento dos encargos identificados com medicamentos e dispositivos para tratamento e monitorização da diabetes e os custos com os internamentos hospitalares é notório", com 532,2 milhões de euros em 2021, contra 367 milhões em 2017.

No documento, divulgado por ocasião do Dia Mundial da Diabetes que se assinala esta terça-feira, a DGS contabiliza 2,76 milhões de utentes "com avaliação de risco de diabetes tipo 2" e 8,4% dos utentes (883.074 pessoas) sofrem da doença.

Em 2021, "a diabetes foi responsável por 3474 mortes, correspondendo a 2,8% das mortes em Portugal", e cerca de 10% dessas vítimas mortais foram pessoas com menos de 70 anos. Apesar disso, "a taxa de mortalidade atribuída à diabetes tem vindo gradualmente a diminuir desde 2017, sendo o valor de 2021 o mais baixo dos últimos anos", pode ler-se no relatório.

Em 2021 a doença "foi ainda responsável por 2770 anos potenciais de vida perdidos abaixo dos 70 anos, com uma média de 7,6 anos de vida perdidos por cada óbito ocorrido abaixo dessa idade".

O relatório centra-se na necessidade de um rastreio atempado da retinopatia diabética, danos da retina causados pela doença, pelo que a tutela apresentou um plano de melhoria dessas acções. "Promover a adopção de um estilo de vida saudável, identificar as pessoas em risco de desenvolver diabetes e promover programas de prevenção, bem como diagnosticar precocemente, são medidas com potencial impacto na redução da incidência e morbilidade associada à doença", pode ainda ler-se no plano divulgado.

O tratamento da diabetes tipo 1, através de sistemas de Perfusão Subcutânea Contínua de Insulina (PSCI), permite "um melhor controlo glicémico, com menos complicações e melhor qualidade de vida".

"Pelos benefícios clínicos", a DGS "considera importante promover a introdução de novos tipos de dispositivos (Sistemas Automáticos de Administração de Insulina e Dispositivos Adesivos), passando assim a ser comparticipados pelo SNS no âmbito deste programa de tratamento com PSCI". Segundo a DGS, "estes novos tipos de dispositivos apresentam vantagens no controlo da doença, redução das complicações e melhoria da satisfação e qualidade de vida".

Cerca de 40% dos portugueses com diabetes desconhecem ter a doença

Cerca de 40% dos portugueses com diabetes tipo 2 não sabem que têm a doença, porque, segundo o endocrinologista Davide Carvalho, habitualmente não têm sintomas e não vão ao médico. Em entrevista à agência Lusa, no âmbito do Dia Mundial da Diabetes e sobre o livro do médico britânico Roy Taylor "Um guia simples para reverter a diabetes tipo 2", editado em Portugal pela Porto Editora, Davide Carvalho explicou que faz parte das análises de rotina dosear a glicose.

"Quando nós analisamos, por exemplo, a percentagem de doentes que estão por diagnosticar, em média, anda à volta dos 40%, mas, por exemplo, entre os 30 e os 40 anos pode atingir os 60%, porque estas pessoas são activas profissionalmente e não vão ao médico e não fazem análises", adiantou.

De acordo com o também professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, os sintomas da diabetes "são mais ou menos conhecidos" — como ter muita sede, urinar muito e ter tendência a beber muitos líquidos, que aparecem numa fase doença "mais avançada", em que já é sintomática.

Aconselhando avaliações periódicas ao estado de saúde, Davide Carvalho referiu que as pessoas deveriam fazer análises idealmente uma vez por ano, mas, observou, se fizerem entre três e cinco anos, a maioria acabaria por ser diagnosticada. "Devem fazer avaliações de acordo com o contexto, porque muitas vezes estes doentes ou têm história familiar de diabetes ou nasceram com excesso de peso ou (...) têm também obesidade ou têm outras doenças, como, por exemplo, hipertensão, e, portanto, nesses casos, deve ser feito o doseamento da glicose para se diagnosticar diabetes", sustentou.

Segundo o relatório anual do Observatório da Diabetes 2023, mais de um milhão de portugueses vive com a doença, ampliada, sobretudo, por erros alimentares e falta de actividade física, além dos factores hereditários.

"Nas pessoas que aparecem com diabetes com 70 anos, a probabilidade de virem ter retinopatia, nefropatia, resultantes da diabetes, é menor do que aqueles que aparecem aos 30/40 [anos], porque [esses] vivem mais anos com açúcar elevado e, eventualmente, descompensado e o risco de terem complicações é maior. É por isso que diz que a diabetes pode encurtar a esperança de vida em cerca de sete anos em cada doente diabético, se for relativamente cedo", afirmou.

Em Portugal, cerca de 90% a 95% dos diabéticos têm diabetes tipo 2, tendo uma menor frequência de diabetes tipo 1 em comparação, por exemplo, com os suecos e os finlandeses.

Com o aumento da obesidade durante a pandemia de covid-19, Davide Carvalho, citando Roy Taylor, ressalvou que para reverter a diabetes, numa primeira fase, é necessário iniciar "uma dieta muito restritiva". "[Perder] cerca de 800 quilocalorias pode fazer com que o indivíduo perca peso e reverta a sua diabetes. (...) É preciso não esquecer que para a diabetes tipo 2, os cuidados alimentares e a diminuição da ingestão calórica são fundamentais", frisou.

O endocrinologista lembrou ainda que o coronavírus SARS-CoV-2, que provoca a covid-19, pode levar à destruição da célula-beta (que produz insulina no pâncreas), originando uma diabetes "muito parecida" com a diabetes tipo 1, insistindo em campanhas de sensibilização, de modo a prevenir o aumento de doentes diabéticos, que poderá chegar aos 1.300 milhões em 2050 no mundo.

"Acho que tem de haver campanhas, e já tem havido algumas medidas (...), como taxação aplicada aos produtos, como refrigerantes, com excesso de açúcar, as taxas maiores nos produtos que contêm excesso de sal também. Tem havido algumas medidas. Claro que não chegam. Passa muito também por uma atitude individual. (...) Cada um é um pouco médico de si mesmo e, portanto, tem de tomar as medidas que lhe permitam reduzir o seu peso, vigiar o seu peso, manter-se fisicamente activo e ter opções alimentares adequadas à sua situação", destacou.

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