De Tocar o Chão a Tudo Começa Agora, Carlos Peninha dá vida à música em Viseu

Começou pelo jazz nos anos 80, envolveu-se no teatro e apresenta agora ao vivo o seu quarto álbum, Tudo Começa Agora. É Carlos Peninha, guitarrista, multi-instrumentista e compositor.

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Carlos Peninha durante as gravações de Tudo Começa Agora LUÍS RITO
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Já gravara três álbuns, mas este é o primeiro composto apenas com materiais recentes. Tudo Começa Agora (2023), que o guitarrista e compositor Carlos Peninha gravou em quinteto, com arranjos e adição de cordas de Manuel Maio e outros dois músicos, Vai ser apresentado ao vivo pela primeira vez na próxima sexta-feira em Viseu, numa sessão no Café das Letras, às 21h30.

Nascido em Viseu, no dia 14 de Maio de 1962, Carlos Peninha (de seu nome Carlos Alberto Carvalho Marques) foi músico autodidacta desde cedo. “O primeiro interesse que eu mostrei por tocar um instrumento musical foi aos 12 anos, em 1974”, diz Carlos Peninha ao PÚBLICO. “E foi uma boa altura, porque nesse tempo o que se ouvia era música do Zeca Afonso, do Sérgio Godinho, essas coisas.”

Começou a tocar por influência de amigos e, passado pouco tempo, a mãe comprou-lhe uma guitarra acústica. “Toquei até ao Secundário e, já por volta dos meus 19 anos [em 1982], ingressei no Conservatório.” Como não havia conservatório em Viseu, foi para Aveiro (“com amigos, partilhávamos boleias”). Até que, aberto o de Viseu, continuou lá a sua formação, finalizando no Conservatório do Porto a parte de composição.

Mas não se ficou por aí. “Nessa altura, soube da existência da Escola de Jazz do Porto e lá fui eu, com o subterfúgio (para os meus pais) de que aquilo também era muito bom para o curso. Estudei lá, até piano, com o Carlos Azevedo, o Mário Barreiros, o Pedro Barreiros, foram eles os meus primeiros professores de jazz. E em virtude destes estudos de jazz, onde estava eu, o Acácio Salero, os dois manos Lemos e o Luís Lapa, fundámos o primeiro grupo de músicos de jazz de Viseu. Fizemos um combozinho.” Chamou-se Quinteto de Jazz de Viseu e durou até que alguns dos seus elementos começaram a seguir outras vias. “O Acácio foi para Lisboa, o Luís Lapa procurou outras direcções para a música dele e, nessa altura, resolvi fazer um quarteto, às vezes quinteto, que mantém a sua actividade até aos dias de hoje.”

Depois, Carlos começou a trabalhar com o grupo Trigo Limpo-Teatro ACERT (Associação Cultural e Recreativa de Tondela), ao qual está ainda ligado, participando em 1993 na peça e disco Ópera do Bandoleiro, de Carlos Clara Gomes, ficção que cruzava as vidas do português Zé do Telhado e do brasileiro Lampião. Até que, em 2017, gravou um primeiro disco a solo, Tocar o Chão. Tinha um total de 14 canções, uma com letra de sua autoria (Lança a rede ao mar) e as outras a partir de poemas de Eugénio de Andrade, Miguel Torga, Ruy Belo, Jorge de Sena, Grabato Dias, Leite de Vasconcelos, João Luis Oliva, Luis Pastor e Amílcar Cabral.

“O primeiro disco foi um acumular de trabalhos que fui fazendo, alguns para o Trigo Limpo-Teatro ACERT”, diz. “Resultou de coisas separadas umas das outras, ao longo de anos. Umas canções vinham de espectáculos, outras de composições que eu fazia porque descobria um novo poema, nomeadamente de poetas moçambicanos, através dos intercâmbios do ACERT com Moçambique.”

Ainda assim, não pensou logo fazer disso um álbum para o mercado. “Não desenhei o futuro ao disco”, explica. “Inicialmente pensei em fazer um disco para os meus netos um dia ouvirem. Acontece que nessa altura reuni um grupo de amigos e produtores que me ajudaram a montar o disco e, uma vez que houve alguma aceitação, tornei esse projecto tocável ao vivo.” Esse envolvimento levou-o a descobrir outras composições, instrumentais, que já vinham do tempo em que frequentou a Escola de Jazz do Porto, formando depois um quarteto que manteve durante anos. E isso levou-o ao segundo disco: Ponto de Vista (2019).

Quando eclodiu a pandemia, e os músicos se viram forçados a deixar os palcos por tempo à data indeterminado, Carlos Peninha começou a “vasculhar os discos rígidos e outros suportes antigos”, encontrou coisas “com algumas qualidade” e resolveu fazer uma compilação, só para suporte digital, a que chamou Dispersos (2021). E assim nasceu o seu terceiro álbum a solo.

O álbum mais recente, Tudo Começa Agora (2023), faz jus ao título: “Este é o primeiro que faz um corte com a sequência anterior, feita de coisas acumuladas e com datas muito diferentes. E foi todo feito mais ou menos da pandemia para cá. Fui compondo e guardando temas. E tive oportunidade de os gravar, finalmente, através de um concurso do meu município, o de Viseu, Eixo Cultura, que serve para apoiar projectos culturais de diversas áreas. E fui contemplado.”

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Carlos Peninha (ao centro) com, da esquerda para a direita, Leandro Leonet, Miguel Ângelo, Luísa Vieira e Rodrigo Neves LUÍS RITO

Reuniu praticamente o grupo do disco Ponto de Vista, também com temas instrumentais, e avançou para a gravação. “Este disco tem também uma ligação com o disco Tocar o Chão. Nesse, a produção foi minha e do Manuel Maio, compositor e violinista, que fez arranjos de cordas para alguns temas. Como gostei muito do trabalho, convidei-o para neste novo disco termos também arranjos de cordas nalguns temas. Ele disponibilizou-se, fomos trabalhando à distância (porque ele está a viver na Suíça) e partimos para a gravação já com esse trabalho feito com ele.”

Com Carlos Peninha (guitarra eléctrica), participaram nas gravações Luísa Vieira (flauta transversal), Rodrigo Neves (saxofones alto e soprano), Miguel Ângelo (contrabaixo), Leandro Leonet (bateria), Manuel Maio (violino acústico e eléctrico e arranjos de cordas), Vincent Brunel (viola de arco) e Miguel Ángel González (violoncelo).

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