Autarcas de Boticas e Montalegre acreditam que a oposição aos projectos ganhou força

A socialista Fátima Fernandes e o social-democrata Fernando Queiroga mantêm uma oposição firme aos projectos de exploração de lítio, mas sublinham que nada sabem sobre a investigação em curso.

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Projectos sempre foram muito contestados, com acções a decorrer na justiça Paulo Pimenta
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Há várias coisas que unem os autarcas de Montalegre e Boticas, apesar da filiação partidária que os separa. A socialista Fátima Fernandes e o social-democrata Fernando Queiroga garantem que desconhecem qualquer pormenor sobre a investigação em curso que levou à demissão do primeiro-ministro António Costa e ambos mantêm uma firme oposição aos planos de exploração de lítio nos concelhos que administram. De certa forma, sentem que a polémica parece ter chegado para dar mais força aos seus protestos.

A presidente da Câmara Municipal de Montalegre, Fátima Fernandes, diz ao PÚBLICO que “com toda a certeza, não” tinha qualquer suspeição acerca do projecto de exploração de lítio na mina. Mas a posição da câmara é contra aquela exploração. “Entendemos que é um projecto que não traz mais-valias para o território”, explica Fátima Fernandes, eleita pelo PS. “Há um risco muito grande de contaminação da barragem do Alto Rabagão.”

Além disso, “perspectiva-se um consumo brutal de água para a mina”, refere a autarca, explicando que se prevê que a exploração da mina necessite de 5000 metros cúbicos de água por dia, quando a população do município gasta cerca de 3000 metros cúbicos ao longo de um mês. Num contexto de alterações climáticas, “num futuro muito próximo teremos falta de água, e em primeiro lugar estão as pessoas, os animais, a agricultura”, sublinha.

Segundo a DIA da APA, é exigido a definição de um novo local para a refinaria da mina do Romano, já que o local proposto tinha sido chumbado pela presença de uma alcateia de lobos-ibéricos. Para Fátima Fernandes, isto exige um novo estudo de impacte ambiental e o recomeçar do processo.

Além disso, sugeriram à Câmara Municipal de Montalegre a alteração do Plano Director Municipal (PDM) para se poder construir a refinaria, diz a autarca. “A câmara nunca iria alterar o PDM para a exploração mineira, quando está vedado para pessoas que querem construir casas”, diz. “Não pode haver dois pesos e duas medidas.”

Segundo a autarca, está em preparação uma acção administrativa no tribunal para parar o projecto. Mas em relação aos acontecimentos de hoje, Fátima Fernandes diz reagir “com toda a serenidade”, adiantando que “a justiça deve fazer o trabalho que compete, e deve apurar o que tem de apurar”.

Também Fernando Queiroga, presidente da Câmara de Boticas eleito pelo PSD, refere que não tem quaisquer indícios sobre o que levou as autoridades a iniciarem este processo. “Não tenho nenhuma reacção formal à investigação, porque não sei dos conteúdos”, diz o autarca ao PÚBLICO, referindo apenas que “havia um forte empenhamento por parte do Governo que esta questão fosse avante”.

A autarquia também está contra a exploração da mina. “Sempre fomos contra e achávamos que a razão estava do nosso lado”, diz o social-democrata. “Acho que isto vai tornar a nossa argumentação ainda mais forte para que o projecto não siga em frente.”

A mina do Barroso fica na aldeia de Covas do Barroso, no município de Boticas. O projecto será uma mina a céu aberto, numa região que foi declarada Património Agrícola Mundial pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), o que “suscita suspeitas enquanto decisão governativa”, adianta o comunicado das associações.

Fernando Queiroga não acredita na capacidade da empresa responder aos condicionalismos que a APA impôs na DIA. “Para minimizar as questões de poluição, a empresa disse que iria fazer acções de sensibilização nas escolas. Por aqui se vê que o projecto está frágil, não tem argumentação credível”, exemplifica o autarca. “Eles dizem que não precisam da água do rio Covas. Mas sabemos que os Verões são severos e não vão possuir água para a lavaria”, argumenta.

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