Dois em cada dez adultos já foram vítimas de violência física ou sexual

INE diz que 1,3 milhões de pessoas foram afectadas por algum tipo de violência física ou sexual em contexto de intimidade. Violência é superior nas camadas mais jovens.

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A proporção de mulheres vítimas de violência sexual é o dobro da observada nos homens Manuel Roberto (arquivo)
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Dois em cada dez portugueses adultos, num total de mais de 1,3 milhões de pessoas, já foram vítimas de violência física ou sexual, revela um inquérito do Instituto Nacional de Estatística (INE) sobre segurança no espaço público e privado.

Segundo o inquérito, “20,1% das pessoas dos 18 aos 74 anos já foram vítimas de violência física ou sexual na idade adulta. As mulheres são mais afectadas pela violência em contexto de intimidade, enquanto os homens se destacam na violência por não parceiros/as”, refere o INE, acrescentando que “uma em cada dez mulheres com parceiro/a sofreu violência física ou sexual (10,3%), em contexto de intimidade”.

A violência mencionada pelos inquiridos refere-se sobretudo a relacionamentos anteriores: “Mais de um terço das mulheres e cerca de um quarto dos homens que tiveram parceiros/as anteriores sofreram algum tipo de violência nessas relações.” Além da violência física ou sexual estão em causa ameaças e violência psicológica. As mulheres apresentam proporções mais elevadas de vitimização do que os homens em todos estes tipos de violência, quando analisados separadamente: 21,8% das mulheres referiram ter sofrido violência psicológica, contra 16,8% dos homens; 7% foram alvo de violência física, mas não sexual (3,3% no caso dos homens); e 10,3% de violência física ou sexual (3,8% nos homens). Note-se que a proporção de mulheres que foi alvo deste tipo de violência por parte de parceiros anteriores (19,6%) é quase o triplo da que se observa nos homens (6,9%), salienta o estudo.

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Da mesma forma, a diferença entre o que é reportado sobre relações do passado e do presente é particularmente notória na violência psicológica, e mais evidenciada contra elas.

A maior parte das vítimas não apresenta queixa às autoridades: Os registos administrativos identificaram em 2022 cerca de 37,7 mil ofendidos em crimes de violência doméstica contra cônjuge ou análogo, número que corresponde a cerca de um sexto das pessoas que reportaram no inquérito ter sido vítimas de violência em contexto de intimidade nos últimos 12 meses, 214,4 mil.

Fora do contexto de intimidade, a violência física é a que mais se destaca, vitimizando aqui sobretudo os homens (17,4%). A proporção de mulheres vítimas de violência sexual (3,9%) é, no entanto, o dobro da observada nos homens”, refere ainda o trabalho, segundo o qual mais do dobro das mulheres (12,3%), comparativamente aos homens, afirma ter sido vítima de assédio sexual em contexto de trabalho. Mais de 76 mil mulheres foram vítimas desse tipo de conduta indesejada – verbal, não-verbal ou física – nos 12 meses anteriores à realização destas entrevistas e cerca de 199 mil nos últimos 5 anos.

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Seja dentro do contexto de intimidade ou fora dele, a prevalência da violência, bem como do assédio sexual no trabalho, é mais elevada nos grupos etários mais jovens.

A proporção de pessoas que referiram ter sofrido algum tipo de violência em contexto de intimidade é inversamente proporcional à idade: abrange cerca de um quarto das pessoas com idade até aos 44 anos, diminuindo progressivamente até abranger 15,9% das pessoas com idade dos 65 aos 74 anos, diz o INE.

Realizado em 2022, este inquérito sobre segurança no espaço público e privado destina-se a contribuir para a consolidação de um sistema de informação estatístico europeu dedicado à violência de género e à violência doméstica, sendo financiado pela Comissão Europeia. Foi aplicado em todo o território nacional, tendo sido obtidas 11.346 entrevistas.

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