Mares Circulares: nove toneladas de lixo marinho recolhidas em cinco anos

Desde 2018, programa Mares Circulares envolveu quase 10 mil cidadãos em cerca de 100 intervenções em praias portuguesas. Iniciativa é coordenada pela Liga para a Protecção da Natureza.

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O programa Mares Circulares contabiliza 96 iniciativas ao longo de cinco anos de existência Mares Circulares/DR
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Cerca de nove toneladas de resíduos foram recolhidas, ao longo de cinco anos, durante as acções do Mares Circulares em praias e meios aquáticos. O programa, destinado a promover a literacia marinha, é coordenado em Portugal pela Liga para a Protecção da Natureza (LPN) e promovido, na Península Ibérica, pela empresa de refrigerantes Coca-Cola.

O Mares Circulares celebra meia década de existência, contabilizando 96 iniciativas, que envolveram mais de 9700 pessoas em 35 municípios do país, segundo um comunicado divulgado nesta quinta-feira pela LPN. Entre os parceiros estão escolas, fundações, associações, empresas e até grupos de mergulhadores.

O programa assenta em três pilares: as acções de sensibilização e formação, a intervenção e o investimento no futuro (ou seja, apoios a projectos ou ideias inovadoras que possam promover a economia circular). A intervenção consiste, por exemplo, na monitorização de 11 praias portuguesas e em parcerias com entidades que desenvolvem actividades no mar.

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Acção de limpeza do Mares Circulares realizada em 2022 Mares Circulares

“As pessoas estão sensíveis ao problema no lixo marinho. Mas há uma dúvida muito comum, seja nas escolas ou na comunidade: a proveniência dos resíduos. Muitos pensam que o lixo que está no areal foi ali deixado como uma forma de descarte. Quando mostramos que os resíduos são, em grande parte, da nossa responsabilidade, oriundos das actividades do dia-a-dia, as pessoas ficam muito surpreendidas”, afirma ao PÚBLICO Ana Sofia Ribeiro, coordenadora do programa na LPN.

O exemplo das cotonetes

As cotonetes constituem um dos exemplos mais frequentes durante as acções de limpeza de praias. Quando as hastes plásticas deste produto de higiene são encontradas na areia, “muitos pensam tratar-se de um pauzinho de chupa-chupa”, conta Ana Sofia Ribeiro. É então explicado aos participantes que as cotonetes são, vezes sem conta, lançadas à sanita e, depois, acabam por ir ter ao mar.

“Tudo o que atiramos ao mar, o mar devolve-nos, vem ter à costa”, conclui Ana Sofia Ribeiro, que coordena o departamento de sensibilização, educação e formação ambiental da LPN.

Estas interacções com a comunidade permitem partir do tema dos resíduos marinhos para, aos poucos, chegar a conteúdos ambientais mais vastos e complexos, como a saúde do oceano, a reciclagem, os microplásticos e a economia circular.

“Tentamos mostrar que, na política dos erres, a reciclagem deve ser o último passo. Há muitos erres que devem vir antes: reduzir, repensar, recusar, reutilizar, recuperar”, diz a responsável da LPN. “Este trabalho é muito importante porque, muitas vezes, as pessoas vêem a reciclagem como a solução para os resíduos – e não é”, acrescenta.

O Mares Circulares também vai às escolas, focando-se no segmento etário que frequenta o 3.º ciclo e o ensino secundário. O objectivo é sensibilizar e capacitar os estudantes para trabalhos de recolha na praia, por exemplo. Um concurso anual, que conta com o apoio da Escola Azul, oferece um prémio no valor de 500 euros para os educandos colocarem em prática os projectos vencedores.

“O programa Mares Circulares é uma iniciativa que está inserida na nossa estratégia de recolher uma embalagem por cada uma que colocamos no mercado”, refere Manuel Bastos, gestor de projectos e sustentabilidade da Coca-Cola, citado numa nota de imprensa divulgada nesta quinta-feira.

A Coca-Cola garantiu que tem como objectivo que 25% das embalagens sejam reutilizáveis ​​até 2030, segundo a agência Reuters. A medida foi aplaudida por grupos ambientalistas que têm vindo a denunciar a poluição plástica mundial causada pela empresa de refrigerantes.

A Coca-Cola foi avaliada em 2021, pelo quarto ano consecutivo, como o pior agente mundial de poluição plástica, segundo um relatório anual da aliança Break Free From Plastic, divulgado em Outubro de 2022.

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