Lisboa é a capital mundial dos hospitais — públicos, privados e sociais

Queremos que este 46.º Congresso Mundial dos Hospitais funcione como uma alavanca de projeção das instituições e profissionais de saúde portugueses.

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Aposto que algumas das transformações mais substanciais que vão mudar para melhor o funcionamento dos hospitais vão passar pelo que se discutirá em Lisboa nos próximos dias.

Entre 23 e 27 de outubro estarão em Lisboa 1500 representantes, gestores e profissionais de hospitais de pelo menos 86 países de todo o mundo — uma invulgar concentração de conhecimento e experiência. Teremos três dias plenos de discussões, com 77 oradores internacionais e a discussão sobre os temas que interessam a todos. A todos, não só aos profissionais do setor, porque é com planeamento, gestão, partilha de informação e entrega que podemos ter os cuidados de saúde de que necessitamos e garantir a sustentabilidade dos sistemas de saúde.

O 46.º Congresso Mundial dos Hospitais é organizado pela Federação Internacional dos Hospitais. A sessão de abertura contará com a presença da sua presidente, Deborah J. Bowen, e do ministro Manuel Pizarro, sendo que o Diretor Geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, também se dirigirá ao plenário (de forma remota), o que confirma a centralidade e relevância do evento. Para dar as boas vindas aos participantes estarão também os presidentes da Associação Portuguesa de Hospitalização Privada, da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares e da associação Portuguesa para o Desenvolvimento Hospitalar que se consorciaram para que Portugal tivesse apresentado uma candidatura para a organização verdadeiramente nacional e agregadora.

E esta articulação — um sinal de evidente importância simbólica e prática — foi o primeiro ganho da organização do Congresso Mundial dos Hospitais: colocar-nos a dialogar e a construir um projeto comum. O tempo das trincheiras não serve a ninguém, designadamente quando os desafios são comuns e a relação pode ser simbiótica. Os hospitais existem para dar respostas em saúde e os desafios que temos — de escassez de profissionais de saúde, de gestão dos recursos humanos, de incorporação de tecnologia, da assunção da responsabilidade ambiental, de novas formas de prestação, de eficiência — não têm a ver com o facto de os hospitais serem públicos, privados ou sociais, de atuarem aqui ou na Coreia do Sul, no Brasil ou no Egito. São problemas que temos de resolver para cumprirmos a nossa missão como hospitais.

O segundo ganho conseguimo-lo trazendo o Congresso para Lisboa. É o reconhecimento da capacidade portuguesa de organização e da centralidade que temos neste tipo de eventos, mas é também a consciência que a oferta de saúde, nomeadamente hospital, em Portugal é de qualidade e bem integrada nas redes de conhecimento internacionais.

Um terceiro ganho já conseguido é o facto de incluirmos num congresso mundial, que decorrerá em inglês, uma sessão específica em português sobre “A Tele-saúde como promotor de acesso a cuidados de saúde na CPLP”. Será esta uma boa forma de robustecermos os elos e a cooperação em saúde entre os países de língua portuguesa e darmos o exemplo de como a distância não impede a prática de cuidados de saúde e como a cultura nos desafia a tirar proveito dos meios tecnológicos e humanos de que dispomos. Penso mesmo que do congresso poderá sair uma “declaração de Lisboa” que evidencia o valor potencial da tele-saúde e confirme o compromisso de todos em trabalhar em conjunto e de forma articulada pela promoção da saúde nos diversos países.

Se estes ganhos estão garantidos, há outros dois que esperamos que se concretizem com o decurso do congresso, um de caráter mais nacional e outro no âmbito da saúde.

Assim, queremos que este congresso funcione como uma alavanca de projeção das instituições e profissionais de saúde portugueses. Será uma oportunidade de apresentarmos projetos, mostrarmos aquilo que fazemos e encontrar parceiros para a investigação e a oferta de serviços. Desta semana resultarão, com toda a certeza, condições para trabalharmos mais ao nível do que melhor se faz no mundo. Por outro lado, sendo o congresso uma montra, permitirá reforçar também os nossos argumentos como destino de “turismo médico” para vários potenciais países emissores.

E, por fim, temos o grande ganho a que aspiramos, que se resume em ter melhores hospitais. Em termos instrumentais, é útil que se afirme o ecossistema hospitalar como atrativo para a realização pessoal e profissional, que se tenha consciência da economia circular no âmbito da One Health e que a transição digital tenha um caráter transformador em termos de proximidade, acesso, eficácia e eficiência. Tudo para que os hospitais sejam instituições a que ninguém queira ir como paciente mas a que todos possam aceder com a garantia absoluta de acolhimento e acompanhamento humanizado, diagnóstico adequado, a melhor terapêutica, numa organização responsável, ligada à comunidade e promotora de valores. É mais fácil dize-lo do que faze-lo, mas no Congresso Mundial dos Hospitais vamos trabalhar, em conjunto, para atingir este objectivo comum.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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