Duplicidade

Há um setor muito substancial da opinião (bem representado no texto que ontem aqui publicou José Gil) que se agarra à tese da rejeição do “tomar partido” entre o Hamas e Israel.

Ouça este artigo
00:00
04:00

Rui Tavares foi à RTP2 no dia 16 para repetir o que tinha escrito dias antes no Expresso: “Israel tem o mesmo direito a defender-se que qualquer outro Estado internacionalmente reconhecido. Não tem menos direito do que qualquer outro Estado. Não tem mais direito do que qualquer outro Estado.” Mas com um acrescento ao que escrevera: “Dizer que [Israel] tem menos direito [que os outros Estados a se defender] seria antissemitismo.” Antissemitismo?! É antissemitismo recordar que Israel, pelo menos desde 1967, ocupa ilegalmente territórios palestinianos, e que, desde 1948, enquanto Estado, e desde o final do século XIX enquanto movimento político sionista, os vem colonizando, e que, sendo patentemente ilegais uma e outra coisa, não tem o mesmo direito de um “qualquer outro Estado” a usar da força militar e de uma estratégia sistemática de limpeza étnica contra os palestinianos na sua própria terra, ocupada por Israel? Ou por acaso achará Tavares que também Portugal tinha “o mesmo direito de qualquer outro Estado” para castigar os “terroristas” angolanos em 1961 (não foi assim que se lhes chamou durante toda a Guerra Colonial?), ou a França contra os “terroristas” argelinos em 1954? Continuo com os exemplos? Ouvi muitas vezes a Rui Tavares reivindicar na Assembleia da República o estatuto de historiador. Pois agora é o momento de o usar, e que nos diga se se esqueceu de conceitos como colonialismo e ocupação.

Os leitores são a força e a vida do jornal

O contributo do PÚBLICO para a vida democrática e cívica do país reside na força da relação que estabelece com os seus leitores.Para continuar a ler este artigo assine o PÚBLICO.Ligue - nos através do 808 200 095 ou envie-nos um email para assinaturas.online@publico.pt.
Sugerir correcção
Ler 12 comentários