Uma em cada três turmas ainda não tem acesso a fruta gratuita nas escolas

Caiu para menos de metade as crianças envolvidas no projecto que não levavam lanches saudáveis para a escola: 48,5% delas experimentaram uma fruta ou hortícola novo pela primeira vez.

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A disponibilização de fruta gratuita nas escolas ainda não chega a todas as turmas Nelson Garrido (arquivo)
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Uma em cada três turmas ainda não tem acesso a fruta gratuita nas escolas, segundo o relatório Heróis da Fruta referente ao último ano lectivo de 2022/2023. Mas nem tudo são más notícias no documento divulgado nesta segunda-feira pelo projecto que pretende incentivar o uso de frutas e hortícolas entre as crianças portuguesas: entre as crianças do pré-escolar e do 1.º ciclo, houve uma redução de 54,8% das que levavam, diariamente, lanches pouco saudáveis para a escola.

Desde 2011 que o projecto Heróis da Fruta procura incentivar o consumo de lanches mais saudáveis nas escolas portuguesas. No último ano lectivo, os participantes foram desafiados a consumir entre uma e cinco peças de fruta diariamente na escola, durante cinco semanas. Das 3649 turmas inicialmente inscritas, com 81.730 alunos (72,8% das quais participaram pela primeira vez), 1079 preencheram o formulário que atesta a conclusão de um dos desafios, representando 21.773 alunos, com idades entre os dois e os 13 anos.

É sobre estes que incidem as conclusões que são apresentadas online na tarde desta segunda-feira, mas que já foram disponibilizadas nas páginas dos responsáveis pelo projecto: a Associação Portuguesa contra a Obesidade Infantil (APCOI) e o Instituto de Saúde Ambiental da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (ISAMB-FMUL).

Estes dados dizem-nos que houve uma redução de 54,8% das crianças que levavam, diariamente, lanches pouco saudáveis para a escola e que, neste ano lectivo, quase metade das crianças (48,5%) que participaram no Heróis da Fruta experimentou pela primeira vez uma fruta ou hortícola que antes não tinham provado. A nível nacional, houve um aumento das crianças que consumiram pelo menos uma peça de fruta ou hortícolas na escola, na ordem dos 19,7%.

O relatório também aponta para diferenças a nível regional. Antes do desafio, as crianças dos Açores, Beja e Bragança foram as que mais referiram não consumir fruta ou hortícolas diariamente na escola (cerca de 40% em qualquer um dos casos), e no final da intervenção, tanto os Açores como Beja ficaram entre os distritos em que houve uma maior redução de crianças que diziam não o fazer, a par com Madeira, Évora e Vila Real.

Bragança ficou de fora nessa alteração, com a agravante de que era também um dos distritos com a percentagem mais elevada de crianças a levar lanches pouco saudáveis para a escola (52,9%), a par com Portalegre (52,1%) e Évora (41,8%).

No final, dos três, apenas Évora está no topo dos distritos em que a situação mais mudou a este nível, a par com Castelo Branco e Vila Real.

As escolas podiam escolher entre consumir uma, duas, três, quatro ou cinco peças de fruta ou hortícolas, diariamente, durante cinco semanas de aulas. A maioria optou por consumir uma (43%) ou duas (19,1%) peças. A possibilidade de realizar um desafio adicional, que incluía beber água, dançar ou abanar os braços foi também adoptada por 52,5% dos participantes.

Os responsáveis pelo projecto alertam ainda para o facto de apenas 64,7% das turmas terem tido acesso a fruta ou hortícolas distribuídas gratuitamente nas escolas, o que significa que praticamente uma em cada três ainda não tem acesso a essa possibilidade. Uma melhoria, ainda assim, em relação ao ano anterior, quando a percentagem de turmas sem acesso chegava aos 40%.

Pandemia agravou obesidade

No relatório salienta-se a importância desta medida para a mudança dos hábitos alimentares das crianças na altura de lanchar, embora com a ressalva de que este não pode ser o único factor a ter em conta.

A título de exemplo é dado o caso da Madeira, em que houve a maior redução de crianças a dizer não consumir frutas e hortícolas na escola diariamente, ao mesmo tempo que foi também a região onde foi relatado existir mais financiamento para o acesso gratuito a esses bens.

Por outro lado, no distrito de Beja, esse acesso gratuito foi dos menos referidos (ficou em terceiro lugar das regiões com menor financiamento), ao mesmo tempo que as crianças que lá residem foram das que mais aumentaram o seu consumo diário de frutas e hortícolas. “Estes dados sugerem que, além da oferta alimentar, são necessárias acções específicas que promovam o consumo de frutas e hortícolas”, de que o projecto Heróis da Fruta é um exemplo, lê-se no relatório.

A prevalência da obesidade na primeira infância apresentava uma tendência de redução entre 2008 e 2019, mas entre essa data e o ano passado a situação inverteu-se, por razões que os especialistas associam à pandemia. Segundo um estudo da Organização Mundial da Família, citado no relatório, as crianças portuguesas aumentaram em 13,8% o seu consumo de snacks doces e salgados durante a pandemia, ao mesmo tempo que a prática de actividade física caiu em 24% e o tempo passado em frente ao ecrã aumentou 48,8%.

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