Camiões egípcios com caixões à espera de poder entrar em Gaza

Ouça este artigo
00:00
04:23

Não faço a mínima ideia de quantos elementos tem o Hamas, algumas dezenas de milhar? Talvez, não sei. Mas quantas dessas pessoas estão ainda em Gaza? Muitos nem sequer lá estavam de início. Não é fácil de ver que já previam o que Israel ia fazer e já não estão lá? Não fizeram o que fizeram para justamente chamar Israel para dentro de Gaza? Não estarão a preparar-se para atacar a partir de outro lugar? Ou para dar uma nova força ao terrorismo um pouco por todo o lado no mundo? Isto parece-me do senso comum, não são precisos estudos militares para saber isto. E não acredito que isto não seja o pensamento de toda a gente.

Ainda lançam rockets a partir de Gaza, certo, mas quantas pessoas são precisas para fazer isso?

E com todos os satélites não se pode saber de onde vêm os rockets?

Dizem que os do Hamas estão sobretudo nos túneis construídos por debaixo da terra de Gaza, mas não sabem entrar nos túneis? Afinal não sabem fazer nada?

Desculpem, mas quando é que foi normal, ou até quando é que aconteceu, dizer-se a uma população que tem que sair de onde está e não parar de bombardear os caminhos? Talvez até tenha acontecido, mas se aconteceu aconteceu escondido, ou seja os que estariam a bombardear diriam sempre que não eram eles. Mas aqui não, aqui é tudo às claras. E aqui a população que tem que fugir é uma população que objectivamente não tem para onde fugir. Vivem há anos cercados por um muro. A única fronteira que existe está fechada. O mar está fechado. O aeroporto inaugurado em 1998 foi destruído por Israel em 2002, e nunca mais foi autorizada a sua reconstrução. E mais de metade dessa população tem menos de 18 anos e nunca conheceu a liberdade nem a paz. Em Gaza não há nem bunkers nem Iron Dome. Não há nada.

Onde é que já vimos serem dadas umas horas para evacuar um hospital a abarrotar de feridos? E sem alternativa para os levar para outro hospital? Sem transporte? Sem gasolina? Sem serem levados pela ONU, Cruz Vermelha, sei lá, uma organização qualquer? Sem água. Sem electricidade. Se é para tirar de lá os feridos que não têm para onde ir, então qual é o problema de bombardear o hospital com os feridos lá dentro?

Dá a sensação que os do Hamas, antes de entrarem em Israel para matar, estropiar, raptar, fizeram servir um chá com qualquer coisa que turvou o cérebro dos governantes da Europa. Mas talvez esse chá venha de mais longe. A Europa ainda não esqueceu a Shoah. Ainda não esqueceu que o povo judaico foi o que sofreu os maiores horrores desde que o mundo é mundo. O sentimento de culpa da Alemanha ainda hoje é descomunal, afinal foram alemães que fizeram abat-jours com a pele de judeus. Desculpem-me a imagem, mas ela é verdadeira e não é para ser esquecida.

Mas não é justo eleger um povo inocente para expiar a nossa culpa colectiva.

Há muitos anos que Israel não cumpre as resoluções e acordos internacionais, e tudo lhe tem sido perdoado. É verdade que toda esta história é complexa, que tem muitas nuances, mas há o aqui e o agora. O hoje. E o que Israel está a fazer agora é um crime, e nós não podemos ter vergonha de o dizer, nem sentir culpa ao dizê-lo. Assim como muitos israelitas judeus o estão a dizer. Que não se pense que todos os judeus estão de acordo com o que se está a passar, não há nada mais falso e mais injusto.

Netanyahu é um homem de extrema-direita. É um homem que está a mudar as leis de Israel para não ir preso por corrupção. E vai ficar para a história como o homem que não soube prever o ataque do Hamas, que não soube proteger o seu povo. E é isso que ele não quer, e nós estamos a ir atrás.

Obrigar os do norte a ir para sul num território minúsculo e pobre, onde no sul não cabe mais ninguém, e deslocando-se sem comida, nem água, nem medicamentos, nem electricidade, como se chama a isto?

E os que conseguirem chegar vivos a esse sul, vão chegar a um lugar onde também não há nem água nem comida nem electricidade, como se chama a isto?

Uma coisa temos desaber: se aceitarmos a forma como a população de Gaza está a ser tratada, a partir de agora todas as guerras vão ser assim. O ataque, sem misericórdia , aos civis vai passar a ser o pão nosso de cada dia em todas as guerras, e ninguém vai poder voltar a abrir a boca contra isso

Se não deixam sair as pessoas, deixem entrar os caixões.

Sugerir correcção
Ler 19 comentários