Elo entre os Clérigos e o Coliseu vai dar palco a histórias e memórias de pessoas reais

Elo é um projecto inclusivo que decorre até Junho de 2024 e, através de histórias “reais”, aproxima a arte das pessoas. Conta com a participação de várias instituições, desde escolas a uma prisão.

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"Elo" é um projeto inclusivo que une os Clérigos e o Coliseu Manuel Roberto
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O Coliseu do Porto Ageas e a Irmandade dos Clérigos juntam-se pela primeira vez para a realização de Elo, um projecto de cariz social e educativo, que através das artes pretende aproximar a cultura das pessoas.

O nome, Elo, não é por acaso. O projecto representa não só a ligação entre duas instituições de referência na cidade (os Clérigos e o Coliseu), mas também entre diferentes disciplinas artísticas (música, teatro, dança e storytelling), sectores (social e educativo) e pessoas de idades e contextos sociais diversos. “É um elo gigante”, afirma Miguel Guedes, presidente do Coliseu.

Elo é levado a cabo pelo Serviço Educativo do Coliseu. De acordo com Filipa Godinho, directora deste serviço, foram iniciados trabalhos conjuntos há quatro meses e “Elo é o primeiro projecto de cariz social”. Contando com o apoio da Irmandade dos Clérigos, a iniciativa arranca em Outubro e termina a 18 de Junho de 2024.

Segundo Miguel Guedes, todo o projecto parte “do testemunho oral”, histórias, que adultos e seniores tenham “sobre estas duas instituições [Clérigos e Coliseu]”. O primeiro “doador” de histórias é Pedro Abrunhosa, mas os restantes serão “cidadãos anónimos”. Para proporcionar a partilha de testemunhos, a primeira fase da iniciativa consiste em visitas guiadas ao Coliseu e Torre dos Clérigos, que contarão com cerca de 240 participantes de associações seniores locais, como lares, centros de dia e duas universidades sénior.

Após as visitas, serão seleccionadas 20 histórias e é a partir destas memórias que o trabalho artístico começa. “Normalmente há a tentação de produzir conteúdo novo”, declara Filipa Godinho ao PÚBLICO, “mas quisemos que este projecto fosse uma homenagem.” Com Elo pretende-se “dar palco ao património imaterial”, recolhendo histórias “reais” e criando condições para que “possam continuar a ser contadas”. Além disso, “procura-se valorizar a população mais envelhecida, que tem pouco espaço de escuta”, afirma a directora do Serviço Educativo do Coliseu.

A iniciativa multidisciplinar trabalha em parceria com várias instituições sociais e pedagógicas. Esta cooperação procura aproximar “públicos que, por diferentes razões – sociais, financeiras, físicas –, não têm fácil acesso à cultura”, salienta Filipa Godinho.

Para o projecto serão formados grupos de diferentes disciplinas artísticas. No caso do teatro e da dança, além da participação das instituições sociais, as inscrições encontram-se abertas ao público.

Já a música contará com uma abordagem distinta. Serão formados dois grupos musicais, um com participantes de uma escola TEIP (Territórios Educativos de Intervenção Prioritária), o Agrupamento de Escolas Pêro Vaz de Caminha, e outro constituído por indivíduos do Estabelecimento Prisional do Porto, em Custóias.

Neste caso, “os grupos são heterogéneos”, conta Filipa Godinho. Na prisão, o grupo é formado por “guardas, reclusos, técnicos de reeducação e professores”, para a escola conta-se com a participação “de alunos, professores, pais e auxiliares de educação”.

Um espectáculo das pessoas para as pessoas

De Outubro a Junho de 2024 são cerca de “nove meses de gestação”, nas palavras de Miguel Guedes, que culminarão num espectáculo final no Coliseu. A apresentação final é “simbólica”, explica Filipa Godinho, pois “o valor desta iniciativa reside na metodologia e no processo”.

O espectáculo não será aberto ao público, contando apenas com a presença de convidados. “O projecto é feito para as pessoas”, reforça Filipa, “e o espectáculo é feito por eles e para eles.” “Queremos que os participantes tenham a experiência de subir a palco e que se sintam confortáveis em fazê-lo, sem nervosismo”, reforça.

A ligação destes dois espaços emblemáticos da cidade não é despropositada. Tanto o Coliseu como os Clérigos são marcos históricos do Porto, e fazem parte “da vida de quem frequenta a Baixa”, observa Filipa Godinho. Ademais, Miguel Guedes salienta a presença simbólica das “duas torres”, dos Clérigos e do Coliseu, que representam “dois pontos de visibilidade e perspectiva da cidade”. Com a união dos dois marcos é criado um espaço de experiência e fruição artística, dando oportunidade a todos de partilhar, criar e sentir. Ao todo, entre instituições, centros sociais, universidades seniores, escola TEIP e o Estabelecimento Prisional do Porto, a iniciativa vai abranger cerca de 2000 pessoas.

Texto editado por Ana Fernandes

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