Austrália
Aires Mateus fez uma casa à distância que junta arquitectura portuguesa, australiana e japonesa
A Mori House fica na Austrália e foi construída para juntar três gerações debaixo do mesmo tecto. O betão esconde uma construção de madeira e, no interior, há uma sala tradicional japonesa.
O pedido dos proprietários era claro: sonhavam com uma casa onde pudessem “fundar o lugar da família” de três gerações, que respeitasse a natureza e reflectisse as origens de cada um. Só havia um pormenor: a casa era para ser construída do outro lado do mundo. O casal, ele australiano, ela japonesa, viajou da Austrália até ao atelier Aires Mateus, em Portugal, para projectarem uma habitação junto à praia de Mount Martha, em Melbourne, onde pudessem viver com os filhos e netos.
A Mori House (casa na floresta, em tradução livre) é um projecto do arquitecto Manuel Aires Mateus, o primeiro que assina na Austrália e também à distância, em parte por causa da pandemia. O arquitecto visitou o terreno no início de 2020, assistiu ao trabalho do atelier local MAArchitects por Zoom e era também através de reuniões online que pedia alterações. No Natal de 2022, quando a obra estava prestes a ser terminada, visitou-a pela última vez.
A habitação foi construída em forma de cruz para assinalar a tão desejada “fundação” pedida pelos donos. No exterior, a escadaria é o caminho para uma paisagem com o mar a perder de vista e um passadiço que pode ser percorrido como num passeio junto à praia. “A família tinha esta ideia de fundar uma casa para várias gerações e, para nós, era importante fundá-la por estarmos a iniciar o trabalho num outro continente. É uma casa desenhada a partir da vida”, explica Manuel Aires Mateus em entrevista ao P3.
O revestimento de betão esconde uma construção de madeira e, no interior, destaca-se a mistura de materiais e arquitecturas australiana, portuguesa e japonesa, em particular na sala de estar adornada com tapetes tatami e uma pequena mesa de centro a escassos centímetros do chão.
A par disto, adianta o arquitecto, a forma da casa permitiu criar quatro jardins e espaços interiores diferentes. Junto à entrada fica a cozinha e a zona de refeições. Noutra área ficam os dois quartos para os filhos, no corpo seguinte o quarto dos netos, a sala de estar tradicional japonesa e o quarto dos proprietários. Por fim, na zona mais próxima do mar, fica o escritório.
Na Mori House, quase tudo é informal e tem uma dupla função. A mesa de refeições pode facilmente ser transformada em área de trabalho e nesse caso a cozinha de inox deixa de ser um espaço onde apenas se confeccionam as refeições. O design minimalista conjuga-se com o detalhe dos materiais, desde o ripado da madeira à “janela única e íntima” do quarto do casal que se abre para uma banheira de madeira que, uma vez mais, remete para o Japão.
Segundo o arquitecto, a casa tem sido acarinhada na Austrália e foi até distinguida nos Victoria Architecture Awards, troféu que se junta, entre muitos outros, ao Prémio Pessoa que Manuel Aires Pereira recebeu em 2017. Por outro lado, acrescenta, foi um projecto que permitiu aproximar Portugal e Austrália e a parceria não deverá ficar por aqui.
“Estamos a fazer outra obra em Melbourne que é meio casa, meio refúgio, meio local de trabalho. Não tem um programa definido, o que é interessante. E como é na Austrália, é também um lugar fora de mão”, comenta, entre risos.