Mais de 250 mortos em festival de música atacado pelo Hamas

Festival de música trance realizado junto à fronteira com Gaza foi palco do maior massacre de civis durante a ofensiva do Hamas contra Israel.

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Alguns dos apelos deixados nas redes sociais por familiares e amigos de festivaleiros por localizar após o ataque do Hamas DR

Confirmou-se o que mais temiam muitos dos familiares e amigos que, desde a manhã de sábado, recorriam às redes sociais para apurar o paradeiro de centenas de pessoas que participavam num festival de música trance no deserto do Negev, em território israelita, junto à Faixa de Gaza, e que foi atacado por elementos armados do Hamas. Mais de 250 corpos foram encontrados no local durante o fim-de-semana, revelou a Zaka, uma organização de busca e socorro especializada na recolha e identificação de vítimas de ataques terroristas em Israel.

O festival, realizado junto ao kibutz Re'im, foi um dos alvos da incursão terrestre de centenas de combatentes do movimento radical palestiniano Hamas, que desde as primeiras horas de sábado mataram pelo menos 700 pessoas e fizeram refém mais de 100 civis e militares que posteriormente foram levados para Gaza.

A festa ao ar livre tinha começado às 23h de sexta-feira, hora local, e prolongara-se durante a madrugada. Na manhã de sábado, quando ainda alguns milhares de pessoas dançavam e conviviam no recinto, uma sirene alertou para o disparo de mísseis a partir de Gaza, a cerca de três quilómetros de distância. A música foi interrompida, a electricidade desligada, e os festivaleiros começaram a reunir os seus pertences e a preparar-se para abandonar o local de carro ou de autocarro.

"Subitamente, eles aparecem vindos do nada e começam a disparar em todas as direcções", contou ao Canal 12 israelita Ortel, uma sobrevivente do ataque. "Cinquenta terroristas chegaram em carrinhas, vestidos com uniformes militares. Dispararam rajadas de tiros, e começámos a correr", disse. Ortel escondeu-se entre árvores e arbustos durante várias horas, arrastando-se lentamente pelo chão e finalmente correndo para um local seguro. "Não sei como é possível viver depois de tudo o que vi", disse.

Outros tiveram menos sorte. Um dos vídeos amplamente divulgados nas redes sociais durante o fim-de-semana, cuja veracidade foi confirmada pela imprensa israelita e por familiares dos reféns, mostra um jovem casal a ser capturado por combatentes do Hamas. Noa Argamani, uma jovem mulher, grita "não me matem" enquanto é levada de moto. O namorado, Avinatan Or, é manietado e transportado a pé. "Vi a Noa no vídeo assustada, não consigo imaginar o que devia estar a sentir, a gritar em pânico", disse ao Canal 12 Moshe Or, irmão de Avinatan, que reconheceu o casal depois de ver as imagens na plataforma Telegram. Outro vídeo, cuja veracidade está por verificar, mostra mais tarde Noa já em Gaza. Desconhece-se o paradeiro de Avinatan.

Outra identidade apurada, desta feita pelo Washington Post e pela respectiva família, é de Shani Louk, uma mulher de nacionalidade alemã e israelita que estava no festival e foi levada por homens armados. O seu corpo nu e ferido foi filmado a ser exibido e cuspido pelas ruas de Gaza. A sua morte é presumida, mas não oficialmente confirmada. "Ainda não quero admiti-lo", disse Ricarda Louk, mãe da cidadã germânica, citada pela revista alemã Der Spiegel.

Ainda ao Canal 12, Moshe Or, irmão de Avinatan, criticava no sábado a falta de informação e de coordenação das autoridades, indicando que é através das redes sociais que familiares e amigos tentam descobrir o paradeiro daqueles que permanecem por contactar.

"Há dezenas de outras pessoas desaparecidas e neste momento não há nenhuma agência governamental, ninguém a coordenar isto com a excepção do Moked 100 [a linha nacional de emergência, equivalente ao 112 português], mas esses não fazem nada. Há grupos privados de pessoas no Instagram e no Telegram a recolher nomes, e vêem-se listas e listas. Há dezenas ou mesmo centenas de pessoas desaparecidas", disse Or.

O site israelita Ynet, do jornal Yedioth Ahronot, compilou mais de uma centena de mensagens e publicações em redes sociais com fotografias, nomes e apelos por informações acerca do paradeiro de participantes do festival. Outra lista de nomes vista pelo New York Times no sábado dava conta de mais de 500 pessoas por localizar. Sabe-se agora que pelo menos 250 terão morrido no ataque, mas os trabalhos de identificação dos corpos e de contacto com as famílias das vítimas ainda prosseguem. Há cidadãos de vários países entre os desaparecidos, incluindo dos Estados Unidos, Reino Unido e Brasil.

Pelo menos 700 civis e militares foram mortos na incursão, este sábado, do Hamas por território israelita. A cidade de Sderot, Ofakim e várias comunidades e kibutz nas imediações da fronteira com a Faixa de Gaza foram as localidades mais atingidas pelo ataque, que foi acompanhado pelo lançamento de milhares de mísseis contra uma vasta área do país. As forças israelitas ainda combatiam elementos do Hamas em solo hebraico ao final da noite de domingo. Pelo menos uma centena de pessoas foram levadas para Gaza, onde se encontram reféns.

O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, afirma que o país está "em guerra" e anunciou que irá "vingar-se" da ofensiva do Hamas, a mais grave em várias décadas de conflito israelo-árabe. Durante o fim-de-semana, a aviação israelita lançou vários ataques contra Gaza, que mataram mais de 400 palestinianos.

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