Morreu o cineasta britânico Terence Davies

O realizador de Vozes Distantes, Vidas Suspensas, O Profundo Mar Azul e A Bíblia de Néon tinha 77 anos e morreu no sábado em sua casa, em Inglaterra.

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O realizador Terence Davies fotografado em Nova Iorque Mike Coppola/Getty

O cineasta britânico Terence Davies, autor de curtas-metragens, documentários e longas autobiográficas, e que adaptou também várias obras literárias ao cinema e fez biopics de Emily Dickinson e de Siegfried Sassoon, morreu neste sábado aos 77 anos em sua casa, em Mistley, Essex, Inglaterra.

Terence Davies (1945-2023) ficou conhecido, no início dos anos 80, pela sua Trilogia autobiográfica. Sobre um jovem homossexual que se confronta com a sua educação católica, esta obra inclui as curtas-metragens Children, Madonna and Child e Death and Transfiguration, que foram realizadas por Davies ao longo de sete anos (1976 a 1983).

Com a longa-metragem Vozes Distantes, Vidas Suspensas (1988), Terence Davies recebeu o Prémio da Crítica Internacional em Cannes. Este filme, que se baseia na sua história e na da sua família da classe operária católica durante os anos de pós-guerra (1940 e 1950) na cidade de Liverpool, em Inglaterra, onde o realizador nasceu e cresceu – era o mais novo de dez filhos e tinha um pai abusivo que morreu quando ele tinha sete anos , não é o único da sua obra com pendor autobiográfico.

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Uma das imagens de Trilogia de Terence Davies dr

Um dos seus outros filmes autobiográficos é Aqueles Longos Anos (1992), em que aborda o nascimento da sua paixão pelo cinema durante a adolescência passada em Liverpool. O documentário Of Time and the City, que se estreou no Festival de Cannes em 2008, é também dedicado à cidade onde nasceu e tem por tema o crescimento de Liverpool durante os anos 1950 e 1960.

No obituário publicado pelo Los Angeles Times é recordada uma entrevista em que disse que ficava “sempre um choque” quando lhe diziam que os seus filmes eram deprimentes. “Os meus filmes não são muito felizes porque eu não estou muito feliz”, afirmou Terence Davies a este jornal norte-americano em 2017. “Sinto-me atraído por filmes sobre luta e escuridão. Sinto-me atraído por um certo tipo de coragem. Sinto-me atraído por pessoas criativas que não são reconhecidas.”

O seu mais recente trabalho é a longa-metragem Benediction sobre a vida do soldado e poeta Siegfried Sassoon, realizada em 2021 com os actores Jack Lowden e Peter Capaldi, numa produção Netflix.

Em 2016, a actriz Cynthia Nixon, a Miranda Hobbes da série Sexo e a Cidade, interpretou a poetisa Emily Dickinson no filme A Quiet Passion, com argumento e realização de Terence Davies. Anos antes, em 2000, o realizador fez a adaptação ao cinema do romance A Casa da Felicidade, de Edith Wharton, em que a actriz Gillian Anderson interpreta Lily Bart. Fez também uma adaptação da peça de Terence Rattigan The Deep Blue Sea, protagonizada por Rachel Weisz e Tom Hiddleston no filme O Profundo Mar Azul (2011), que foi uma das suas obras mais populares. Anteriormente, tinha realizado A Bíblia de Néon (1995), filme em que adaptou o romance de John Kennedy Toole. E em 2015 conseguiu concluir um projecto antigo que adaptava Sunset Song, o romance do escritor escocês Lewis Grassic Gibbon.

Terence Davies, lembra a BBC, trabalhou como escriturário num escritório de navegação e foi durante dez anos contabilista numa empresa antes de decidir inscrever-se, em 1973, na escola de teatro Coventry Drama School. Iniciou a sua carreira como actor amador.

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