Santa Maria em contingência. Urgência deixa de atender doentes que cheguem pelo seu pé

Director da urgência do maior hospital de Lisboa pede às pessoas que não venham ao serviço “pelo seu pé”.

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João Gouveia diz que urgência do Santa Maria só vai aceitar doentes referenciados MIGUEL A. LOPES

O Hospital de Santa Maria (Centro Hospitalar de Lisboa Norte) vai deixar de atender na urgência doentes que não sejam encaminhados pelo Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) e pede aos doentes não-urgentes que recorram aos centros de saúde. “As pessoas não podem vir [à urgência do Santa Maria] pelo seu pé”, avisa o director da urgência central, João Gouveia.

João Gouveia anunciou, em conferência de imprensa nesta sexta-feira, que o Santa Maria já activou o plano de contingência devido à enorme sobrecarga do seu serviço de urgência, substancialmente agravada nos últimos dias por causa do cada vez maior número de médicos que se recusam a fazer mais horas extraordinárias do que as obrigatórias em muitos hospitais - que estão a fechar as suas urgências ao CODU, pelo que os pacientes têm que ser encaminhados para as unidades de fim de linha, como é o Hospital de Santa Maria.

“Estamos perante uma situação de contingência. Peço às pessoas que não venham à urgência pelo seu pé. Devem ir ao hospital da sua área de residência. Se não vierem referenciadas de outros hospitais ou pelo CODU, não vão ser atendidas. Só vamos admitir doentes que venham referenciados”, explicou João Gouveia ao PÚBLICO.

Com o serviço de urgência repleto de doentes, muitos encaminhados por outros hospitais da Grande Lisboa, o Santa Maria viu-se obrigado a activar o plano de contingência. Os doentes de outras áreas de residência que não venham referenciados não serão admitidos e os que não são urgentes serão encaminhados para os centros de saúde, explicou o director da urgência central do Santa Maria. Por isso, apela-se, as pessoas devem ligar primeiro para o SNS24 (808 24 24 24) ou para o 112, em caso de emergência.

No encontro com os jornalistas, João Gouveia acentuou que o objectivo é garantir a assistência devida aos doentes urgentes e emergentes e explicou que a urgência “está com uma grande afluência”, o que está a dificultar muito a capacidade de escoamento dos pacientes. Na segunda-feira, a urgência do Santa Maria recebeu mais de 700 doentes, mais de três centenas dos quais eram de fora da sua área de influência. “É impossível o hospital responder sozinho a este problema”, alerta, frisando que há hospitais de Lisboa e Vale do Tejo que de manhã estiveram dois fechados ao CODU - o de Amadora-Sintra e o de Santarém.

João Gouveia fez, por isso mesmo, questão de sublinhar a importância de os hospitais comunicarem entre si como sucedeu durante a pandemia de covid-19, lamentando que o Santa Maria tenha sabido do encerramento das urgências pelas ambulâncias que estão à porta e não pelos unidades que têm os serviços encerrados.

Questionado sobre quantos pedidos de escusa às horas extraordinárias foram apresentados pelos médicos no Santa Maria, especificou que foram 10 de especialistas de cirurgia geral e todos os internos deste serviço, mas assegurou que isso ainda não se traduz ainda em alterações de escala ou em risco da actividade programada e da urgência. "Agora, se continuarem estes pedidos de escusa, quer no Santa Maria, quer nos outros hospitais, é lógico que vá haver problemas, primeiro na actividade programada e depois na urgência", avisou.

De acordo com o balanço mais recente, são mais de dois mil os médicos que já entregaram às administrações hospitalares e direcções clínicas declarações em que se recusam a fazer mais do que as 150 horas extraordinárias anuais a que estão obrigados, o que está a deixar cada vez mais serviços de urgência sem profissionais para completar escalas e a não conseguir receber doentes, que são encaminhados para as unidades de fim de linha.

com Lusa

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