Os professores que nunca morrem

Podemos resumir a imortalidade do professor convocando dez argumentos-chave.

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Ensinar é um exercício de imortalidade. De alguma forma continuamos a viver naqueles cujos olhos aprenderam a ver o mundo pela magia da nossa palavra. O professor, assim, não morre jamais (Rubem Alves, 2006)

Foi pedido a algumas dezenas de profissionais (gestores, juristas, estudantes, professores…) que escrevessem uma memória marcante de um professor que tivessem tido. Este pedido gerou 40 narrativas reunidas e publicadas em 2022 num livro digital que sustentava a tese de que há professores que nunca morrem.

Neste texto vamos procurar explicar o porquê, glosando os argumentos gerados pelos autores das narrativas. E podemos resumir a imortalidade do professor convocando dez argumentos-chave:

i) Encorajamento. Encorajar (e é bom recordar que coragem e encorajar derivam da palavra latina cor, cordis, coração) é uma das ações essenciais do professor. Um bom professor é capaz de inspirar seus alunos e despertar seu interesse pelos assuntos que devem ser aprendidos. Porque a aprendizagem não pode ser prescrita, porque não se pode obrigar o aluno a aprender. Por isso, é essencial acreditar nas possibilidades de aprender, fazer germinar a sede (e a fome) de aprender, encorajar. Para enfrentar obstáculos, desânimos, ameaças permanentes de desvinculação.

ii) Desafio. Uma das missões do professor é ser capaz de desafiar, ativar a curiosidade, gerar o prazer de descobrir problemas, resolver enigmas, despertar o fascínio da descoberta e do espanto. Para isso, o professor tem de aprender a estar calado, fazer emergir a vontade, a autodeterminação do querer. Diria que esta é uma das pedras angulares da ação docente.

iii) Provocação. Provocar é chamar o aluno para a ação intelectual, empírica, práxica. Convocar para compreender a beleza do conhecimento, o fascínio da arte, da estética, das tecnologias. Sem este chamamento para a ação de intervir, de participar, de construir projetos de vida, corremos, frequentemente, o risco de termos alunos que são meros espetadores de uma narrativa que nada lhes diz ou até nem ouvem.

iv) Conhecimento. Explicação. É essencial que o professor tenha um profundo conhecimento da matéria que está a ensinar para transmitir informações precisas e relevantes. E mostrar o entusiasmo neste ato de revelação e construção de conhecimento. Mas também ensinar o que não se sabe. Porque ninguém sabe tudo. E é imprescindível ensinar os alunos a procurar o que ainda não sabemos.

v) Exigência. O bom professor é exigente. Mas esta exigência tem de ser inclusiva. Deve exigir na medida máxima das possibilidades de aprendizagem de cada aluno, nas Zonas de Desenvolvimento Proximal [ZDP], como nos ensinou Vigotski. Só deste modo a exigência é fator de aprendizagem e de realização pessoal.

vi) Persistência. O professor que nunca morre persiste, não desiste do axioma de que todo o ser humano é capaz de aprender. Coisas diferentes, de modo diferente, certamente. Persistir, pois, adequando as ementas aos alunos que tem. Sabendo que é uma profunda e nefasta ilusão querer ensinar tudo a todos como se todos fossem um. Esta ilusão maior dos sistemas educativos irá condená-los à sua progressiva extinção.

vii) Personalização. Se todos são diferentes, possuem inteligências múltiplas (embora alguns puristas das ciências cognitivas digam que só existe uma), têm ritmos diferentes de aprendizagens, então é imperativo diferenciar e personalizar (e é também por isso que a turma fixa e rígida é um elemento arqueológico do sistema de ensino).

viii) Paixão. Um bom professor gosta de ensinar, gosta de outros seres humanos e está comprometido com o sucesso dos alunos.

ix) Empatia. Um bom professor compreende as necessidades emocionais e individuais de seus alunos, criando um ambiente de apoio, securização e respeito.

xi) Comunicação. Um bom professor avalia o progresso dos alunos de forma justa e fornece feedback construtivo para ajudá-los a melhorar.

Estes são os professores que nunca morrem. Como narrava um dos testemunhos: “admiro-o profundamente pela sua sabedoria, pela forma fantástica como me interpelava. O fascínio conduziu-me à minha profissão e ao caminho do que sou. Sinto uma gratidão profunda.”

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