Numa Lisboa "vendida e gentrificada” pede-se uma casa para viver

Milhares de pessoas protestaram este sábado em Lisboa por "uma casa para viver" e melhores condições de vida na cidade.

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Tambores, cânticos e palavras de ordem. Lisboa saiu à rua pelo direito à habitação e por justiça climática. Entre a Alameda e o Rossio, pediu-se uma casa para viver e um planeta para habitar. Apontou-se o dedo ao “desalojamento local”, confessou-se que “a renda dói”, exigiu-se uma “cidade para as pessoas” porque a “habitação é um direito” e “sem ela, nada feito”. 

O PÚBLICO conversou com manifestantes, pessoas de várias gerações, que marcaram presença. E não só. Havia quem ali estivesse por acaso. Ao lado da concentração na praça Dom Pedro IV, passeava Michael Behzad, de 73 anos. Vive a maior parte do tempo em Los Angeles e lamenta que as rendas em Lisboa sejam incomportáveis. Disse estar solidário com as pessoas que ali se manifestam. Assume que não está no mesmo barco e conta que comprou uma casa em Cascais há poucos dias. Custou-lhe 2.5 milhões de euros. Garante estar disposto a para pagar impostos e que o fará quando Portugal lhe cobrar as taxas necessárias para tornar a situação mais sustentável para todos.

Aos 28 anos, André Dias tem um trabalho e vive numa casa arrendada com outras pessoas. Está aqui por si e por todos os que não conseguem pagar uma habitação justa. Teve a sorte de poder arrendar, diz, deixando de fazer parte daqueles que, perto dos 30 anos, ainda vive em casa dos pais. A essa sorte, como lhe chama, de ter encontrado uma casa a um preço possível, em Arroios, Lisboa, junta-se a incerteza do futuro e a tensão diária de lidar com uma situação cada vez mais difícil e imprevisível.

Com a mesma idade, Matilde Sambado candidatou-se ao programa de apoio à renda Porta 65, sem sucesso, porque tem um ordenado demasiado baixo para a renda da cada onde vive. Luta pelo direito a viver em Lisboa, e acredita que se chegará a uma situação de ruptura se nada for feito para dar resposta a este direito básico das pessoas.

Gabriela Garcês participou no desfile e manifestação, mesmo não sendo para ela uma situação fácil pelos seus 68 anos. Sairá sempre que reconhecer razão às causas. “É um acto cívico, temos de participar para que as coisas melhorem.” Tem casa própria do outro lado do Tejo, mas sempre quis viver em Lisboa, um sonho que se tornou impossível de concretizar. 

Também Magda Burity, de 48 anos, que nasceu em Alcântara e cresceu na Alameda e luta pelo direito a viver na sua cidade. 

Em Lisboa, a manifestação partiu da Alameda pouco depois 15 horas. Chegados ao Rossio, ouviram-se intervenções das plataformas Casa para Viver e Their Time to Pay. Exigiram-se “soluções urgentes” para a crise da habitação e pela justiça climática. Para fechar a manifestação "Casa para Viver, Planeta para Habitar", seguiram-se três concertos de artistas que apoiam o movimento: Luta Livre, A Garota Não e Luca Argel. 

Dezenas de milhares de pessoas saíram à rua em 24 pontos de encontro por todo o país, de Braga a Faro.