Escritora Alice Vieira vence prémio ibero-americano de literatura infantil e juvenil

A autora de Rosa, Minha Irmã Rosa foi distinguida pelo seu “estilo pessoal que transcende gerações e culturas”, assim como pela “grande qualidade literária e diversidade da sua obra”.

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Alice Vieira fotografada no ano passado na Ericeira Miguel Manso

“Desta vez, é que foi”, dizia a mensagem que a escritora Alice Vieira recebeu nesta sexta-feira da Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas (DGLAB), ao saber que vencera a edição deste ano do Prémio Ibero-Americano SM de Literatura Infantil e Juvenil.

A autora, que começou por ser conhecida através do livro Rosa, Minha Irmã Rosa, foi distinguida porque “constrói de forma verosímil personagens infantis e juvenis cativantes, com sentimentos profundos e complexos.”

E o júri considerou ainda que a autora portuguesa tem a capacidade de “perceber e interpretar o mundo interior de crianças e adolescentes”, através de uma “observação apurada dos pormenores da vida quotidiana”, e consegue “transformar uma história local em universal”. O prémio foi-lhe atribuído por unanimidade.

Alice Vieira já tinha sido proposta pela DGLAB a este prémio que tem como objectivo impulsionar a literatura infantil e juvenil no espaço ibero-americano, em anos anteriores — em 2009, 2018, 2022 e 2023. Nos dois últimos, a candidatura foi feita em conjunto com António Mota. Este ano, o prémio recebeu candidaturas de autores provenientes da Argentina, Chile, Colômbia, Espanha, México, Portugal e Uruguai.

“Sou a primeira escritora portuguesa a receber o prémio”, disse ao PÚBLICO nesta sexta-feira Alice Vieira. A autora de A Charada da Bicharada estava “muito contente e até radiante, por vários motivos”: “Não é só um certificado para pôr na parede, ganha-se um bom dinheiro, e eu gosto que me dêem prémios. Trabalho que me farto.” Atribuído desde 2005 pela Fundação SM, mexicana, o prémio que será entregue no dia 28 de Novembro na Feira Internacional do Livro de Guadalajara, no México, tem o valor de 30 mil dólares (cerca de 28 mil euros).

Sobre o destino a dar ao valor recebido, começa por brincar: “Vou viajar, nunca mais me apanham.” Mas, recordada da hesitação transmitida à Agência Lusa sobre a ida a Guadalajara para a entrega do prémio, diz: “Não sei ainda. Hei-de fazer qualquer coisa com o dinheiro.” A escritora tinha dito não saber se iria estar presente em Guadalajara, “recordando os seus 80 anos e a vontade de abrandar”.

Alice Vieira considera que os tradutores e editores também estão de parabéns e só tem memória de uma alteração de tradução em que interveio. Tratava-se de uma versão alemã para Rosa, Minha Irmã Rosa, em que “puseram a criança a fazer toda uma descrição sobre o 25 de Abril, quando no original ela apenas disse que estava contente porque não tinha escola”. A explicação “didáctica” da informação seria depois deslocada para “uma nota de rodapé e tudo acabou em bem”.

A conversa com o PÚBLICO foi apressada, pois a escritora e sobretudo jornalista, nascida em 1943, licenciada em Filologia Germânica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, tinha dois artigos para escrever: para o Jornal de Mafra e para a revista Éter. Em mãos, tem também um romance, para adultos. Revela que “só leva ainda duas páginas, não é autobiográfico, mas há histórias que algumas pessoas podem reconhecer”. Passa-se em vários locais de Portugal, diz a “jornalista que escreve livros” e sempre e só sobre aquilo que conhece.

O júri, que a escolheu entre 14 finalistas, era composto por Juana Inés Dehesa Christlieb, da Organização dos Estados Iberoamericanos (OEI), Freddy Gonçalves da Silva, do Centro Regional para o Fomento do Livro na América Latina e no Caribe (Cerlalc), Alicia Espinosa de los Monteros, pelo Conselho Internacional de Livros para Jovens (IBBY México), Rodrigo Morlesin, da secção mexicana da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), e por Teresa Tellechea Mora, em representação da Fundação SM.

Para José Jorge Letria, presidente da Sociedade Portuguesa de Autores, este é “um prémio muito merecido pela extensão e diversidade da obra” da escritora e jornalista. Diz ainda: “É um reconhecimento internacional importante e que muito nos satisfaz.”

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