Intervenção social com vítimas de violência sexual

É necessário compreender o impacto que a situação de violência tem (ou teve) na comunidade, mais precisamente nos grupos e nos contextos que a vítima integra.

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A violência sexual é um fenómeno complexo e de difícil entendimento por parte da comunidade em geral, assumindo um impacto traumático para a criança/jovem/adulto vulnerável que foi vítima e, também, para a sua família e amigos. Por isso, quando pensamos no apoio a prestar às vítimas, devemos também ter em consideração a necessidade de uma intervenção que potencie o suporte familiar e social, adotando uma abordagem multidisciplinar.

Os familiares das vítimas devem ser ajudados a lidar com as suas próprias emoções, sendo frequente sentirem-se zangados, impotentes e culpados. Aumentando os seus conhecimentos sobre as dinâmicas da violência sexual e potenciando competências para lidar com a situação e apoiar a vítima, minimizam-se os riscos de uma possível revitimização.

Em paralelo, é necessário compreender o impacto que a situação de violência tem (ou teve) na comunidade, mais precisamente nos grupos e nos contextos que a vítima integra. Aqui, e pensando em crianças ou jovens, é importante avaliar de que forma se sentem e como reagem os seus colegas da escola, do grupo desportivo ou da catequese, por exemplo. Sabemos que a forma como o grupo de pares e a comunidade lida com a situação tem um impacto muito significativo no bem-estar da vítima, assumindo-se como fundamental uma intervenção que vise também minimizar o risco de estigmatização.

Na intervenção com vítimas de violência sexual, o assistente social tem como objectivo o empoderamento da pessoa, bem como da própria comunidade onde está integrada, procurando, dessa forma, que a pessoa não se resuma à condição de vítima, mas que seja também um agente ativo no seu processo de mudança. Adicionalmente, o profissional deve acionar os recursos necessários para que seja providenciado um adequado suporte, não apenas junto das vítimas, mas também – como estratégia de prevenção – junto dos agressores.

A ausência de uma intervenção familiar e comunitária pode levar a que muitas pessoas mantenham o segredo e não denunciem a violência de que foram vítimas, pela pressão e/ou ausência de suporte. Paralelamente, a ausência de suporte social, familiar, institucional e jurídico que ampare a vítima após a denúncia potencia a que a mesma se sinta ameaçada, impotente e estigmatizada.

Tal como em muitas outras situações, o assistente social desempenha um papel fundamental na intervenção com vítimas de violência sexual, ativando estruturas de apoio e os recursos necessários para cada situação em concreto, nomeadamente:

- Apoio emocional, ao proporcionar um espaço seguro e contentor para que as vítimas possam falar da sua experiência e daquilo que sentem;

- Coordenação dos serviços, encaminhando as vítimas para os profissionais especializados (ao nível da saúde mental e apoio jurídico, por exemplo);

- Avaliação das necessidades das vítimas e das suas famílias, identificando os recursos e os serviços mais adequados;

- Informação e psicoeducação, ao proporcionar informação sobre os direitos das vítimas, as opções disponíveis e os diversos procedimentos legais, para que tomem decisões conscientes e informadas;

- Defesa, actuando como defensores dos direitos das vítimas e trabalhando em seu nome na garantia de que têm acesso aos apoios necessários;

- Prevenção, ao estarem envolvidos em programas na comunidade, promovendo a consciência sobre o tema e desenvolvendo estratégias de segurança.

Em suma, o assistente social contribui para que os direitos sociais das vítimas, mas também da sua família e amigos, sejam assegurados, sendo certo que o suporte familiar e social é determinante para o processo de recuperação e elaboração do trauma.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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