Lego desiste de tentar fabricar peças sem petróleo (mas não desistiu de ser sustentável)

Material feito de garrafas de plástico recicladas iria implicar uma mudança completa das fábricas. Nova estratégia passa por melhorias incrementais e foco na economia circular.

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A Lego tinha-se comprometido anteriormente a substituir as peças de plástico à base de petróleo por outras feitas de materiais sustentáveis até ao final da década Daniel Rocha

A Lego abandonou os esforços para eliminar os plásticos derivados do petróleo das suas peças, depois de ter descoberto que a produção do novo material provocaria maiores emissões de carbono, noticiou este domingo o diário económico Financial Times (FT).

O fabricante dinamarquês de brinquedos descobriu que as peças feitas de tereftalato de polietileno reciclado (RPET) – um novo material feito a partir de garrafas recicladas – provocariam maiores emissões de carbono, tendo em conta a troca de equipamento necessária.

Tim Brooks, director de sustentabilidade da Lego, afirmou ao Financial Times que, por si só, o RPET é mais macio do que o ABS (acrilonitrilo butadieno estireno)​, material actualmente usado para produzir cerca de 80% das peças da Lego. Ou seja, precisa de ingredientes adicionais para garantir segurança e durabilidade semelhantes às do plástico existente – e também grandes quantidades de energia para processar e secar o material. "É como tentar fazer uma bicicleta de madeira em vez de aço", resumiu Brooks.

A Lego vai, assim, tentar melhorar a pegada de carbono do ABS, que na sua produção actual necessita de cerca de dois quilos de petróleo para produzir um quilo de plástico. "Não se vai passar de 0% a 100% sustentável de um dia para o outro, mas vamos integrar elementos com base em biomateriais ou em materiais reciclados. Talvez seja 50%, 30% ou 70% com base nisso", afirmou Niels Christiansen, director executivo da Lego.

A via crucis da transição

A Lego tinha-se comprometido anteriormente a substituir as peças de plástico à base de petróleo por outras feitas de materiais sustentáveis até ao final da década. Como nota o FT, trata-se de um sinal das "complexas soluções de compromisso que as empresas enfrentam no caminho para a sustentabilidade".

Em 2018, a Lego começou a produzir as peças mais macias, que representam árvores e arbustos, a partir de um plástico à base de cana-de-açúcar, numa tentativa de, gradualmente, acabar com a utilização de petróleo.

Em 2020, a empresa tinha começado a trabalhar para substituir os seus icónicos "tijolos" de plástico por materiais sustentáveis. A dificuldade era encontrar um material que fosse amigo do ambiente mas que desse a mesma cor, brilho e som que as peças de plástico à base de petróleo.

"Testámos centenas e centenas de materiais. Não foi possível encontrar um material como este", afirma o director executivo da Lego, Niels Christiansen, ao Financial Times.

A aposta, explica, passa também pela economia circular: reutilizar ou reciclar os milhões de Legos abandonados depois de as crianças que brincavam com eles crescerem.

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