Não gosto de osgas, mas elas são nossas amigas

Até hoje não assisti a campanhas de sensibilização ou de educação ambiental para que todos possamos ajudar a preservar a espécie, já que as crenças populares julgam que se trata de um réptil venenoso.

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Megafone P3: Não gosto de osgas, mas elas são nossas amigas Mahmoud Yahyaoui/ Pexels
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Não gosto nada de osgas, sei que muitas pessoas também não e elas teimam em aproximar-se de mim. No momento, é uma osga bebé que sobe pelo estore da janela da cozinha. No outro dia, estava eu a lavar a loiça e ela colada ao estore junto ao vidro a olhar para mim com grande lata, graças às lamelas adesivas que tem nos dedos! Sendo um réptil nocturno, esta é ousada!

O facto é que tenho tido praga de formigas no quintal, um alimento de qualidade para a jovem menina e se surgirem aranhas, grilos ou besouros, ela trata de os ingerir. Será muito bem-vinda para comer os piolhos das plantas do jardim. Parece que o hábito deste animalzinho asqueroso é apanhar sol durante a manhã e procurar comida durante a noite.

Herpetofobia é o nome que se dá a quem tem medo de repteis. Li sobre algumas soluções para espantar os controladores naturais de insectos: se não os quiser no quintal, podemos borrifá-los com água gelada de forma amistosa, colocar cascas de ovos ou penas de pavão espalhados ou fazer repelente caseiro com especiarias.

A Tarentola mauritanica gosta de viver em zonas pedregosas, em troncos apodrecidos, mas também em áreas urbanas. Diz-nos a Bíblia King James actualizada "a lagartixa, que qualquer pessoa pode pegar com a mão, contudo, habita também nos palácios dos grandes monarcas!".

Não tenho a mania da perseguição, só não gosto de repteis. Dizem que é um medo ancestral e não condeno quem goste. Também não as mato nem tenho superstições ou crenças de que elas chupam o sangue humano, urinam nos olhos ou são peçonhentas. Repugnam-me, simplesmente. Entendo sim o beneficio que nos trazem e, como tal, até escrevo o texto em sua defesa, o que parece um contra-senso, na verdade.

Sei que os amantes desta trepadora a podem criar num terrário e que a esperança de vida é de aproximadamente 12 anos. Outro aspecto interessante é que os machos, na época de acasalamento, produzem sons, têm voz forte, o que serve também para afastar predadores. Os seus gritos curtos são repetidos sucessivamente, enquanto as fêmeas respondem com um grito apenas. Devem ser senhoras do seu nariz, determinadas, sabendo qual a melhor escolha.

Apesar de não ambicionar ter alguma dentro de casa, imagino o que seria ter uma à solta para ingerir mosquitos, moscas e traças, evitando assim a poluição do ambiente e gasto monetário com insecticidas. Para evitá-las dentro de casa será indispensável colocar um rolo na ranhura da porta ou fita adesiva, proteger janelas ou tapar fissuras, manter a cozinha limpa de restos de comida e migalhas no chão. Nos cantos, colocar folhas de louro, cebola cortada ou cascas limão, pois não suportam tais odores.

Afinal, elas são nossas amigas e precisamos de conscientizar para essa realidade. Até hoje não assisti a campanhas de sensibilização ou de educação ambiental para que todos possamos ajudar a preservar a espécie, já que as crenças populares julgam que se trata de um réptil venenoso, porém inofensivo. Para a osga-leopardo, uma das ameaças é precisamente o comércio como animal de estimação.

As osgas hibernam durante os três meses mais frios, necessário para a sua reprodução. E quando se sentem em perigo, podem libertar a cauda, que voltará a crescer.

Para mim não têm grande beleza quando estão por perto e dizem-me os meus filhos que nem parece que cresci no campo. Já para as crianças, as osgas são o verdadeiro fascínio, ficam entusiasmadas e não têm medo algum. Os quintais tornam-se verdadeiros observatórios e locais de aprendizagem. Não gosto de osgas, mas elas teimam em aproximar-se de nós.

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