Milhares de pessoas manifestam-se em Praga contra governo pró-ocidental

Partido nacionalista de fundação recente acusa executivo de ser “vassalo” de Bruxelas e Washington e critica apoio militar à Ucrânia.

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Os manifestantes mostraram descontentamento com a inflação, com o apoio à Ucrânia e a pertença à NATO MARTIN DIVISEK/EPA
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Uma manifestação contra o Governo checo organizada por um novo partido nacionalista reuniu milhares de pessoas em Praga no sábado.

Umas 10 mil pessoas saíram à rua, segundo a agência de notícias checa CTK, para reclamar da forma como o executivo de Petr Fiala, de centro-direita, está a lidar com a inflação elevada e a gerir os impostos e as pensões. Durante a concentração ouviram-se ainda críticas a vários outros temas: o apoio militar à Ucrânia, as relações da República Checa com os Estados Unidos e a NATO, o apoio à descarbonização da economia e as medidas de confinamento para conter a propagação da covid-19.

“Demos mais um passo hoje para tirar do caminho a pedra que é o Governo de Fiala”, disse à multidão o líder do PRO, Jindrich Raichl. Trata-se de um partido sem assento parlamentar, fundado em Junho do ano passado, que assumiu uma linha política nacionalista, denunciando o que diz ser “uma vassalagem a Bruxelas e a Washington” do actual Governo.

“Nós não queremos um governo da União Europeia, não queremos um governo americano ou ucraniano, não queremos um governo russo ou chinês, queremos um governo checo para o povo checo”, disse Raichl. No seu discurso, criticou as políticas económicas de Fiala e disse que o “afluxo de migrantes económicos da Ucrânia” está a deixar o Estado social checo “a ponto de rebentar”.

A manifestação deste sábado aconteceu sensivelmente um ano depois de uma outra ter reunido, também em Praga, cerca de 70 mil pessoas que pediram a saída da República Checa da União Europeia e de outras instituições internacionais. Tem havido protestos semelhantes ao longo dos últimos meses e pelo menos um terminou em confrontos com a polícia, mas nenhum alcançou a participação do primeiro. Segundo a CTK, Raichl criticou os meios de comunicação tradicionais por alegadamente subdimensionarem os protestos e aconselhou os manifestantes a informarem-se através de “canais alternativos”.

Durante uma manifestação semelhante, em Abril, o líder do PRO afirmou que o partido tem apenas 257 militantes inscritos e “talvez dezenas de milhares de simpatizantes registados”. Uma sondagem dessa altura dava-lhe cerca de 3% nas intenções de voto.

Na manifestação de sábado, um participante que envergava uma t-shirt com o símbolo do grupo paramilitar russo Wagner foi detido.

Noutra cidade checa, Ostrava, decorrem este fim-de-semana os chamados NATO Days, em que as Forças Armadas da aliança se mostram ao público: há espectáculos aéreos, demonstrações de tanques e cavalaria e simulações de vários cenários de guerra e combate ao crime. Petr Fiala esteve na abertura e reafirmou o compromisso checo com a NATO. Instado a comentar o protesto de Praga, disse que a presença de cerca de 100 mil pessoas no festival militar eram uma demonstração de apoio à sua política pró-atlantista.

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