Ambiente levanta auto à Sugal por causa da poluição na Vala Nova de Benavente

A Vala Nova de Benavente, recorde-se, tem, desde 10 de Agosto, boa parte das suas águas com uma coloração negra e aspecto oleoso.

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Água têm um aspecto oleoso
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A Agência Portuguesa do Ambiente (APA) levantou, esta semana, um auto de notícia ao Grupo Sugal por “incumprimentos” detectados nas condições de rejeição de águas residuais da fábrica de transformação de tomate de Benavente. A empresa tem, agora, um prazo para contestar/justificar os resultados da “bateria” de análises feita a amostras recolhidas, no dia 22, na Vala Nova de Benavente e na zona de despejos da estação de tratamento da unidade industrial.

Em resposta ao PÚBLICO, a Sugal alega que ainda não foi notificada do auto de notícia e que não conhece os resultados das análises promovidas pela APA e sublinha que só depois de os conhecer tomará posição sobre os mesmos. De qualquer forma, a empresa mostra-se disponível para colaborar com as entidades competentes e garante que já tomou algumas medidas.

A Vala Nova de Benavente, recorde-se, tem, desde 10 de Agosto, boa parte das suas águas com uma coloração negra e aspecto oleoso, situação que gera também maus cheiros e terá originado a morte de uma quantidade significativa de peixe. Moradores, autarcas e técnicos de ambiente da Câmara benaventense afirmaram, entretanto, que esta poluição só poderia estar relacionada com a vizinha fábrica da Sugal-Idal, única unidade industrial relevante da região.

Em resposta ao PÚBLICO, a APA sustenta, agora, que a avaliação dos resultados das múltiplas análises efectuadas a amostras recolhidas na Vala Nova e no canal de despejos da fábrica “evidenciam incumprimentos, por comparação com os Valores Limite de Emissão (VLE) previstos nas condições de descarga” definidas pelo Título de Rejeição de Águas Residuais daquela fábrica. Foram, também, detectados incumprimentos nos “critérios para a classificação das massas de água (agrupamento sul), nomeadamente, os valores limite para o bom estado das massas de água”.

Já o Sugal Group sublinha que o tempo especialmente seco pode ter contribuído para alguma situação eventualmente ocorrida na Vala Nova, mas explica que “o processo de produção de transformação de tomate é apenas um processo de evaporação, não incorporando a adição de aditivos químicos. Nesse sentido, a água libertada contém matéria orgânica proveniente dos campos onde são cultivados os tomates. As nossas descargas são assim compostas por matéria biodegradável”.

“A unidade de tratamento a funcionar poderá, face a situações imprevistas, ter tido desvios pontuais, alguns dos quais previstos na regulação aplicável. Os parâmetros agora medidos encontram-se dentro dos valores regulamentados, designadamente, no que respeita aos sólidos suspensos”, acrescenta a Sugal, vincando, que “face ao eventual incidente” procedeu, “de imediato”, à tomada de medidas, nomeadamente, a aferição da gestão da ETAR e controlo detalhado e permanente.

“É preciso ter em conta que esta situação (ocorrida na Vala Nova) coincidiu com um período de calor extremo verificada nos meses de Julho e Agosto, a seca severa que se verificou desde a Primavera (ausência de chuva desde Março)”, refere a empresa, acrescentando que em Agosto se verificou, igualmente, “uma maré viva, que aportou águas ‘nem sempre limpas’ e salobras à Vala Nova, seguindo-se um longo período em que não houve renovação da água, levando a um efeito conhecido como ’valas mortas’”.

Nesse sentido, a Sugal considera que “estes fenómenos de elevado calor conjugado com a falta de renovação de água, presença de matéria orgânica histórica podem, por si só, criar ou agravar situações de degradação da água. Por outro lado, a situação de calor extremo vivida nos meses de Julho e Agosto contribuiu para uma degradação do tomate recebido na fábrica, originando um aumento da carga orgânica a tratar pela ETAR. Podem ter existido desvios pontuais em alguns parâmetros das águas descarregadas, potencialmente devidos a esta situação”, admite a empresa, defendendo, contudo, que, de acordo com especialistas e académicos independentes, “não pode ser feita uma relação directa entre estes desvios com a situação verificada na Vala Nova”, que “pode ser resultante de diversos factores (conjugados ou não)”.

“É preciso ter também em consideração que, como ocorre há dezenas de anos as várias actividades envolventes, tais como a agrícola, drenam para a vala, assim como a descarga da Sugal. Este efeito levou à acumulação de sedimentos que podem entrar em suspensão, consumir oxigénio e contribuir para que esta massa de água passe para anaerobiose (as águas ficam sem oxigénio suficiente para a sua adequada manutenção)”, afirma a Sugal que, questionada pelo PÚBLICO sobre a eventual necessidade/possibilidade de uma revisão dos parâmetros de descarga dos seus efluentes devido às alterações climáticas, afirma que “já demonstrou e tem total disponibilidade para colaborar com as entidades envolvidas, estabelecendo um contacto permanente com as autoridades competentes e as equipas técnicas responsáveis pela análise da situação”.

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