Bombeiros ameaçam cobrar pelas horas em que ficam parados à porta das urgências

Em causa está, na maior parte dos casos, a inexistência de macas para transferir os doentes. Ambulâncias chegam a ficar dez horas indisponíveis para o socorro, diz presidente da Liga dos Bombeiros.

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Ambulâncias retidas podem levar a atrasos no socorro SERGIO AZENHA
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A Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP) ameaça começar a cobrar aos hospitais o tempo que as ambulâncias e as respectivas tripulações ficam retidas nas urgências, principalmente devido à inexistência de macas para os doentes serem instalados.

A ameaça foi feita esta terça-feira pelo presidente da Liga, António Nunes, ao PÚBLICO, depois de o Jornal de Notícias ter avançado que os bombeiros exigem que os hospitais lhes paguem o tempo que ficam parados à porta das urgências.

“Não é tolerável nem para os bombeiros nem para as populações que as ambulâncias fiquem retidas num hospital quatro, cinco, seis ou até dez horas para além do necessário”, sublinha António Nunes, que reconhece que o problema é antigo, mas que se tem agudizado em alguns locais.

Além de um desperdício de recursos, sublinha o dirigente, esta paragem afecta a rapidez do socorro, já que enquanto a maca não é entregue, a ambulância fica indisponível. “Aquela comunidade vai ficar sem aquela ambulância e, se necessitar dela, terá que vir uma de fora. Isto depois dá que, por vezes, tenhamos que socorrer pessoas a uma hora e meia de distância”, afirma Nunes.

Para o dirigente este é sobretudo um problema de organização dos hospitais, muitas vezes associado à falta de manutenção das macas.

Adianta que há outros motivos que justificam a retenção dos bombeiros nas urgências, como a falta de médicos, a entrega de colares cervicais ou dos planos duros usados para imobilizar vítimas politraumatizadas, mas diz que estas situações têm uma escala muito menor.

Apesar de reconhecer que o pagamento não resolve o problema de fundo, o presidente da LBP diz que, pelo menos, mitiga o impacto negativo que esta situação tem nas corporações. António Nunes diz que os bombeiros exigem receber 28 euros por hora, que é o valor da taxa que recebem por cada saída numa das suas ambulâncias.

O dirigente da Liga admite que esta questão já foi discutida com o Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), com o Ministério da Saúde e com a Direcção Executiva do Serviço Nacional de Saúde (DE do SNS). É com esta entidade que António Nunes se espera reunir novamente este mês para discutir este problema. Contactada pelo PÚBLICO, a assessoria de imprensa da DE do SNS confirmou que deverá ocorrer em breve uma reunião entre os dois organismos.

Exigem 28 euros hora

"Se o problema não se resolver em breve, em Outubro ou Novembro as corporações vão começar a apresentar aos hospitais documentos de despesa todas as horas além da primeira, que consideramos como razoável", garante o presidente da Liga.

O PÚBLICO também contactou o INEM que garantiu não ter dados sobre a dimensão deste problema e desvalorizou o seu impacto nos atrasos do socorro, destacando ter ao seu serviço mais de 600 meios de emergência no país. O instituto garante que as ambulâncias ficam retidas nos hospitais por várias causas, como a utilização do equipamento de imobilização em vítimas de trauma que, por vezes, só é retirado após os doentes realizarem exames complementares de diagnóstico (Raio-x, TAC, etc.).

"Outro motivo prende-se com o necessário processo de limpeza e desinfecção das ambulâncias após entrega dos utentes nas unidades de saúde. A ambulância só fica disponível após concluído o processo de limpeza, que em alguns casos pode ser mais demorado. E, em alturas de maior afluência aos serviços de urgência hospitalares, também é expectável que as ambulâncias fiquem mais tempo retidas", argumenta o INEM.

"A retenção dos meios do Sistema Integrado de Emergência Médica (SIEM) nos serviços de urgência é acompanhada em tempo real pelos Centros de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) do INEM e, sempre que tem impacto na actividade, o CODU contacta as unidades hospitalares para tentar agilizar a libertação dos meios retidos", acrescenta o instituto.

António Nunes diz que este não é um problema de todo o país, mas concentra-se nas duas áreas metropolitanas (Lisboa e Porto), com bastante maior incidência na que inclui a capital. Em termos distritais, o presidente da Liga elege Setúbal como o caso mais problemático com as ambulâncias a ficarem paradas horas à porta das urgências “quase a um ritmo diário”. Relativamente aos hospitais mais críticos, fala ainda do de Loures, do Amadora-Sintra e do de Almada. No Porto, diz que por vezes tem afectado o hospital de S. João.

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