O Verão de 2023 já é o mais quente desde que há registos, confirmam os cientistas

Os meses de Junho a Agosto em 2023 foram os mais quentes a nível global desde 1940, com uma temperatura média de 16,77 graus Celsius, 0,66 graus acima do normal, diz o serviço Copérnico, da UE.

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Estamos apenas a um triste passinho de ultrapassarmos o ano mais quente de sempre GettyImages
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O Verão de 2023 foi o mais quente desde que há registos, segundo o programa europeu de monitorização do clima Copérnico. Esta estação do ano só acaba a 23 de Setembro mas as temperaturas médias globais durante os três meses de Verão (Junho, Julho e Agosto) já são as mais elevadas jamais medidas. Estamos apenas a um triste passinho de ultrapassarmos o ano mais quente de sempre, que foi 2016: faltam 0,01 graus Celsius para 2023 bater o recorde. “O colapso climático já começou”, reagiu António Guterres.

Os meses de Junho a Agosto em 2023 foram os mais quentes a nível global, por larga margem, diz um comunicado do Copérnico: a temperatura média global foi de 16,77 graus Celsius, o que é 0,66 graus acima da média calculada com dados desde 1940, constatam os cientistas do Copérnico e da Organização Meteorológica Mundial, que divulgaram os dados em conjunto.

Na Europa, essa anomalia foi ainda mais notória: a temperatura média para os meses de Verão foi de 19,63 graus este ano, o que é 0,83 graus acima dos valores dos últimos 83 anos.

Estes dados referem-se ao Verão meteorológico, os três meses mais quentes do ano numa região, que no hemisfério Norte são Junho, Julho e Agosto, e que é usado normalmente por meteorologistas e climatólogos. O Verão astronómico define-se pela posição da Terra em relação ao Sol, que resulta em dias mais longos e noites mais curtas, e decorre entre o solstício de Verão, entre 20 e 22 de Junho, e o equinócio de Outono, que cai este ano a 23 de Setembro.

Este Agosto foi o mais quente a nível global desde que temos registos, e mais quente do que todos os meses excepto Julho de 2023. A temperatura média do ar em Agosto em todo o planeta foi de 16,82 graus, o que foi 0,71 graus mais elevado do que a média para Agosto entre 1991 e 2020, e 0,31% mais quente do que o anterior mês de Agosto mais quente, o de 2016.

Estima-se que o mês de Agosto de 2023 tenha sido cerca de 1,5 graus mais quente do a média nos tempos do início da Revolução Industrial (1850-1900).

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Imagem aérea dos destruidores incêndios na Grécia durante este Verão GettyImages

“O colapso climático começou”, reagiu o secretário-geral das Nações Unidas. “Há muito tempo que os cientistas nos avisam sobre as consequências da nossa dependência dos combustíveis fósseis. O nosso clima está a implodir com maior rapidez do que a resposta que conseguimos dar, com fenómenos meteorológicos extremos, que atingem todos os locais do planeta”, afirmou António Guterres.

Recordes no mar e em terra

Os mares contribuíram para o efeito de aquecimento deste ano, porque desde Abril que se registam anomalias da temperatura da água à superfície. Agosto foi o mês em que a água esteve mais quente (20,98 graus de temperatura média, 0,55 graus acima dos valores médios desde 1940), mas em todos os dias desde 31 de Julho a 31 de Agosto a temperatura média global à superfície dos oceanos foi mais elevada do que em 2016, o ano em que até agora tinha sido mais quente.

A temperatura da água no Atlântico Norte bateu a 5 Agosto o anterior recorde de temperatura de 24,81 graus, registado em Setembro de 2022, e praticamente todos os dias desde então tem-se mantido acima deste nível. Foi atingido um novo recorde, de 25,19 graus, a 31 de Agosto, diz o Copérnico. Desenvolveram-se ondas de calor marinhas no Atlântico Norte a ocidente da Península Ibérica e no Mediterrâneo.

No Leste do Pacífico equatorial continua a desenvolver-se o fenómeno El Niño, que se caracteriza pelo aquecimento das águas à superfície, o que desencadeia vários outros fenómenos meteorológicos.

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Um campo de girassóis secos GettyImages

A extensão dos gelos na Antárctida continua num nível excepcionalmente baixo para esta época do ano, com um valor mensal 12% abaixo da média – é a anomalia negativa mais significativa desde que se iniciaram observações por satélite, no fim da década de 1970. A superfície gelada na Antárctida está 10% abaixo da média, embora esteja ainda bem acima do mínimo, registado em Agosto de 2012, diz a Organização Meteorológica Mundial.

Pode ser o ano mais quente

“Os recordes de temperaturas globais continuam a cair em 2023, com o Agosto mais quente de sempre a seguir-se ao Julho mais quente e ao Junho mais quente. Isto fez com que este seja o Verão mais quente no hemisfério Norte dos nossos registos, que recuam até 1940”, disse Samantha Burgess, vice-directora do Serviço de Alterações Climáticas do Copérnico (C3S).

“O ano de 2023 está neste momento classificado como segundo mais quente desde que há registos, apenas a 0,01 graus atrás de 2016, e ainda restam quatro meses neste ano”, sublinhou Samantha Burgess.

“A probabilidade de vermos outros Verões extremos nos próximos anos é muito alta”, disse, em entrevista ao El País, o director do C3S, Carlo Buontempo. “O estranho seria ver um ano muito frio, isso é que seria algo inesperado.”

Pode 2023 vir a ser o ano mais quente de sempre, disse ainda Buontempo ao jornal espanhol: “Agora estamos a 0,01 graus abaixo de 2016, que foi o ano mais quente jamais registado. Considerando também que o El Niño está a crescer, creio que há uma boa possibilidade de que [2023] venha a ser o ano mais quente de sempre. Não sabemos de certeza, mas é um cenário possível.”

Notícia actualizada com a explicação sobre a diferença entre o Verão meteorológico e o Verão astronómico.

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