Marcelo diz que a repetição de “fórmulas do passado” na política nem sempre é útil

Presidente da República defendeu a necessidade de “líderes inspiracionais”, de renovação geracional e de “novos heróis”.

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Marcelo Rebelo de Sousa alertou para as mudanças no mundo de hoje MÁRIO CRUZ
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O Presidente da República defendeu a necessidade de uma renovação geracional na política (e na sociedade em geral) e o aparecimento de “novos heróis”, sob pena de se pagar um “custo no futuro”. Marcelo Rebelo de Sousa falava aos jornalistas nesta manhã, depois de ter discursado sobre o tema na abertura das conferências do Estoril, na Universidade Nova SBE, em Carcavelos.

Numa intervenção em inglês, o chefe de Estado sustentou que o mundo em 2023 precisa de “líderes inspiracionais e não apenas de executores”. Com a guerra na Ucrânia, o digital, os novos media e os movimentos inorgânicos, são precisos “novos heróis”.

No final, Marcelo foi questionado pelos jornalistas sobre se se estava a referir à realidade portuguesa, mas rejeitou que o contexto fosse o nacional ou que os heróis fossem apenas políticos. “A todos os níveis. Lembro-me, quando era jovem, de heróis à esquerda e direita, justos ou injustos, que eram mobilizadores. Os heróis só surgem de novas ideias e lideranças, há necessidade de haver essa mudança. É inevitável, aliás, eu disse [na conferência] contra mim falo porque, verdadeiramente, sinto que a repetição apenas de fórmulas do passado muitas vezes é útil, outras vezes não abre o futuro”, afirmou, depois de lembrar que, a nível internacional, “determinados líderes” são os mesmos há “décadas e décadas”. Essa margem de mudança diminuta terá um custo no futuro, alertou.

Questionado sobre se se refere a uma renovação em próximas eleições nacionais, Marcelo respondeu negativamente. “Não tem a ver com a eleição A, B ou C, mas tem a ver com o papel da juventude nos sistemas políticos ser maior ou menor, o papel das mulheres em alguns sistemas ser maior ou menor, ou ser ainda muito baixo, o papel dos migrantes ser maior ou menor, ou ser nulo praticamente nos sistemas políticos”, esclareceu.

Lembrando que o 25 de Abril foi feito por “gerações de 20, 30 anos”, assim como outras revoluções na sociedade portuguesa, o Presidente considerou que, perante as alterações geopolíticas no mundo, seria “natural” um papel das gerações mais jovens nessa mudança. “O sistema político em geral e o europeu ainda são muito adversos a isso. Isso leva a que apareçam movimentos corporizando a ideia da mudança”, referiu.

Conselho de Estado: Costa teve “breve” intervenção, falta conclusão

A poucos dias da segunda parte do Conselho de Estado, marcado para a próxima terça-feira, o Presidente esclareceu, depois de questionado pelos jornalistas, que o primeiro-ministro “teve uma intervenção breve” na última reunião de Julho e que só não tomou a palavra de novo, no final, depois dos outros conselheiros, por falta de tempo.

O Conselho de Estado de 21 de Julho, marcado ainda pelo rescaldo da crise política de Maio, terminou sem conclusões e sem as intervenções finais do primeiro-ministro (que saiu para poder viajar para a Nova Zelândia) e do próprio Presidente, o que levou Marcelo a convocar uma segunda reunião para a próxima terça-feira. Segundo o Observador, António Costa interveio para falar sobre a necessidade de novas regras nas buscas judiciais a partidos políticos e sobre a clarificação da lei de financiamento dos partidos, na sequência da operação desencadeada pela Polícia Judiciária dias antes à casa do ex-líder do PSD, Rui Rio.

O Presidente foi instado a esclarecer se o primeiro-ministro chegou ou não a tomar a palavra sobre a questão das buscas judiciais. Sem se querer pronunciar sobre o teor da intervenção, Marcelo confirmou que António Costa “inicia com uma breve intervenção” e que “tinha acabado de falar no Parlamento sobre o mesmo tema”, tendo em conta a ordem prevista para as intervenções dos conselheiros de Estado – “Presidente da Assembleia da República e primeiro-ministro”.

O chefe de Estado confirmou igualmente que “tradicionalmente, o primeiro-ministro tem a possibilidade de comentar, no fim, aquilo que foi dito”. “Pode utilizar ou não; na última sessão não utilizou porque já tinha passado o tempo mais longo do que o previsto para a sua saída”, afirmou, salientando que “é muito importante” se o chefe de Governo “quiser apreciar as intervenções feitas”.

O próprio Presidente adiantou, nesta segunda-feira, que já escreveu a sua intervenção final.

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