Ave que quase se extinguiu na Nova Zelândia regressa a uma antiga casa

Durante anos, pensou-se que o tacaé-do-sul — uma ave que não voa — estava extinto. Agora são protegidos e a população é de cerca de 500 indivíduos.

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Pensa-se que o tacaé-do-sul (Porphyrio hochstetteri) estava extinto desde 1898 Khanh Le/GettyImages
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Dezoito tacaés-do-sul foram libertados no vale do lago Whakatipu Waimāori, na Nova Zelândia, uma zona onde estas aves com cerca de meio metro de altura e que não voam não eram vistas há mais de cem anos. A sua reintrodução no que já foi a sua casa, e onde são queridas da tribo maori que é proprietária daquela terra, é uma vitória para o programa de conservação do tacaé-do-sul na Nova Zelândia, que durante 50 anos foi dada como extinta.

Têm um corpo arredondado, plumagem com tons de azul, patas e bico fortes em tons de vermelho. Só usam as asas em rituais de acasalamento. Andam pelo chão, e fazem o ninho no chão. São a espécie maior da família de aves denominada ralídeos, que costuma habitar em regiões pantanosas, margens de rios ou lagos, ou de vegetação densa. São vegetarianos e monogâmicos, têm uma a duas crias por ano. Vivem 16 a 18 anos no estado selvagem.

Há indícios da sua presença na Nova Zelândia desde o Pleistoceno (vulgo a Idade do Gelo, a época geológica que se iniciou há 2,58 milhões de anos e durou até há cerca de 11.700 anos), como parte da grande diversidade de aves que evoluíram na Nova Zelândia, ocupando vários nichos ecológicos, aproveitando a ausência de mamíferos. Havia inclusive aves gigantes, como as moas, que podiam chegar a um metro de altura, e até outras maiores. Mas tudo mudou com a chegada dos humanos à Nova Zelândia: primeiro, os maoris, e, depois, os colonizadores ocidentais. Não só os humanos caçaram as aves, como trouxeram mamíferos que se tornaram predadores delas e, em alguns casos, se tornaram pragas agrícolas.

Considerava-se que o tacaé-do-sul ​(Porphyrio hochstetteri) estava extinto desde 1898, quando foi capturado o último exemplar. Mas, em 1948, foram encontradas pegadas que poderiam ser desta ave junto a um lago nas montanhas Murchinson, na ilha do Sul.

O médico Geoffrey Orbell liderou uma expedição para encontrar a eventual população que teria sobrevivido. Encontraram dois, apanharam-nos com uma rede para os fotografar e depois deixaram-nos em liberdade, conta um relato publicado pelo jornal Otago Daily Times a 8 de Janeiro de 1949.

Os tacaés-do-sul agora são protegidos e alvo de um programa de recuperação da espécie do Departamento de Conservação da Nova Zelândia. Em 2023, a população é de cerca de 500 indivíduos e está a crescer ao ritmo de cerca de 8% ao ano, diz uma comunicação deste organismo governamental neozelandês. Cerca de 52% dos tacaés-do-sul vivem agora no estado selvagem.

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O tacaé-do-sul é uma ave que não voa Malene Thyssen/WikiCommons

Mas continuam ameaçados por mamíferos introduzidos pelo homem: em 2021, por exemplo, houve uma grande praga de arminhos em Fiordland, a área onde se localizam as montanhas Murchinson e o habitat onde foram redescobertos.

A libertação das 18 aves no vale do lago Whakatipu Waimāori (uma zona onde foram filmadas algumas cenas do filme O Senhor dos Anéis: A Irmandade do Anel, de Peter Jackson), uma zona alpina da ilha do Sul da Nova Zelândia, é particularmente significativa para a tribo maori Ngāi Tahu. A tribo lutou na justiça para recuperar estas terras e consideram esta ave “taonga” um tesouro.

Tā Tipene O’Regan, 87 anos, um líder politico e académico de ascendência da tribo Ngāi Tahu, foi convidado a presidir ao momento de libertação dos tacaés-do-sul, que é também um regresso ao que foi um seu território.

Apoiou-se na sua bengala de madeira trabalhada e baixou-se para levantar a tampa de uma caixa de madeira grande. De lá saiu disparada uma ave volumosa, de azul-turquesa brilhante, pernas a girar furiosamente, que parecia lançada por uma funda. “Estou praticamente cego, mas ainda assim consegui vê-los”, disse O’Reagan, no relato do jornal The Guardian. Era como um raio de penas azuis e pernas vermelhas a acelerar rumo às ervas altas, em liberdade.

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