Liderar nas escolas

Interagir na turbulência e ambiguidade – sete tópicos de sobrevivência

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Nelson Garrido
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Neste tempo de acalmia de férias (mas de grande turbulência na preparação do ano letivo) é oportuno enunciar sete tópicos que nos permitam viver a pacificação possível na agitação dos dias. A partir de Eckert, Morgan & Daughtrey (2023), sustentamos a centralidade de uma liderança compósita constituída por sete dimensões-chave:

1) Uma visão e estratégia apoiada pelo desenvolvimento dinâmico de liderança "estrategicamente ambidestra". Uma liderança “ambidestra” consiste na conjugação da exploração e na explotação. A exploração procura novas tecnologias, novas ideias e abordagens para enfrentar desafios de aprendizagem para todos, busca novas oportunidades de organização do ensino de modo a elevar a concretização da igualdade de oportunidades de sucesso. A explotação explora recursos internos “invisíveis”, cria o desejo de experimentação e inovação, acredita na liberdade e na autoria (na autoridade) dos professores.

2) Uma administração central e regional que apoie este modo mais livre e autónomo de agir, que confie nas inteligências em ação e interação, que use a autoridade para promover a liberdade e a diversidade, libertando-se da tentação da conformidade, da uniformidade, da igualdade formal e da ideologia do “comando e do controlo”. Precisamos de uma autoridade generativa que reconheça a centralidade dos professores.

3) A existência de recursos e a promoção das capacidades de liderança múltipla. A liderança distribuída baseada numa abordagem na qual a responsabilidade e a tomada de decisões são compartilhadas por várias pessoas na organização escolar ou equipas. Neste modo de agir, a autoridade não é centralizada numa única figura de liderança, mas sim distribuída entre os membros das equipas. Por outro lado, a liderança partilhada é uma abordagem em que a responsabilidade e o poder de liderança são compartilhados de forma mais igualitária entre os membros de uma equipa ou organização.

4) Um design de trabalho adequado para facilitar a colaboração, a melhoria e a disseminação da “expertise” na organização do ensino e na promoção das aprendizagens. A criação de condições para a criação e monitorização das equipas educativas (por ano ou ciclo de escolaridade), para a existência pontualizada e flexível de coadjuvações que promovam efetivamente as aprendizagens de “conteúdos críticos”, para a produção de recursos didáticos que viabilizem a diferenciação pedagógica em contexto de sala de aula (por exemplo, a nível da biblioteca escolar ou de centro de recursos) – enterrando de vez o mito do “ensinar a todos como se todos fossem um”.

5) A criação de normas (e práticas) sociais, organizacionais e profissionais de apoio e relacionamentos de trabalho que promovam a confiança relacional. Como se sabe, a confiança é a pedra angular do trabalho educativo. A confiança entre os pares docentes, a confiança entre docentes e discentes, a confiança entre professores e outros técnicos de educação e os pais/encarregados de educação. Mas também se sabe que não se pode decretar. Tem de ser construída. E esta construção exige um projeto que possa unir as pessoas, e criar espaços e tempos comuns que combatam a atomização e a fragmentação organizacional.

6) A inscrição territorial das escolas. Este é um terreno cheio de desafios e interpelações que não podemos aqui desenvolver. Mas fica a “iluminação” desta possibilidade da escola se construir e se tecer neste diálogo sociocomunitário.

7) A reinvenção da escola passa por um desenvolvimento profissional que se gratifica com o empoderamento, o bem-estar e a felicidade de si e dos outros. E pode ser aqui que se lança o desafio de uma inovação ao serviço da resolução de problemas, da “alegria de ensinar”, e das “saídas dos labirintos” onde nos vamos perdendo.

Eis algumas notas breves de uma esperança que não podemos deixar afogar.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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