Dúvida: podemos comer um alimento, se cortarmos a parte com bolor?

Certos fungos produzem substâncias nocivas que podem migrar para áreas do alimento que parecem intactas – e, por isso, o conselho genérico tende a ser no sentido de rejeitar o alimento.

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O bolor nos alimentos pode apresentar riscos em termos de segurança alimentar Nancy Hughes/Unsplash
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Quando uma fruta apresenta bolor, há quem corte a parte afectada e coma o resto. É a atitude certa? Muito provavelmente não. Certos fungos produzem micotoxinas, substâncias nocivas que podem migrar para áreas do alimento que parecem intactas – e, por isso, o conselho genérico tende a ser no sentido de rejeitar o alimento.

“Quando olho para um alimento que tem bolor, não consigo saber se o fungo que está nesse alimento é ou não produtor de micotoxinas. Estas substâncias tóxicas são produzidas por alguns fungos. Sabemos que estas substâncias têm capacidade de migrar, ou seja, não ficam ali circunscritas à zona onde há crescimento do bolor. Daí que a recomendação geral seja rejeitar alimentos que apresentem bolor”, explica ao PÚBLICO Paula Teixeira, docente da Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa.

Contudo, esta avaliação exige bom senso, como tudo na vida. Paula Teixeira explica que precisamos de saber diferenciar um foco significativo de bolor de um ou dois pontinhos verdes. “Se estamos a falar de umas pintinhas, aí, sim, podemos cortar uma fatia generosa, que nos dê uma margem de segurança em relação à possível migração de micotoxinas, rejeitá-la e aproveitar o restante do alimento”, refere a docente, que também é investigadora do Centro de Biotecnologia e Química Fina na mesma universidade onde lecciona.

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Os alimentos com focos desenvolvidos de bolor devem ser descartados Sandy Millar/DR

Ao contrário de bactérias nocivas que proliferam em alimentos, podendo ter consequências imediatas na saúde humana, as micotoxinas têm efeito cumulativo. Quem as ingeriu um determinado número de vezes não apresenta sintomas visíveis. “Tem de haver um consumo muito abusivo para que possamos pensar que isto é um problema de saúde. Mas é algo que temos de ter em consideração”, alerta Paula Teixeira.

Uma vez detectado bolor no alimento, é importante pensar não só no consumo ou descarte do alimento, mas também nos cuidados a ter com os respectivos invólucros. O saco de pão de tecido, por exemplo, terá de ser lavado, pois pode conter esporos dos fungos e contaminar os alimentos que sejam ali colocados no futuro. O mesmo vale para cestos, sacos ou outras embalagens reutilizáveis.

A investigadora recorda ainda que é melhor prevenir do que remediar. Manusear, transportar e acondicionar frutas com cuidado, por exemplo, assim como comprar alimentos em menor quantidade (e com maior frequência) são conselhos que podem ajudar a evitar o aparecimento de bolor e o desperdício alimentar.

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