Brasil assiste ao regresso das baleias-jubarte décadas depois do massacre da caça

Cientistas cidadãos brasileiros observam o regresso das baleias-jubartes décadas depois da matança em massa. Projecto Baleia à Vista acompanha a evolução desta população desde 2015.

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Animais sobreviveram à caça à baleia com uma população muito pequena, entre 300 a 500 animais Joa Souza/ GettyImges
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Vinicius Fonseca/GettyImages

Julio Cardoso inclina-se sobre a lateral de um barco para fotografar uma baleia-jubarte enquanto ela bate com sua cauda gigante na água da costa sudeste do Brasil. Assim como outros cientistas cidadãos, Cardoso usa as fotografias para juntar informações sobre o número de mamíferos marinhos, ajudando investigadores e cientistas a acompanhar o aumento do número de jubartes na região.

"É um grupo de pessoas, voluntários, trabalhamos a bordo e em diferentes barcos e temos pessoas a observar a partir de terra, por isso temos informações muito boas sobre a presença de baleias jubarte neste local", disse Julio Cardoso, um reformado que criou o projecto de observação de baleias, conhecido como Baleia à Vista, em 2015.

Houve um aumento dramático no número de baleias ao largo da costa de Ilha Bela nos últimos anos, e muitas agora regressam aos seus locais de reprodução originais ao longo da costa brasileira, onde costumavam ser mortas em massa pela sua gordura, diz o cientista José Truda Palazzo.

"Esses animais sobreviveram à caça à baleia com uma população muito, muito pequena remanescente... algo entre 300 e 500 animais", lembra Palazzo, do Instituto Baleia Jubarte, no estado da Bahia.

Palazzo conta que, após a criação de protecções legais na década de 1980, as baleias - que só produzem um filhote a cada dois ou três anos - começaram a aumentar. No último censo, em 2022, foram registados 30 mil animais em águas brasileiras.

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Vinicius Fonseca/GettyImages

José Truda Palazzo reconhece que o trabalho dos voluntários cientistas-cidadãos é "extremamente útil" na tarefa de rastreio dos animais, já que muitos projectos de conservação são subfinanciados e não têm recursos.

Cardoso e a sua equipa fotografam as caudas das baleias, que é a melhor forma de as identificar, uma vez que, tal como as impressões digitais humanas, não existem duas caudas iguais. As fotografias são carregadas no sítio Web HappyWhale, uma plataforma global de observação de baleias que utiliza algoritmos de processamento de imagem para fazer corresponder as fotografias das baleias às colecções científicas.

"A identificação fotográfica pode dar-nos informações sobre a história de vida dos indivíduos, mas também nos permite compreender melhor a dinâmica da população, conhecendo os movimentos deste animal, a forma como migra e se cruza com outras populações", afirmou Palazzo.

Algumas das jubartes avistadas no Brasil vieram ou chegaram à Antárctida, à Patagónia, à costa africana e houve uma que veio da Austrália. Palazzo diz que o aumento do número de baleias em Ilha Bela é uma óptima notícia para a conservação marinha, não apenas no Brasil, mas em todo o mundo.

"Isso mostra que, se conseguirmos fazer uma protecção eficaz das espécies marinhas, a maioria delas pode recuperar", conclui.

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