Valentim de Carvalho conta poder vender parte dos seus terrenos até final do ano

Grupo empresarial tem projecto hoteleiro e residencial para fazer face às dívidas milionárias. Emblemáticos estúdios de música serão salvaguardados.

Foto
A remodelação dos terrenos da Valentim de Carvalho em Paço de Arcos preservará os históricos estúdios de música Daniel Rocha
Ouça este artigo
00:00
04:08

A Valentim de Carvalho refere acreditar que em breve poderá “alienar” uma parte dos seus terrenos em Paço de Arcos, onde tem estúdios musicais históricos. Meses depois de ter apresentado à Câmara Municipal de Oeiras uma proposta que, segundo declarações da autarquia à revista BLITZ, “tem uma componente residencial, uma componente hoteleira e uma componente de recuperação dos antigos estúdios num determinado formato”, o grupo empresarial aguarda autorização de loteamento. “Pensávamos que seria concedida antes das férias… Não foi, mas há a sensação de que as coisas ficarão resolvidas até final do ano”, diz ao PÚBLICO Francisco Vasconcelos, presidente da Estúdios Valentim de Carvalho - Gravações e Audiovisuais.

“Vão ser construídos novos edifícios, desaparecendo os estúdios de televisão e ficando preservados os de áudio, que, há menos de três anos, foram alvo de uma profunda operação de restauro e remodelação.” Assim escrevia a BLITZ, em Abril, sobre a “operação imobiliária de optimização do espaço em Paço de Arcos” (palavras de Manuel Duque, administrador financeiro da Valentim de Carvalho). Ao PÚBLICO, Francisco Vasconcelos conta que já há investidores interessados neste projecto hoteleiro e residencial — que, sublinha, será fundamental para a Valentim de Carvalho corrigir a sua frágil situação financeira.

“Esta alienação de terrenos vai permitir-nos saldar as dívidas todas”, afirma, antes de sugerir que, depois da venda, a Valentim de Carvalho ainda ficará “com muito dinheiro para investir, nomeadamente na parte musical, no catálogo”.

Há vários anos que o grupo empresarial, em cujos estúdios gravaram nomes grandes da música portuguesa como Amália Rodrigues, António Variações, Carlos Paredes e Rui Veloso (e também nomes grandes da música internacional como Cliff Richard e os Rolling Stones), enfrenta uma crise. No final de 2019, a Estúdios Valentim de Carvalho - Gravações e Audiovisuais devia quase 16 milhões de euros a 55 entidades, incluindo o Estado (3,6 milhões). A já citada notícia da BLITZ refere ainda que em 2021 uma outra empresa do grupo, a Valentim de Carvalho - Som e Imagem, entrou num processo especial de revitalização (PER), “para que os credores e o tribunal aceitassem um plano para a sua recuperação”. “E conseguiu os seus intuitos para renegociar dívidas de dez milhões.”

“Tivemos uma série de anos muito complicados em que fomos acumulando dívida. O ano passado, então, foi absolutamente catastrófico”, afirma ao PÚBLICO Francisco Vasconcelos, que não desmente os valores veiculados pelo Jornal de Notícias na sua edição de domingo (30 de Julho): “um passivo acumulado de, pelo menos, oito milhões de euros”, incluindo uma dívida de “6,3 milhões de euros aos bancos e Fisco”.

Dívidas a ex-funcionários ainda por resolver

Nos últimos tempos, têm vindo a público várias queixas de ex-trabalhadores da Valentim de Carvalho, que se desvincularam devido a salários em atraso. Uma antiga funcionária chegou a processar o grupo, numa tentativa de fazer o tribunal declará-lo insolvente. Mas a Valentim de Carvalho fez aprovar novo PER e a acção acabou por não avançar. Francisco Vasconcelos diz que a Valentim de Carvalho deve a essa ex-funcionária “cinco a sete mil euros” em ordenados em atraso.

Em Abril, Manuel Duque falava à BLITZ em “problemas de tesouraria” que estariam a ser solucionados. “Não estão completamente resolvidos, mas está tudo em linha para se resolverem nos próximos 30 a 60 dias. Ficará tudo normalizado”, dizia então.

“Nesta altura, as pessoas estão a receber”, diz agora ao PÚBLICO Francisco Vasconcelos. No que toca a ex-funcionários, o responsável admite haver dívidas que ainda não foram resolvidas.

O presidente da Estúdios Valentim de Carvalho - Gravações e Audiovisuais diz que o grupo empresarial pretende fazer uma remodelação interna. “Temos uma estrutura com várias empresas e a nossa ideia é, no futuro, juntar os activos. Há muitos anos que têm estado separados e eu não vejo conveniente mantê-los assim”, assinala, antes de acrescentar: “Não vamos abdicar de negócio nenhum.”

“Vamos continuar a fazer televisão, vamos continuar a fazer música”, elenca, afastando a possibilidade de a Valentim de Carvalho deixar de preservar o seu catálogo musical. “O espólio é o que mais nos move, o que vamos proteger e temos protegido. É sagrado.”

Sugerir correcção
Comentar