Marinheiros defendem-se: Mondego era uma “bomba-relógio”

No passado mês, os marinheiros que se insubordinaram foram acusados pela Marinha de “desobediência a uma ordem”.

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Navio Mondego, que não saiu em missão para acompanhar navio russo LUSA/JOÃO HOMEM GOUVEIA
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Os advogados dos marinheiros que se insubordinaram no navio Mondego apresentaram a sua defesa. Evocaram os argumentos já expostos — falta de segurança da embarcação — e lançaram acusações ao comandante do navio e ao chefe do Estado-Maior da Armada, Henrique Gouveia e Melo.

No documento, a que a TSF teve acesso, há acusações de "omissão de factos relevantes, distorção da realidade e adulteração de provas tendo em vista ocultar o papel da hierarquia da Armada".

Segundo os advogados, o comandante do navio, Vasco Lopes Pires, ter-se-á apresentado à tripulação “transido de medo”, chegando mesmo a verbalizar a sua insegurança em sair para o mar com o navio naquele estado.

Baseados na análise feita por um perito do Tribunal Marítimo, Jorge Silva Paulo, os advogados de defesa sustentam que o navio era uma “autêntica bomba-relógio” com “gravíssimos problemas de segurança que punham em risco a tripulação”.

Posto isto, a defesa dos marujos apresenta as suas exigências: perícias independentes à embarcação — dizem que o relatório feito pela marinha depois da inspecção ao Mondego é "uma peça que foi alinhavada por militares submetidos à hierarquia" — acompanhadas por uma reconstituição dos factos; que os marinheiros sejam julgados em audiência pública e que haja prova testemunhal de elementos da Marinha no activo e na reserva

A defesa contesta ainda que tenha existido qualquer combinação entre os arguidos a formarem no cais — desobedecendo à ordem de iniciar a navegação rumo ao Funchal — e acusa Gouveia e Melo de, com as suas declarações, ter inquinado o processo disciplinar "numa violação do dever de imparcialidade e do mais elementar decoro" exigidos a um chefe militar.

No passado mês, todos os marinheiros que se insubordinaram foram acusados pela Marinha de “desobediência a uma ordem”, sem ter ficado claro quais as eventuais sanções. Cada militar foi notificado individualmente.

Em meados de Março, 13 marinheiros do NRP Mondego insubordinaram-se, alegando falta de segurança do navio que os levaria numa missão de acompanhamento de um navio russo ao largo do Funchal. Gouveia e Melo teceu várias críticas públicas à sua atitude, escudando-se sobretudo no argumento de dever de respeito à hierarquia. Também a ministra da Defesa, Helena Carreiras, condenou a atitude dos militares, considerando-a “inaceitável”.

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