Mulheres bissexuais são quatro vezes mais propensas a ter problemas de saúde

Estudo feito com 835 mil pessoas em Inglaterra mostra que as que são gays ou bissexuais são mais propensas a problemas de saúde do que as heterossexuais, mas o número aumenta nas mulheres bissexuais.

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Pessoas bissexuais têm piores condições de saúde física e mental, diz estudo inglês Unsplash
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Adultos bissexuais têm mais problemas de saúde mental do que os restantes. É esta a conclusão de um estudo publicado no Journal of Sex Research, que inquiriu 835 mil pessoas em Inglaterra, sendo que, destes, mais de 23 mil se identificavam como gay, lésbica, bissexual ou outro. "Os nossos resultados sugerem que existe uma maior prevalência de problemas de saúde física de longa data entre as pessoas que se identificam como LGB. Além disso, quase todos os indivíduos LGB de todos os géneros que responderam ao inquérito se sentiram menos confiantes na gestão da própria saúde", escrevem os investigadores de duas universidades inglesas.

Foram comparados resultados relacionados com a saúde de pessoas LGB (lésbicas, gays e bissexuais) e de pessoas heterossexuais, através da auto-avaliação de factores como qualidade de vida, saúde física e mental e determinação a lidar com a própria saúde.

Os resultados, com base em dados fornecidos pelos próprios inquiridos, mostram que as pessoas que pertencem ao grupo LGB têm, normalmente, piores indicadores de saúde mental do que pessoas que se identificam como heterossexuais. Mas as pessoas bissexuais reportam “desproporcionalmente” mais problemas, dentro desta comunidade já marginalizada.

A probabilidade de os inquiridos reportarem problemas mentais, mas também físicos, a longo prazo era “mais do dobro nos grupos LGB, em comparação com grupos heterossexuais”. Nas mulheres bissexuais, “as probabilidades eram quatro vezes maiores”.

Os investigadores da Brighton and Sussex Medical School e da Anglia Ruskin University, responsáveis pelo estudo revisto pelos pares (outros cientistas que não participaram nesta investigação), referem que estas disparidades “podem resultar de discriminação e preconceito que existem não só na sociedade, mas também no seio da própria comunidade LGBTQ+.

“Este stress pode colocar indivíduos bissexuais em maior risco de problemas psicológicos e comportamentos negativos — e, consequentemente, com piores prognósticos em termos de saúde”, refere Carrie Llewellyn, chefe do departamento de Cuidados Primários e Saúde Pública na da Brighton and Sussex Medical School, citada em comunicado.

A investigadora acrescenta ainda que há uma “maior prevalência de problemas de saúde física a longo termo entre pessoas que se identificam como LGB” e que “praticamente todas as pessoas LGB de todos os géneros reportaram sentir-se menos predispostas para lidar com a sua própria saúde”.

E ainda que “seja sabido que existem disparidades persistentes entre os pacientes LGB”, Llewellyn ressalva que “ainda se sabe muito pouco sobre as experiências específicas das pessoas bissexuais”. “O nosso estudo quer colmatar esta lacuna — perceber que as pessoas bissexuais, especialmente as mulheres, têm as piores experiências no que toca a cuidados de saúde e os piores resultados no que toca a saúde em comparação com qualquer outra orientação sexual.”

A investigadora relembra que “é importante reconhecer que intervenções direccionadas à comunidade LGB como um todo podem negligenciar as necessidades de subgrupos ainda mais marginalizados, como as pessoas bissexuais”. Para que isso não aconteça, defende, é “necessária uma alteração aos sistemas dos cuidados médicos”, de forma a aumentar a acessibilidade e a fornecer serviços que vão ao encontro destas especificidades.

Estudos anteriores referiam que as comunidades LGB “são mais prováveis de sofrer de ansiedade, depressão, distúrbios alimentares, abuso de substâncias, automutilação ou suicídio”, mas também reportavam níveis mais altos de determinados cancros e violência doméstica.

Em Portugal, um estudo nacional de 2022 da da Associação Plano i, entrevistou 50 vítimas de violência doméstica LGBT+ e todas se queixaram de violência psicológica, 88% de violência física, 24% de violência social, 30% de violência económica e 40% de violência social.

Em 2023, Portugal saiu do top 10 do ranking de direitos de pessoas LGBTQ da Ilga Europa. O país não regrediu em termos de direitos, mas também não avançou, o que o fez cair para a 11.ª posição. Em Maio último, o P3 deu conta do aumento de pedidos de ajuda que chegaram à linha de apoio da Ilga Portugal: "O número de pedidos de ajuda cresceu muito após a pandemia, principalmente pedidos de apoio psicológico, que aumentaram 60%."

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