Autocarros da JMJ ficarão estacionados na Alta de Lisboa, Parque Tejo e Algés

Dois grandes parques estão a ser construídos na zona ribeirinha de Loures e na zona norte da capital. “Estamos preparados para a jornada”, diz Ana Catarina Mendes.

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"Estamos prontos", garantiu a ministra Ana Catarina Mendes LUSA/FILIPE AMORIM
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A organização da Jornada Mundial da Juventude 2023 está a trabalhar num cenário em que se prevê a necessidade máxima de estacionar sete mil autocarros que transportarão peregrinos. E os sítios escolhidos para os aparcar estarão localizados, sobretudo, em três principais locais: Alta de Lisboa, Parque Tejo e Algés. A informação foi anunciada, esta sexta-feira, pelo comité organizador da JMJ, durante a apresentação dos planos de mobilidade e segurança do evento. “A 18 de dias do início, queria deixar uma palavra de serenidade e deixar a garantia de que estamos prontos”, afirmou Ana Catarina Mendes, ministra dos Assuntos Parlamentares, no arranque da conferência de imprensa.

Ao nível das medidas de segurança, foi garantida a criação de quatro zonas de exclusão aérea entre as regiões de Lisboa e Fátima, onde o papa Francisco presidirá a celebrações religiosas, e haverá 23 aeródromos situados nessas áreas que estarão sujeitos a restrições de circulação. Falando sobre a reposição dos controlos fronteiriços, Paulo Vizeu Pinheiro, secretário-geral do Sistema de Segurança Interna, diz que a verificação documental se orientará por um princípio de flexibilidade, sendo “aleatório e direccionado em função da análise de risco”.

Em relação aos parques de estacionamento dos autocarros, assunto que muita curiosidade e especulação têm gerado ao longo das últimas semanas, a grande novidade é a revelação da localização de duas novas grandes localizações. Ambos estão a ser construídos neste momento. O maior será na zona ribeirinha do Parque Tejo, no concelho de Loures, numa área contígua ao recinto da JMJ, conhecida como Campo da Graça. É a norte dessa área que ficarão estacionados cerca de mil veículos de transporte colectivo. Noutra zona, na Alta de Lisboa, existirão 840 lugares espalhados por quatro lotes.

Adicionalmente, foram identificados 2250 lugares de estacionamento. Três centenas no Terraplano de Algés e os restantes 1950 em cinco eixos viários na zona oriental da cidade de Lisboa. Foram ainda identificados 14 locais adicionais que acomodam cerca de 1900 lugares, num total de seis mil lugares que poderão ser ampliados até 7200, “para um cenário de contingência que possa vir a ocorrer, recorrendo a locais fora da cidade”. A operação de estacionamento de autocarros será suportada numa plataforma de registo, que permitirá melhor gerir o processo. Os motoristas terão que aceder a esse portal, para saberem onde vão parar as viaturas por si conduzidas.

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Apesar de contarem que a grande maioria dos peregrinos se deslocará para Lisboa e nela circulará em transportes públicos e também a pé, os organizadores do evento estão à espera de um aumento de 20% no afluxo de automóveis. Serão, sobretudo, de pessoas vindas de outras regiões nacionais, mas também algumas estrangeiras. “Estimamos um aumento de 60 mil carros a circular a procurarem lugar para estacionar, no auge do evento”, diz Isabel Pimenta, da empresa VTM, responsável pela elaboração do plano de mobilidade da jornada.

Por causa disso, o referido plano contempla um adicional ao universo de lugares existentes na capital portuguesa - que ronda os 200 mil lugares na via pública e outros 32 mil distribuídos por 85 parques. Assim, adicionalmente, foram identificados três grandes bolsas de estacionamento, criadas especificamente para o evento e com a capacidade total de 5400 lugares. Elas ficarão situadas no Jamor (3000 lugares), Parque das Nações (400 lugares) e Loures (2000).

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Referindo-se ao conjunto de medidas apresentadas para a mobilidade, José Sá Fernandes, coordenador do grupo de projecto da JMJ 2023, afastou a ideia de que estas estavam a ser reveladas demasiado em cima do acontecimento. “Estamos a fazer a apresentação do plano de mobilidade no momento em que dissemos que faríamos. Dissemos que seria por esta altura, até 14, 15 de Julho”, afirmou, tendo ainda no final da conferência de imprensa dito que assumiria “todas as responsabilidades por tudo o que possa vir a correr mal” durante a jornada.

O essencial da mobilidade assentará, além da pedonalidade, na utilização generalizada da rede de transportes públicos colectivos, nas suas mais diversas modalidades. Somando todos os operadores, estima-se que o reforço diário da oferta seja de mais 354 mil lugares diários, entre os dias 1 e 4 de Agosto, subindo este para mais 780 mil lugares diários, no fim-de-semana de 5 e 6 de Agosto. A fim de incentivar o aproveitamento deste reforço de disponibilidade, a todos os peregrinos que se tiverem inscrito será oferecido um passe para uso ilimitado no sistema de transportes metropolitanos. Esse passe, que foi custeado em 40% pelo Governo, é parte integrante do kit entregue aos peregrinos.

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Todos os interfaces de transportes de Lisboa estarão a funcionar normalmente, exceptuando alguns deles e apenas em determinados dias. Deste modo, nos dias 1, e 3 de Agosto, serão encerradas as estações de metropolitano de Parque, Marquês de Pombal, Avenida e Restauradores; a 5 e 6 de Agosto, fecharão a estações da CP de Moscavide, Sacavém, Bobadela e Santa Iria. O terminal de autocarros do Marquês de Pombal, utilizado pela Carris Metropolitana, será deslocalizado para a Praça de Espanha, de 1 a 6 de Agosto.

Questionado pelo PÚBLICO sobre a possibilidade de utilização de bicicletas e trotinetas na zona com mobilidade condicionado – uma questão que suscitou dúvidas desde que foi conhecido, esta semana, o plano de mobilidade desenhado pela Câmara de Lisboa -, Sá Fernandes fez um compasso de espera, olhou para Isabel Pimenta e para Paulo Vizeu Pinheiro, mas foi Magina da Silva, director nacional da PSP, quem se levantou para responder. “Na zona amarela, com restrições de circulação, apenas poderão circular moradores e trabalhadores, e para tal terão que ter um salvo-conduto”. Vizeu Pinheiro ainda reforçou que “se trata de uma questão de segurança”, lembrando que é impossível ter tanta gente a andar de trotineta e de bicicleta no mesmo local. “São muito rápidas, podem ter um efeito perturbador”, disse.

"Aumentar a segurança, com mínimo impacto possível"

A segurança associada à mobilidade rodoviária em todo o país será um dos elementos centrais das preocupações das autoridades policiais, reconheceu Paulo Vizeu Pinheiro, salientando a “operação de grande escala” que está a ser montada com a participação da PSP, da GNR e do INEM. Essa operação é um dos vectores em que assenta o pacote de medidas que fazem parte do plano de segurança associado à JMJ 2023. Um plano que assenta num princípio aparentemente simples explicado por Paulo Vizeu Pinheiro, secretário-geral do Sistema de Segurança Interna. “O nosso conceito orientador assenta num aumento da segurança, causando o mínimo impacto possível”, disse.

Referindo-se ao controlo de fronteiras, o responsável pelo sistema de segurança frisou a necessidade de ter uma atitude baseada na flexibilidade, com as operações de fiscalização da documentação a ter um carácter “aleatório e direccionado em função da análise de risco”. E, explicou, essa análise de risco será feita tendo como base as informações partilhadas por sistemas de segurança de outros países. “Para sermos cirúrgicos, contamos com a colaboração dos parceiros internacionais”, afirmou, lembrando que desde Junho de 2022 que estão a ser estudadas as medidas a implementar durante a visita papal.

Paulo Vizeu Pinheiro frisou o enorme trabalho de pesquisa e recolha de informações para preparar o momento que se avizinha. A título de exemplo, referiu que o SIS “tem produzido um conjunto de relatórios com ameaças muito concretas”. Para além da cooperação com forças policiais e sistemas de informações relacionadas com informação de outros países, é ainda destacada a cooperação com o corpo da “gendarmeria” do Vaticano, o corpo policial da Santa Sé, em particular nas questões que têm que ver com a segurança do Papa Francisco na sua estada em território nacional.

Toda essa informação juntar-se-á aquela que será recolhida e gerada durante a realização da JMJ 2023, a qual será monitorizada em tempo real através de uma “sala de situação”, onde afluirá todo esse manancial. Esse gabinete de coordenação estratégica será, no fundo, uma espécie de “olho de visão global” de tudo o que se passar por entre a imensa mole humana que se espera vir a afluir ao evento. E o número com que as autoridades estão a trabalhar, neste momento, tanto ao nível da segurança como da mobilidade, é o de um milhão de peregrinos. Embora, estejam preparadas para lidar com um número acima desse. Certo é que o dispositivo de segurança alocada à Jornada Mundial da Juventude 2023 é de 16 mil elementos, contando com forças de segurança, protecção civil e emergência médica.

Além dos recintos onde se realizarão os grandes eventos religiosos (Parque Tejo-Trancão, Parque Eduardo VII e Algés), as autoridades policiais e os serviços de segurança estarão especialmente atentos aos locais onde previsivelmente se verificarão grandes concentrações de peregrinos, incluindo nos momentos de lazer e socialização. Em particular, haverá um acompanhamento de jardins, parques, praias e zonas de diversão nocturna. “Todos os cenários são tidos em consideração”, salientou o secretário-geral do Sistema de Segurança Interna, salientando a abrangência do plano de segurança, que abarca não apenas as zona visitadas pelo sumo pontífice e onde decorrerão as actividades da JMJ 2023, mas o todo do território nacional.

Essa amplitude da operação foi sublinhada, logo no início da conferência de imprensa, por Ana Catarina Mendes. “Tudo isto, os planos hoje apresentados, têm que ver com o todo do território nacional”, afirmou a ministra-adjunta e dos Assuntos Parlamentares. Comparando este desafio com aqueles tidos aquando da Expo-98 e do Euro 2004, a governante disse que “Portugal demonstrará, mais uma vez, que está à altura de bem receber”.

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