Tábuas de cortar alimentos podem aumentar ingestão de microplásticos

Estudo aponta que tábuas de corte de plástico podem libertar até 50,7 gramas de microplástico nos alimentos por ano. Ainda assim, investigadores dizem que faltam alternativas à sua utilização.

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As tábuas de corte de plástico podem libertar quantidades significativas de microplásticos na comida Darren Li/Pixabay
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As tábuas de cortar alimentos, sejam de plástico ou de madeira, são indispensáveis na cozinha. No entanto, um novo estudo mostra que estes utensílios plásticos podem deixar uma quantidade significativa de microplásticos na comida. O uso das tábuas não se restringe somente ao ambiente doméstico, estendendo-se a restaurantes, por exemplo, o que pode contribuir para a ingestão desavisada de partículas microscópicas de plástico pelos consumidores. Este estudo foi publicado recentemente pela revista científica Environmental Science and Technology.

O objectivo do estudo, de acordo os investigadores, era "compreender os factores que controlam a libertação de microplásticos, a possível exposição cumulativa ao longo do tempo e qualquer possível toxicidade". Na busca por respostas, foram utilizadas tábuas de corte de três materiais diferentes no estudo: polietileno, polipropileno e madeira, além de uma faca de aço e uma cenoura, visto que o legume cru não liberta líquidos adicionais que poderiam interferir nos resultados.

Ao longo da investigação, a hipótese levantada pelos investigadores que associava esses utensílios à libertação de microplásticos foi confirmada. Observou-se que as tábuas de corte de plástico libertam uma quantidade significativa dessas partículas, especialmente quando são usadas em cadeias de fast-food e restaurantes de grande escala, devido à quantidade de alimentos cortados num curto período de tempo.

Alternativas ao plástico são escassas

O artigo relata que o tipo de alimento e a técnica de corte também desempenham papéis importantes na libertação destas pequenas partículas, assim como a frequência com que são usadas. Alimentos rijos, como algumas carnes e vegetais, exigem mais força ao cortar do que alimentos mais macios; a diferença na aplicação de força pode resultar em quantidades variáveis de microplásticos nos alimentos finais.

Estima-se que a exposição anual de uma pessoa a microplásticos seja de sete a 50,7 gramas ao usar uma tábua de corte de polietileno e de 49,5 gramas ao usar uma tábua de corte de polipropileno. As tábuas de madeira, além do risco de contaminação bacteriana devido às ranhuras, não demonstraram ser uma alternativa viável. Pelo contrário: podem libertar quatro a 22 vezes mais micropartículas que as outras.

Apesar da constatação do alto número de microplásticos libertos durante o corte, não foram constatadas ameaças imediatas à saúde após a ingestão dos alimentos analisados (nos estudos feitos em ratinhos). Mas os investigadores referem que são necessárias pesquisas adicionais para avaliar os impactos potenciais na saúde humana a longo prazo e as alternativas ao uso de tábuas de plástico e madeira.

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Os microplásticos são um problema ambiental, criando enormes ilhas de plástico flutuantes Orlando Barría/EPA

Os microplásticos são um problema ambiental, afectando diversas espécies marinhas como os pinguins da Antárctida, e criando enormes ilhas de plástico flutuantes. As consequências exactas do seu consumo na alimentação para a saúde humana ainda não são claras. Os microplásticos já foram detectados no sangue humano, nos pulmões, nas fezes e também na placenta. ​

Há estudos que indicam que estas partículas podem causar danos nas células e reacções alérgicas, o que pode ser ainda mais perigoso com os nanoplásticos (que são ainda mais pequenos), já que podem ser transportados na corrente sanguínea e atravessar as membranas celulares. Outro estudo divulgado em Maio deste ano referiu que os impactos dessa ingestão por aves marinhas, como os problemas no tracto digestivo, podem "servir como sinal de alerta" para os humanos.

Texto editado por Claudia Carvalho Silva

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