Diogo Ayres de Campos: “Enfermeiros a vigiar partos de baixo risco é já uma prática generalizada”

A Ordem dos Médicos pediu o “afastamento” do médico no âmbito do grupo de trabalho que fez a orientação sobre os cuidados de saúde em blocos de partos.

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Diogo Ayres de Campos garante que houve consenso no grupo que estava a trabalhar com a DGS Nuno Ferreira Santos
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A Ordem dos Médicos (OM) retirou a “confiança institucional” a Diogo Ayres de Campos, coordenador da Comissão de Acompanhamento da Resposta em Urgência de Ginecologia/Obstetrícia e bloco de partos, na sequência de uma orientação sobre os cuidados de saúde em blocos de partos elaborada em conjunto com a Direcção-Geral da Saúde (DGS). E pediu o “afastamento” do médico no âmbito deste grupo de trabalho.

Em resposta ao PÚBLICO, o obstetra e presidente da Sociedade Europeia de Medicina Perinatal, diz não perceber por que razão a OM toma agora esta posição, quando na última reunião do grupo que fez a orientação, que teve lugar a 20 de Janeiro, "houve consenso". "Esta é a verdade absoluta", diz o médico.

"Têm todo o direito de voltar atrás, mas não é verdade que se diga que não houve consenso", sublinha.

No ofício agora enviado à DGS, a que o PÚBLICO teve acesso, o bastonário reafirma que os contributos e objecções dos representantes da OM “foram absolutamente ignorados”. E que “houve um completo e total desrespeito por parte do senhor coordenador do grupo de trabalho pelos indicados médicos, o que inclusive conduziu a que tivessem solicitado que os seus nomes fossem retirados da orientação, o que, lamentavelmente, ainda não sucedeu”.

"A minha posição foi e é a de apenas encontrar pontos comuns e consensos entre as pessoas. A motivação da Ordem dos Médicos para vir agora colocar tudo em causa só a Ordem dos Médicos pode esclarecer. Se for preciso tirar o meu nome da orientação para que ela seja aprovada sou o primeiro voluntário a retirá-lo, porque o mais importante é que ela se faça, é que isto seja regulamentado e que estejamos em linha com o que se faz noutros tantos países como França, Bélgica, Alemanha, Reino Unido, todos os países nórdicos, Países Baixos, etc."

Mas o que está em causa com esta orientação? Antes de mais importa referir que não é uma norma, ou seja, não é vinculativa, não tem de obrigatoriamente ser adoptada por todos os hospitais onde se realizam partos. E o que refere ela? Diz por exemplo que os partos de baixo risco podem ser assistidos por equipas de enfermeiros especializados e que esses mesmos enfermeiros podem proceder ao processo de internamento das grávidas.

"Enfermeiros a vigiar partos de baixo risco é uma prática que está generalizada em praticamente todos os hospitais do país e que eu saiba tanto no Garcia de Orta como no Hospital Beatriz Ângelo os enfermeiros já fazem os internamentos", diz Diogo Ayres de Campos.

Mas em que consiste fazer o internamento? "Quando uma grávida entra em trabalho de parto no hospital é avaliada por um enfermeiro especialista. Ele pode dar indicação de internamento, mas depois é o médico que preenche os papéis do internamento, faz a parte administrativa, ou seja, isto é um pró-forma, porque o internamento pode ser revertido a qualquer momento. O que é complexo é a alta e essa continua reservada aos médicos", explica o obstetra.

Daí que Diogo Ayres de Campos assuma alguma perplexidade com a posição tomada pela OM: "Não faz muito sentido que isto esteja a acontecer agora, deve haver algum interesse para que se queira voltar a um problema que estava em vias de resolução."

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