Afinal, Michael Jordan também perde

Michael Jordan vai deixar de ser o dono dos Charlotte Hornets e a próxima madrugada pode ser, para uma das equipas mais perdedoras da NBA, o “bilhete” para uma nova vida.

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O mundo criou em torno de Michael Jordan uma aura de relativa imbatibilidade, como se ele prosperasse onde quer que tocasse: a jogar basquetebol, nos negócios, no marketing ou na gestão de equipas de NBA. Mas Jordan também perde.

O próprio assumiu-o há dias, quando aceitou vender os Charlotte Hornets, equipa da NBA que liderava desde 2010. Sai com duas presenças em play-offs em 13 anos e sem uma única série ganha na fase a eliminar da NBA.

Mas Jordan, por ser Jordan, nunca perderia por completo. Vendeu a equipa por quase três mil milhões de euros, quando em 2010 pagou “apenas” 165 milhões. Um “pequeno pormenor” que não apaga, ainda assim, a derrota desportiva numa equipa que terá, a partir da próxima madrugada, uma nova vida.

O draft de 2023 da NBA tem os Hornets com a segunda escolha, posição que não deverá permitir “caçar” Victor Wembanyama – esse estará reservado para os Spurs, na primeira escolha –, mas que tem o base Scoot Henderson e o extremo Brandon Miller como talentos capazes de secundarem LaMelo Ball, a estrela do plantel.

Ou então nada disto acontecerá – e abrir mão destes talentos pode, em bom português, sair melhor do que a encomenda.

A “dívida” de Jordan

Nos Hornets, Michael Jordan tentou muita coisa. Foram várias as apostas pessoais que fez em atletas que não cumpriram e em trocas que deixaram a equipa a perder. E só alguém como Jordan sobreviveria a 13 anos de equívocos.

Com Jordan, os Hornets têm estado entre as equipas menos gastadoras em salários e, olhando desde 2010, somaram um registo de 423 vitórias para 600 derrotas, a quinta pior percentagem de triunfos na NBA e são a equipa da NBA que há mais tempo não vai aos play-offs: são sete anos e, para não serem oito, há várias opções. E se Jordan “deve” a Charlotte um tiro certeiro, então agora, já com um pé na porta de saída, pode dá-lo.

No draft da próxima madrugada podem “atirar-se” a Scoot Henderson, um base muito talentoso, bom passador – ainda que não tão forte no lançamento longo – e bom gestor de ritmos de jogo, apesar da juventude. Problema: a estrela da equipa, LaMelo Ball, também é um base que gosta de apoderar-se da bola, podendo haver sobreposição de talento.

A outra opção é lançarem-se para Brandon Miller, um extremo atlético e tremendo lançador, que casaria bastante melhor com Ball. Problema? Também há. É que existem dúvidas sobre a componente extrabasquetebol de alguém que já esteve envolvido, ainda que indirectamente – e sem qualquer acusação – num caso de homicídio.

Não sendo evidente a opção entre Henderson e Miller – e não estando Wembanyama livre para ser escolhido –, há uma terceira via: as trocas.

Um jovem por uma estrela

Oferecendo esta segunda escolha do draft, Charlotte pode conseguir uma “truta” all-star de uma equipa que esteja disposta a abdicar desse jogador em prol de um jovem de futuro.

Uma das soluções mais veiculadas tem sido Zion Williamson, que tem jogado pouco, devido a lesão, mas que, quando joga, está num nível que colocaria os Hornets como equipa de play-off.

Depois, essa troca criaria, em tese, uma boa ligação entre Ball e Zion, jogadores perfeitamente compatíveis pelo estilo intenso e até algo eléctrico que aplicam no seu jogo. Também a dinâmica de bloqueios directos com Zion como portador da bola e Ball como homem livre poderá ser interessante e mais explorada do que nos Pelicans.

Por fim, conseguir Zion não seria uma troca de uma jovem incógnita por um veterano seguro. O poste dos Pelicans tem apenas 22 anos, pelo que não seria uma troca em busca de sucesso “para ontem”, como seria no caso de uma “truta” já na fase final da carreira.

Também Brandon Ingram, Donovan Mitchell, DeAndre Ayton e Karl-Anthony Towns têm sido opções faladas. Seja quem for, juntar um all-star a LaMelo Ball e contar com o regresso em boa forma de Miles Bridges, de fora durante grande parte da última temporada, seria uma boa base para construir qualquer coisa.

Seria um risco abdicarem de talentos como Henderson e Miller? Talvez. Mas poderá ser a última grande jogada de Michael Jordan – e ele sempre soube jogar sob a pressão do relógio.

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