Para o futebol português, os Jogos Olímpicos começam agora

Arranca nesta quarta-feira o Campeonato da Europa sub-21 e o que está em jogo é mais do que mostrar jovens talentos ou conquistar um troféu. As Olimpíadas 2024 começam agora.

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Momento do treino de Portugal, já na Geórgia FPF
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“Se há frase de que eu não gosto, é de que as finais são para se ganhar. É um lugar-comum e, se calhar, não faz muito sentido”. Esta frase é de Rui Jorge, seleccionador sub-21, e foi dita em 2021, no último Europeu da categoria. O que o técnico queria dizer, esventrando o nexo da tal frase feita, é que esta competição não deve ser vista como palco de vitórias, mas de evolução. Não de busca pelo troféu, mas pela montra. “É para demonstrar qualidade”, define o técnico.

É justo conceder que Rui Jorge tem sido consistente nesta retórica e que não a abandona nem quando tem a conquista à frente dos olhos. Ainda assim, o Europeu sub-21 que arranca nesta quarta-feira não pode ser visto como apenas uma prova para exibir jovens talentos nem “mostrar qualidade”, como sugere o treinador. Está em causa, ao contrário de noutras edições, a presença nos Jogos Olímpicos. Para o futebol português, Paris 2024 começa agora.

Como vice-campeão desta prova, Portugal é, naturalmente, um dos favoritos a vencer a competição, mas, mais do que isso, a ficar com um dos três lugares de acesso aos Jogos Olímpicos, dependente de chegar, pelo menos, às meias-finais.

Na Geórgia e na Roménia, o objectivo será garantir a quinta participação nos Jogos, depois de Amesterdão 1928, Atlanta 1996, Atenas 2004 e Rio 2016.

Sem Fábio Vieira

Quem desdenha a tese de Rui Jorge e considera importante vencer troféus dirá que esta edição é vital para Portugal, que já perdeu duas finais, sempre com gerações de primeiro nível – Bernardo, Rafa, Cancelo, Rúben Neves, William, Guerreiro, João Mário, Diogo Costa, Vitinha, Gonçalo Ramos ou Rafael Leão foram alguns dos que já levaram uma prata para casa.

Ao contrário do que fez nos escalões sub-19 e sub-17 – e mesmo na selecção principal –, Portugal nunca venceu o Europeu sub-21. Nessa medida, importa perceber se esta é uma edição de alta probabilidade de sucesso. Será? Em tese, nem por isso.

Portugal não só não leva uma geração semelhante a outros anos como ficou, há dias, sem o melhor jogador da equipa, Fábio Vieira.

Pedro Neto é o único jogador que já esteve na selecção principal, algo que vai ao encontro de uma tese que Rui Jorge também defende com frequência. O técnico considera que, quando os jogadores chegam à selecção A, já não faz sentido voltarem para trás, porque o objectivo é formá-los para a A e não para colaborarem em títulos nos sub-21.

Real convicção ou estratégia para não ter no grupo atletas contrariados? Qualquer das opções é verosímil, mas o certo é que António Silva, Gonçalo Inácio, Vitinha e Gonçalo Ramos não vão estar na competição – e essa seria a diferença entre um candidato óbvio ao título ou apenas um outsider, estatuto que, em geral, é dado a Portugal.

Baliza sem um “gigante”

Na equipa portuguesa há, ainda assim, talento de sobra para, no mínimo, lutar pela presença em Paris 2024. É certo que a baliza não tem um guarda-redes titular em equipas de relevo, mas todos os outros sectores têm pelo menos um jogador de alguma dimensão.

Nuno Tavares faz parte do grupo e deverá ser o titular a lateral-esquerdo e André Almeida vai ao Europeu já com dimensão de Liga espanhola num meio-campo sem Vitinha e Fábio Vieira. No ataque, Pedro Neto é candidato a um dos melhores jogadores da prova e poderá associar-se com Vitinha, também ele já com rodagem numa “big 5”.

O plano de Rui Jorge poderá passar pelo habitual 4x4x2 losango, embora a presença de Pedro Neto e a ausência de um evidente 10 como Fábio Vieira (ou Fábio Carvalho) possam seduzir o técnico a criar, como já criou em alguns momentos, um 4x3x3 mais clássico que comporte verdadeiros extremos e abdique de um 10.

Nenhum destes planos já bem trabalhados significa, ainda assim, que a equipa tenha o estatuto de outras edições: usará o poder das rotinas, mais do que o poder do talento de primeira água.

Kvaratskhelia fica em casa

Portugal vai iniciar esta prova frente à Geórgia, uma das equipas anfitriãs, tendo a boa notícia de Khvicha Kvaratskhelia, melhor jogador da Liga italiana e melhor jovem da Liga dos Campeões, ter recusado participar na competição.

Menos fortuna vem do plantel dos Países Baixos, que levam uma equipa com nomes de relativa tarimba: Ryan Gravenberch, Joshua Zirkzee, Brian Brobbey, Kenneth Taylor e Thijs Dallinga vão lá estar.

Por fim, a Bélgica não vai tão rica como os Países Baixos, mas não tão vazia como a Geórgia: leva Charles De Ketelaere e Loïs Openda.

Que mais? Franceses, ingleses, italianos, alemães e espanhóis. Ou, se quisermos, Scalvini, Tonali, Miretti, Koné, Kalimuendo, Meslier, Kalulu, Wahi, Adli, Gouiri, Madueke, Angel Gomes, Smith Rowe ou Moukoko. Ou Mudryk, o ucraniano, que também vai estar por lá.

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