As fotografias de quem dispara na vida selvagem com uma câmara, não uma arma

O fotógrafo Graeme Green reuniu 216 fotografias de animais selvagens no livro The New Big 5. O projecto quer chamar a atenção de todos para a conservação da vida selvagem.

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Leões africanos na zona de conservação de Mara Naboisho no Quénia. Espécie vulnerável Graeme Green
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Gorila de montanha no Parque Nacional dos Vulcões, Ruanda. Espécie em risco de extinção Mark Edward Harris
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Ursos polares no Parque Nacional de Wapusk na província de Manitoba, Canadá. Espécie vulnerável Hao Jiang
African Elephant, Loxodonta africana, baby, H9 E, Phalaborwa-Letaba Road, East of Nhlanganini Dam, Letaba District, Kruger National Park, South Africa
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Elefantes africanos no Parque Nacional de Kruger, África do Sul. Espécie em risco de extinção Berndt Weissenbacher
,Fundo de Conservação da Vida Selvagem
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Tigres-de-Bengala no Parque Nacional de Ranthambore, Índia. Tigres de Bengala. Espécie em risco de extinção Vladimir Cech Jr
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“Disparar somente com uma câmara, não com uma arma.” É esta a filosofia do fotógrafo Graeme Green: alertando para o perigo de extinção de espécies e dos conflitos entre os humanos e a natureza, o britânico reuniu as suas experiências no terreno, bem como 216 fotografias de vida selvagem, no livro The New Big 5 (que ainda não está disponível em Portugal). O título remete para a prática comum na era colonial em África de caçar cinco grandes mamíferos — leão, leopardo, rinoceronte, elefante e búfalo —, mas escolhendo cinco novos animais em perigo, “chamando a atenção para a crise urgente que a vida selvagem mundial enfrenta”.

Foi numa viagem ao Botswana que a semente deste projecto começou a germinar na cabeça de Graeme Green, depois de ouvir o termo inglês shooting” (“disparo”, em português), que pode ser usado tanto para a caça como para as fotografias. Apesar de a ideia lhe ter surgido há mais de uma década, foi somente em 2019 que o fotógrafo começou a executá-la. Entre fotogalerias, materiais educacionais gratuitos sobre vida selvagem e entrevistas, Graeme criou uma rede de fotógrafos, conservacionistas e associações ambientais em prol desta causa.

Chimpanzé no Parque Nacional de Gombe Stream, Tanzânia. Espécie em risco de extinção Thomas D. Mangelsen
Pangolim do Cabo no Parque Nacional da Gorongosa, Moçambique. Espécie vulnerável Jennifer Guyton
Raio-diabo chilena nos Açores, Portugal. Espécie em risco de extinção Magnus Lundgren
Leão africano, na reserva de Tswalu Kalahari, África do Su. Espécie vulnerável Marcus Westberg
Crocodilo cubano no Parque Nacional Ciénaga de Zapata, Cuba. Espécie criticamente em Perigo Shane Gross
Tartaruga-verde no Parque Marinho de Ningaloo, Austrália. Espécie em risco de extinção Aimee Jan
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Chimpanzé no Parque Nacional de Gombe Stream, Tanzânia. Espécie em risco de extinção Thomas D. Mangelsen

Mas, afinal, quais são os cinco animais escolhidos para o novo Big 5? O fotógrafo explicou ao Azul que, em 2020, foi lançada uma plataforma para que “pessoas de todo o mundo pudessem votar nos seus cinco animais favoritos para serem fotografados, e as imagens seriam incluídas no livro”. O resultado — apurado um ano depois, em Maio de 2021, com mais de 50 mil votos — definiu o elefante, o gorila, o urso polar, o leão e o tigre como os protagonistas do novo grupo de animais. “The New Big 5.”

O livrou reúne o trabalho de mais de 146 fotógrafos. Porém, Graeme acrescenta que muito mais material haveria, já que foram recebidas cerca de 16 mil imagens. As fotografias foram seleccionadas para representar a pluralidade da biodiversidade, não se limitando somente às espécies mais populares. A selecção foi rigorosa, conta o britânico. “Os fotógrafos que participaram no livro assinaram um documento para atestar que as imagens retratavam a realidade e que não foram utilizadas iscas ou outros comportamentos que pudessem causar stress ou danos aos animais”, explicou o autor.

“Apesar da popularidade, todas as cinco espécies do novo Big 5 estão em perigo de extinção. E são apenas a ponta do icebergue”, frisa Graeme. “A vida selvagem é essencial para o equilíbrio da natureza, para a saúde dos ecossistemas e para o futuro do nosso planeta.” As fotografias não se limitam às espécies mais distintas, como rinocerontes e baleias-azuis, mas incluem também animais mais comuns no nosso dia-a-dia, como sapos e abelhas. O conjunto de imagens apresenta animais em diversos momentos, desde os “pés de um gorila” a descansar até a ternura entre os membros de uma mesma espécie.

Além das imagens, Graeme Green também aborda problemas que afectam as comunidades indígenas que vivem próximas da natureza, como a pobreza, desigualdade e destruição de habitats. Para elaborar os capítulos, o fotógrafo diz ter entrevistado especialistas de várias partes do mundo. E destaca o texto de Jane Goodall, a etóloga e naturalista que escreveu o ensaio que encerra o livro: “As alterações climáticas afectam todos, embora os pobres sejam os que mais sofrem. Mas é muito importante que não percamos a esperança. Quando as pessoas perdem a esperança, tendem a desistir, a cair na apatia e a não fazer nada”.

Texto editado por Claudia Carvalho Silva