Abusos sexuais: padre Mário Rui Pedras volta a poder celebrar missa

Confessor de André Ventura fora acusado de ter abusado sexualmente de um menor na década de 1990, mas a investigação prévia não encontrou indícios que apontem para a veracidade das acusações.

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Patriarcado de Lisboa suspendeu quatro padres, sendo que três continuam afastados preventivamente de funções Nuno Ferreira Santos (arquivo)
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O padre Mário Rui Pedras, um dos quatro sacerdotes afastados preventivamente de funções pelo Patriarcado de Lisboa por suspeitas de terem abusado sexualmente de menores, vai voltar a celebrar missa já neste domingo, dia 18.

O confessor e orientador espiritual do líder do Chega, André Ventura, escreveu uma carta aos paroquianos de S. Nicolau e Santa Madalena, no centro de Lisboa, em que afirma que a investigação prévia das acusações que sobre ele impendiam terminou no dia 12 de Junho e que, “dada a inverosimilhança da denúncia”, terá sido o próprio instrutor do processo a propor ao bispo o levantamento da suspensão preventiva, conforme adianta a Rádio Renascença.

O Patriarcado de Lisboa confirmou ao PÚBLICO que a suspensão de funções foi levantada na quarta-feira, dia 14, cerca de três meses depois de ter sido decretada. Quanto aos restantes três padres igualmente suspensos na mesma altura, “não há ainda nenhuma conclusão, mas esta será tomada em breve”, segundo fonte do patriarcado.

Na carta que escreveu aos paroquianos, Mário Rui Pedras critica a comissão independente liderada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht (que concluiu que pelo menos 4815 crianças foram vítimas de abuso no seio da Igreja Católica em Portugal nos últimos 72 anos), acusando-a de ter funcionado como “mera caixa de correio” da calúnia de que se diz vítima, dando-lhe “ressonância”.

“Lavou as mãos como Pilatos, e integrou esta denúncia soez na listagem de eventos que anunciou, de forma estridente e sensacionalista”, acusa o sacerdote, para considerar que foi suspenso apenas porque a comissão diocesana de protecção de menores cedeu à “pressão mediática” e abdicou daquilo que considera ser “a ponderação exigida diante de uma denúncia anónima, difamatória e sem verosimilhança”.

"Como poderia ser logrado este resultado por apenas alguns minutos de escrita anónima? Trata-se de um cenário assustador. Como pode gente decente ficar à mercê destas condutas?", questiona, lamentando que a comissão diocesana se tenha mostrado insensível às consequências que a suspensão, ainda que provisória, teve na vida dos sacerdotes visados.

O padre era acusado de, na década de 1990, ter abusado sexualmente de um menor que frequentava o 8.º ano de escolaridade num colégio religioso da periferia de Lisboa. A investigação prévia não terá encontrado quaisquer vestígios que atestem a veracidade de tal acusação.

Ordenado padre há cerca de quatro décadas, Mário Rui Pedras foi quem celebrou o casamento de André Ventura, liderando uma paróquia onde continuam a celebrar-se missas segundo o rito tridentino, isto é, em latim e de costas voltadas para os fiéis. Em meados de 2021, o Papa Francisco decidiu limitar a celebração destas missas, interditando-as nas igrejas paroquiais e fazendo-as depender da autorização do respectivo bispo (e do acordo da Santa Sé).

Apesar de na sua igreja paroquial celebrar as missas segundo o novo missal, este padre é conotado com o sector mais conservador e tradicionalista da Igreja Católica portuguesa. Durante a pandemia, em 2020, criticou duramente as restrições impostas pelo Governo relativas ao dia de finados, destinadas a impedir a aglomeração de pessoas nos cemitérios.

Notícia corrigida às 18h08 com a explicitação e correcção da informação relativa às missas segundo o rito antigo (ou tridentino).

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