No País dos arquitectos: Estação Biológica e Galeria da Biodiversidade de Mértola

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No 63.º episódio do podcast No País dos Arquitectos, Sara Nunes (da produtora de filmes de arquitectura Building Pictures) esteve à conversa com os arquitectos Teresa Novais e Jorge Carvalho, do atelier aNC arquitectos, sobre a Estação Biológica e Galeria da Biodiversidade de Mértola.

O projecto resulta do aproveitamento do edifício dos antigos celeiros e parte dos silos da Empresa Pública do Abastecimento de Cereais (EPAC), abandonados há mais de 40 anos, para a criação da Estação Biológica de Mértola (EBM), na margem do rio Guadiana, onde serão instalados laboratórios, espaços de trabalho e residências para cientistas. Para além disso, o programa engloba a Galeria da Biodiversidade e uma nova área para as reservas do arquivo e do museu municipais.

A intervenção abrange a área protegida do Parque Natural do Vale do Guadiana (PNVG). O arquitecto Jorge Carvalho explica que um dos objectivos do projecto é propor uma reflexão: “O edifício tem uma escala industrial, mas há também um valor de conservação na cultura no próprio território, [da memória e das pessoas]. Se pensarmos em termos de conservação da biodiversidade, este edifício tem a possibilidade de representar esse bom princípio.”

Existe também outra premissa que passa por salvaguardar o património natural e promover um território que é vulnerável ao fenómeno da desertificação e das alterações climáticas. A arquitecta Teresa Novais sublinha que “fazer a arquitectura do edifício é fazê-lo reviver da forma como está, sem grande transformação.” Na mesma linha de pensamento, o arquitecto Jorge Carvalho afirma que “o empreendimento equaciona como é que o conhecimento científico pode ter um contributo para o desenvolvimento da região.”

Apesar de ainda estar a ser construída, a EBM já está a funcionar com instalações provisórias através da associação Estação Biológica de Mértola, que integra além do município, o CIBIO-InBIO e a Universidade do Porto. Daí espera-se que haja transferência de conhecimentos e novos encontros: “Pretende-se que o edifício tenha uma relação com a comunidade, por um lado, na transmissão de conhecimentos. (...) E, por outro, numa vertente educativa, que seja centro de acolhimento de visitas muito aberto à população”, explica o arquitecto.

Para incentivar a relação do público com a comunidade de investigadores foram criados espaços sociais, onde os visitantes podem estar lado a lado com os cientistas. A título de curiosidade, Teresa Novais faz um paralelismo com o que acontece no Café Casa da Música, um ponto de encontro que, segundo a arquitecta, chega a ser apresentado de forma “extremamente provocatória”, pois “os gabinetes de trabalho encontram-se virados para a praça.” Teresa Novais reconhece que a segurança dos edifícios tem de estar salvaguardada, mas sublinha a importância dos arquitectos criarem espaços que acolhem diferentes públicos: “Os principais objectivos são sempre procurar as oportunidades da arquitectura ser partilhada e fazer estas pontes com os locais, com as populações e com os utilizadores. Isso é a principal ambição.”

Em determinado momento da entrevista, Teresa Novais desvia-se do tema principal – o projecto em Mértola – para falar sobre a Bienal de Arquitectura de Veneza, que está a decorrer neste momento. A arquitecta menciona um artigo que leu no The Architects’ Journal, onde eram apresentadas duas opiniões divergentes sobre a bienal. Numa das posições, o arquitecto Patrik Schumacher referia que o evento iria acabar por se tornar irrelevante por “não mostrar nenhuma arquitectura”; mas outra pessoa expunha uma visão contrária, que, nas palavras da arquitecta, dizia o seguinte: “Vocês foram responsáveis – com os edifícios que fizeram e com a vossa prática – por afastar as gerações mais novas da arquitectura.” Para Teresa Novais, existe uma clivagem geracional que provocará uma transformação na arquitectura, mas ela acredita que essa mudança pode demorar décadas.

No final da entrevista, a arquitecta fala sobre o processo de trabalho que desenvolvem no próprio atelier e estabelece uma analogia com o universo literário: “[O nosso método] é como um livro que se está sempre a reescrever e que nunca acaba. (…) Estava agora a lembrar-me do livro do Italo Calvino: “Se Numa Noite de Inverno um Viajante”. É um livro (...), cujos capítulos nunca acabam. Existe sempre uma nova história, mas depois chega-se ao fim e cose-se tudo. E é esse o nosso método de trabalho, o nosso método de chegar às coisas.”

Para saber mais sobre a Estação Biológica e Galeria da Biodiversidade de Mértola e como o projecto potencia a identidade da região, ouça a entrevista na íntegra.

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