Ainda faltam 31% dos nadadores-salvadores nas praias

Região Centro é a mais afectada, com 36% dos profissionais necessários em falta, segundo a Federação Portuguesa de Nadadores-Salvadores.

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Matosinhos é um dos concelhos em que há nadadores-salvadores a trabalhar durante todo o ano Manuel Roberto
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Com a época balnear já a decorrer em pleno em quase metade das praias do continente, ainda falta contratar 31% dos nadadores-salvadores que seriam necessários. Os números são da Federação Portuguesa de Nadadores-Salvadores (Fepons) e resultam de um inquérito realizado aos seus associados esta quinta-feira. A região Centro é a mais afectada: em média, faltam 36% dos nadadores-salvadores que deveriam estar ao serviço.

Em comunicado, a Fepons lembra que a época balnear já arrancou em 209 das 422 praias de banhos marítimos do continente e também em 33 das 88 praias dos Açores e em 38 das 88 da Madeira. Só está mais atrasado nas “praias de banhos fluviais e lacustres”, onde só abriram 13 das 152 existentes.

O cenário, contudo, é de falta de pessoal para garantir a segurança um pouco por todo o país, embora com mais preponderância em algumas regiões do que outras. “Relativamente aos nadadores-salvadores ainda por contratar, na zona Norte a média é de 21% em falta, na zona Centro de 36%, na zona Sul de 33%, nos Açores de 19% e na Madeira de 33%”, lê-se no documento enviado às redacções. Feitas as contas, a nível nacional, a Fepons situa a falta destes profissionais em 31%.

A Fepons diz que esta situação faz com que algumas praias/concessões sejam “forçadas a permanecer fechadas devido à falta de nadadores-salvadores” ou por terem “um dispositivo muito reduzido”. Ao PÚBLICO, Alexandre Tadeia, da Fepons, não especifica que praias são estas, mas diz ter conhecimento “de alguns casos, na região Sul do país”.

E o problema, relembra, está longe de ser novo ou de ter uma solução à vista. “É um problema antigo e nós nunca conseguimos, a cada ano, resolvê-lo. Nunca há um número de nadadores-salvadores suficiente. Isto é uma bola de neve que tem vindo a crescer ao longo dos anos e estamos a chegar ao momento em que é impossível não ter impacto”, diz o responsável da federação.

A Fepons, mas também outras entidades, como a Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP), aponta várias razões para a pouca atractividade deste trabalho: as longas horas exigidas, num curto período de tempo (já que a maior parte das praias só tem vigilância durante a época balnear), sem incentivos adequados ou perspectiva de carreira. Num outro estudo realizado em 2020, a Fepons concluía que 49% dos jovens que tinham trabalhado como nadadores-salvadores não repetiram a experiência na época balnear seguinte.

E o facto de a actividade ser, sobretudo, praticada por estudantes contribui também para que o arranque da época balnear seja sempre acompanhado de um défice de nadadores-salvadores, já que os jovens só começam a trabalhar depois de terminarem as aulas, uma situação que tem levado também à contratação de muitos profissionais no estrangeiro.

A Fepons defende que este problema poderia ser ultrapassado se, a par de uma perspectiva de carreira e incentivos, a actividade passasse a ser anual e não sazonal. Esta já é uma realidade nos municípios de Viana do Castelo, Nazaré, Cascais, Almada e Albufeira, no continente, e também na Ribeira Grande, Lagoa e Ponta Delgada, nos Açores. “Bons exemplos, mas é preciso muito mais...”, defende Alexandre Tadeia.

Em Maio, a Autoridade Marítima Nacional admitia ao PÚBLICO que faltavam cerca de mil nadadores-salvadores para o que seria “normal” para o país. Até ao dia 10 desse mês, havia 4331 pessoas certificadas para exercer a actividade pelo Instituto de Socorros a Náufragos, quando o número desejado estaria entre os “5200-5500”. Este organismo acreditava, contudo, que o início das férias escolares iria contribuir para pôr fim ao défice, indicando que esta é “uma questão que geralmente deixa de ser levantada a partir do final do mês de Junho”.

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